Tomé e Príncipe pode também legitimamente orgulhar-se do seu contribuiu na expansão da língua portuguesa, em outras províncias ultramarinas, nomeadamente, em Angola e Moçambique. Durante muitas dezenas de anos trabalhadores destas duas províncias foram contratados para, por períodos de três anos, trabalharem nas propriedades agrícolas de S. Tomé e Príncipe, sendo o português o veículo de entendimento entre as várias etnias que aí se juntaram e também o elo que unia todos aqueles portugueses de raças e falares diferentes.

O contacto com uma comunidade negra mais evoluída, o convívio diário com o homem branco e os hábitos de civilização que nas roças iam adquirindo exerciam benéfica acção sobre aquelas mentalidades primitivas, levando-os a aprender a língua portuguesa e a adquirir um grau de civilização que dificilmente conseguiriam nas suas terras de origem. Foram dezenas de milhares de angolanos e moçambicanos que levaram a S. Tomé e Príncipe a força do seu braço em favor da economia e prosperidade da província, mas a verdade é que esses trabalhadores levaram para as suas terras o dom inestimável de falarem uma língua que lhes abriu as portas da civilização e os projectou para fora do circulo fechado das suas etnias.

Ainda há quatro anos, visitando no Norte de Moçambique a povoação de Nacala Velha, encontrei aí um nativo da região que em tempos estivera em S. Tomé como trabalhador e me dizia, em bom português, ter saudades de S. Tomé por aquilo que lá aprendera.

Tomé a ensinaram aos filhos e aos netos.

Compreendi então a razão por que oram eles os mais evoluídos daquela região e compreendi ainda a razão por que não se tinham deixado subverter pela propaganda terrorista, e foram os primeiros a apresentar-se às autoridades militares quando estas lá chegaram.

Compreendi também ter sido a língua portuguesa a razão primeira da fidelidade daquelas centenas de portugueses pretos, pois ela, tornando-se veículo de entendimento entre brancos e negros, possibilitou uma convivência mais activa, um melhor conhecimento mútuo a uma maior fraternidade.

Tomei como lição este episódio e parece-me que, trazendo-o aqui, poderei elucidar muitos e levá-los a tirar salutares conclusões. Não podemos esquecer que, se o conhecimento da língua portuguesa abre ao português africano as portas, da ciência e da técnica, permitindo-lhe o acesso franco aos bens da civilização, ele é também um instrumento de integração política que favorece e estimula a coesão nacional. Dificilmente compreendemos como será possível sentirem-se verdadeiramente portugueses aqueles milhares de africanos nossos irmãos a quem o desconhecimento da língua impossibilita a assimilação da nossa cultura, o diálogo com o português branco e das outras etnias - diálogo que leva ao conhecimento mútuo, à estima e à compreensão e também à integração na mesma comunidade. Mas a verdade é que alguns milhões de portugueses de cor não falam nem entendem português.

Ternos de reconhecer, no entanto, a obra realizada pelo Governo, principalmente nos últimos anos, não só na difusão da língua portuguesa em todo o ultramar, mas também na alfabetização das suas populações em idade escolar. Ainda recentemente me veio parar às mãos o relatório das actividades dos Serviços de Educação de Angola referente ao ano escolar de 1966-1967, onde me foi grato verificar que o número de alunos matriculados no ensino primário oficial foi de 239 466. Não podemos deixar de admirar o esforço despendido pela província de Angola no sector da educação, ao sabermos que num período de cinco anos (1961-1962 a 1966-1967) a frequência escolar nos estabelecimentos oficiais de ensino primário da província passou de 77 596 alunos para 239 468. Estes números referem-se, somente ao ensino primário oficial, não incluindo, portanto, o ensino particular e o das escolas missionárias.

Seria injustiça não fazer aqui uma referência à obra realizada pelas missões católicas em prol da instrução das populações escolares que lhes estão confiadas. Obra grandiosa, gigantesca mesmo, se atendermos nos magníficos resultados obtidos, não obstante os parcos recursos materiais de que dispõem. Desde os primeiros tempos da evangelização das terras descobertas pelos nossos navegadores, os missionários portugueses, ao mesmo tempo que espalham a doutrina do Evangelho e a civilização cristã, igualmente difundem a cultura e a língua portuguesas. A fé e a língua portuguesa andaram sempre tão ìntimamente ligadas na evangelização dos povos que em algumas regiões do Oriente "cristão" passou a significar "português". O Estatuto Missionário, ao estabelecer em 1941 a obrigatoriedade do ensino e uso da língua portuguesa nas escolas missionárias, não fez mais que confirmar uma tradição que desde sempre foi seguida nas missões católicas portuguesas.

Na província de Moçambique foi confiado às missões católicas o encargo da escolarização da população autóctone nas áreas onde não existe o ensino oficial, sendo altamente apreciáveis os resultados obtidos. No ano escolar do 1966-1967 ascendeu a mais de 400 000 o número de alunos que frequentaram as escolas missionárias em toda a província, número altamente significativo para uma população de pouco mais de 6 milhões de habitantes. Sem querer fazer comparações, que quase sempre são odiosas, citarei somente o facto de na Diocese de Nampula, com uma população de 1 400 000 habitantes, terem frequentado as escolas missionárias, em 1966-1967, 127 051 alunos, dos quais 48 880 do sexo feminino; estes números fazem-nos ter fundadas esperanças numa rápida difusão da língua portuguesa e progressiva alfabetização das crianças daquela Diocese.

Não negando o muito que se tem feito, não podemos, contudo, ignorar o muitíssimo que há ainda a fazer no capítulo de instrução dos portugueses africanos. É um problema nosso, que ternos de encarar de frente, equacionado com toda a verdade, estudá-lo profundamente e procurar para ele as melhores soluções. Parece-me que é nas camadas jovens, que viram passar a idade escolar e com ela fugir a oportunidade de se instruírem, e nos adultos até aos 40 anos que o problema da difusão da língua e da alfabetização atinge maior acuidade e exige rápidas soluções. São justamente estas as camadas da população