quer como meio de enriquecimento do seu léxico no contacto com novas realidades e com populações das mais variadas origens, falares e costumes em todas as partidas do Mundo.

Foi assim que o românico idioma do extremo ocidente europeu se transformou, acrescido de novos vocábulos e novas ressonâncias, um instrumento comum de transmissão de sentimentos e de ideias e, por outro lado, contribuiu para o enriquecimento de outras línguas, como acentua o Dr. Jorge Morais Barbosa, em recente; e notável trabalho editado pela benemérita Sociedade de Geografia de Lisboa. Aí se nota que não é necessário ser-se linguista ou historiador para se saber que, desde as primeiras horas dos Descobrimentos, os governantes se deram conta da importância da língua como meio de integrarão cultural e política e como elo de ligação entre as várias parcelas do território pátrio.

Não foi outra, como também se refere naquela obra, a orientação seguida pela França, que uns seus territórios ultramarinos adoptou o francês como língua única permitida no ensino oficial e particular e na vida administrativa e forense. Só assim se atingiria a unidade dessas diferentes comunidades e se estabeleceriam condições de base indispensáveis aos contactos com o mundo civilizado e à promoção cultural das populações, muitas vezes fortemente pulverizadas e tribalizadas. Por isso, os próprios deputados africanos ao Parlamento de Paris se opuseram nos territórios que representavam ao ensino das línguas locais e calorosamente defenderam o da língua francesa como único processo de evitar a sequestração cultural e facilitar o acesso de todos aos primores da civilização.

Quanto a nós, não vejo como de outro modo seria viável a alfabetização e educação de base das crianças e adultos autóctones que, ao menos na província de Moçambique, ainda estão longe de receber na medida desejada a instrução fundamental e de aprender a falar a língua que cantou a penetração do Ocidente no Índico o aí deu testemunho, que perdura e perdurará, da sua, beleza e do seu poder congregador.

Isto sem prejuízo de se respeitarem, na medida do possível e do conveniente, as línguas locais, sempre que elas possam ajudar a apreensão da língua comum.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por outro lado, há toda a vantagem em proceder ao estudo a nível superior das diversas línguas ou dialectos de origem, cuja virtualidades e riqueza podem e devem ser aproveitadas, mormente nos períodos de transição, e em preservar, sempre que se não mostrem contrários à ascensão humana e social, os costumes e as tradições das gentes que se acolhem à sombra tutelar da bandeira das cinco quinas.

Há, de resto, que não esquecer as lições proporcionadas pela realidade esplendorosa da fixação e da expansão da nossa língua na terra de Vera Cruz, as quais, em muitos dos seus aspectos, mantêm plena actualidade. Triunfo tão amplo e profundamente conseguido no Brasil servirá sempre do estímulo e de bandeira para se levarem por diante os enormes e delicados trabalhos que temos à nossa frente.

Vozes: - Muito bem!

Recolhi, com vénia e admiração, estas magnificas e harmoniosas sonoridades orquestrais, naquele mestre da eloquência contemporânea brasileira, exactamente para realçar as excelências, as maravilhas, as potencialidades dessa língua lusitana, ao mesmo tempo "tumultuosa e imprevista", "macia e murmurante", "heróica, e gentil", "serena e augusta", que "entrou nos mares, desencantou

O mistério meridional, achou o Oriente ... e levou em si o impeto católico de Portugal".

Quanto, em 15 de Agosto de 1945, Júlio Dantes, esse glorioso artífice da palavra e extremo paladino da unidade da língua anunciou "a celebração da nossa paz ortográfica, precisamente na hora em que termina a maior guerra da História" pôde asseverar: "Não é sem comoção que, neste momento, proclamo a existência de uma só língua portuguesa, falada, em todas as partes do Mundo, por milhões e milhões de almas."

Graças à clarividente acção política e diplomática de Salazar. ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... deu-se, então, o passo indispensável para a eliminação de todas as divergências entre o vocabulário português de 1940 e o vocabulário brasileiro de 1943, o que equivalia à consecução da unidade efectiva do sistema, não obstante já ter sido assinado, entre os dois países, em 1931, o Acordo Ortográfico e, em 1943, a Convenção que consagrou a soberania da língua sobre os dois povos que a falam".

Nessa data histórica, regista-se mais uma retumbante vitória da fraternidade luso-brasileira e da identidade da língua, louvada nessa altura, na sessão da Academia das Ciências de Lisboa, por Ribeiro Couto, como "idioma de energia e doçura, portador de uma mensagem secular de civilização e de fé, que as caravelas de Gama e de Cabral levaram pelo mundo e a Divina Providência multiplicou por milhões de bocas".

Também nesta tribuna, quando, nos princípios de 1944, aquela Convenção foi aqui solenemente aprovada, exaltaram o acontecimento, com palavras trespassadas de brilho e significação, os Doutores Mário de Albuquerque, Juvenal de Araújo e Manuel Múrias - esse saudoso e indefesso lutador das primeiras linhas da causa comum -, e ainda o Dr. José Manuel da Costa, que, continuando nesta Câmara, até agora, a edificar-nos com o seu finíssimo espirito e o seu acendrado portuguesismo, já então ensinava que "a língua é perfeita expressão ideal e formal da comunidade ... e fundamento maior da Nação ...".

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esta rememoração ajudará, certamente a tornar mais nítida, actual e imperativa, na consciência de todos nós, a singular responsabilidade política e moral então proclamada na letra do tratado, nas, declarações dos governantes e nos discursos dos mais elevados expoentes da inteligência portuguesa. É que não lográmos, entre-