tanto - há verdades que importa dizer, por mais que isso custe - , fazer da nossa língua a voz de todos quantos podem orgulhar-se de ser portugueses.

Neste domínio, muitíssimo é ainda o que está por fazer. Árdua e longa caminhada continua a esperar-nos.

E não podemos queixar-nos, pois n Providência não tem sido avara - bem pelo contrário - no tempo que magnanimamente nos deu e vem dando.

Há, pois, que acelerar o passo. Há que rever e actualizar os métodos da acção cultural. Há que alertar todos para que tenham sempre presente o problema, no dimensionamento maior da sua extensão e das suas dificuldades, e se disponham a prestar a quem de direito cooperação válida e duradoura.

Os mais puros e constantes interesses da grei exigem de nós uma atitude, uma vontade, uma política, feita de princípios e de normas decerto, mas também de actos concretos, esclarecidos, fecundos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Política da língua, política da instrução e política da educação, bem unificadas no pensamento e no comando, aviventadas, dia a dia, pelos dirigentes em permanente consonância com a comunidade nacional e, aplicadas vigorosa e progressivamente, com salvaguarda dos legítimos interesses e das naturais diferenciações dos vários grupos populacionais que, integram e engrandecem a Pátria.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Cazal Ribeiro: - Sr. Presidente: Depois da magnífica oração do ilustre Deputado Veiga de Macedo, ninguém mais, hoje, devia usar da palavra, e muito menos eu, humilde Deputado, admirador de S. Ex.ª Mas estava inscrito, não recuo nunca, e sujeito-me, por isso, a que as minhas palavras ainda menos brilho tenham, e menos gosto ainda em ser escutado.

Ouvi atentamente a intervenção do ilustre Deputado por Moçambique Dr. Manuel Nazaré sobre a difusão da língua portuguesa no ultramar, e especialmente naquela província, que o ilustre avisante representa e donde é natural.

Hesitei em intervir no debate, pois escasseiam-me os meios de apreciação do trabalho apresentado, se bem que, pelo que ouvi e pelo que li, julgue do maior interesse para o fortalecimento da nossa presença em África, esse continente onde Portugal continua a difusão da língua que, através de todos os mares e para todos os continentes, foi levada pelo génio dos nossos descobridores e colonizadores.

E quando os problemas são levantados com isenção, patriotismo e o desejo indiscutível de se contribuir para a sua resolução, o que, mais ainda nos aproximará desses povos, que, fazendo parte integrante de Portugal, carecem ainda que para, eles se, olhe de forma especial, entendo ser obrigação de todos nós dar de uma forma ou de outra, o nosso contributo, mesmo modesto, como é o caso para a apreciação, em todos os ângulos, de um debate que se generalizou.

Habituou o Dr. Manuel Nazaré esta Câmara a ouvir e a meditar sobre alguns assuntos do maior interesse, e que, segundo ele, devem evoluir no sentido de tornar mais portugueses os portugueses de Moçambique. E assim, quer através do seu aviso prévio sobre o "Problema habitacional das classes economicamente débeis do ultramar", levado a efeito em 1 de Marco de 1966, quer da sua comunicação de 25 de Janeiro de 1967, versando o lema "Ruralato africano", o ilustre Deputado, antes do aviso prévio sobre a "Difusão da língua portuguesa", demostrou, a par de um conhecimento profundo dos problemas versados, um patriotismo límpido e indesmentível, uma noção claríssima das realidades, que não enjeita, antes pelo contrário, reconhece, corajosamente refere, apresentando sugestões, se não para a sua resolução imediata, para uma evolução que bem pode ser o primeiro passo para aquilo que todos nós desejamos: integrar o mais possível, no mesmo sentimento de portugalidade todos quantos constituem a bela, dispersa e grande Pátria Portuguesa.

Recordo-me aquando do primeiro aviso prévio acima referido, que subi a esta tribuna para dar o meu apoio à intervenção verificada. Embora por razões que não se prendiam com o aviso prévio da autoria do meu ilustre colega, conhecia, até certo ponto, o problema, e, como homem, chocara-me as condições em que viviam em Lourenço Marques, em pleno coração da cidade, alguns milhares de almas cuja situação piorava quando as condições climatéricas eram mais desfavoráveis. E o tufão Claude veio pôr a claro, de forma mais evidente, os meios precários em que viviam aqueles que no "bairro de caniço" sofreram as suas devastadoras consequências.

não têm de ser revistos quando obstam ao bem comum! Mas o que interessa é que não me arrependi, antes pelo contrário, intimamente me congratulei com a achega dada - se bem, repito, que a tivesse achado extremamente insignificante, em face da grandeza e da acuidade do problema.

Foi isso, naturalmente, que mo animou a usar agora da palavra ao ouvir o aviso prévio em discussão. Conheço a nossa África, melhor Angola do que Moçambique e melhor Moçambique do que a Guiné, mas em qualquer destas províncias, naturalmente mais numas do que noutras, verifica-se a necessidade de realizar o trabalho árduo e em profundidade de estabelecer, como denominador comum dos povos e das gentes que delas são naturais, a língua da Mãe-Pátria, a língua que deve ser de todos nós.