Levantei-lhes o moral, e de vez em quando aparecia-lhes, falava com eles e aguentaram-se até ao fim da guerra.
Isto foi possível porque os compreendia e lhes falei na mesma língua.
E a amizade que de licam a autoridades administrativas que os compreenderam - embora fossem severas - e que se prolonga para além da morte?
Entre tantos, cito apenas um, porque morreu há mais do quarenta anos e ainda, hoje é citado reverentemente: o administrador Alves de Zavala.
São amizades de gente de alma pura, que se revestem de aspectos que comovem.
Já nos anus de 50, um dos ajudantes veio dizer-me que um indígena, de Porto Amélia me queria falar, mas só a mim podia dizer o que queria.
Mandei-o entrar.
Apresentou-se-me um homem novo.
Sou filho do Saide de Porto Amélia.
E o filho veio de Porto Amélia a Lourenço Marques, seis dias de viagem por navio, para cumprir a ordem do pai, de dizer ao governador-geral que tinha morrido um amigo, o Saide.
Era bem certo que o governador-geral era muito amigo do Saide, que o acompanhara, vinte anos antes, em longas horas de gasolina na costa de Cabo Delgado.
A prova, embora ao invés, fica irrefutavelmente, feita quanto ao elemento de amizade e colaboração que é a língua.
E é prova ao invés porque, neste caso a língua, foi uma língua nativa, uma entre as dezenas que se falam em Moçambique.
Não admite qualquer comprovarão de que a língua comum tem de ser a língua portuguesa.
Refere o aviso prévio dois aspectos de carácter "humano-político" - permita-se-me a classificação -, que merecem um apontamento.
A utilização da ânsia de aprender do nativo, que os comunistas utilizam para os atrair, e a presa que a estes oferecem os jovens africanos que deixam as suas terras pelos centros urbanos atrás de um sonho, e que nestes vêm a cair no vício e libertinagem.
O primeiro caso é perfeitamente conhecido, mas parece-me de apontar alguns pormenores que marcam o carácter e inteligência da acção comunista entre os nativos africanos no geral, que não apenas entre os nossos.
Os métodos usados pelos Mau-Mau no Quénia, em 1955, e pelos terroristas no Norte de Angola, em 1961, foram absolutamente iguais: violências revoltantes, particularmente contra mulheres e crianças, indistintamente brancas ou pretas.
Objectivo: levar o branco aos excessos das vinganças, criando um fosso entre as duas raças, e paralisar a massa negra com a força do seu poder.
Utilização do "feiticeiro", com a sua presa enorme sobre as massas negras.
Os dirigentes, em ambos os casos, treinados em escolas além "cortina de ferro". Kenyata viveu oito ou nove anos em Moscovo, e, tendo de lançar o movimento de dentro do Quénia, começa por uma rede de escolas, através da qual capta os seus adeptos.
Num e noutro caso, colaboração activa de feiticeiros a "santificar" os movimentos.
Indígenas do Quénia, obrigados a prestar o juramento Mau-Mau com a faca na garganta - literalmente e não um sentido figurado -, só se consideram desligados quando uns "superfeiticeiros", criados pelas autoridades, com ritual adequado, os libertam das juras feitas!
E é esta élite de criminosos, desafricanizados, que dirige (aparentemente, é claro) os movimentos pretensamente libertadores das massas africanas, com a simpatia, nem sempre bem disfarçada, de alguns dos nossos aliados da N. A. T. O. e do suave Sr. Thant.
Nas escolas que frequentam, o principal é a formação comunista-terrorista dos recrutados, que são previamente seleccionados pela sua inteligência e propensão para aceitar as ideias que neles pretendem instilar.
Tem havido casos em que, apercebendo-se do logro, se revoltaram e alguns conseguiram mesmo fugir e vir contar á verdade sobre o ensino naquelas escolas.
A formação dos quadrou dirigentes aparentes dos movimentos "pseudolibertadores" africanos. (Os reais mentores ficam na sombra como conselheiros culturais ou técnicos.)
Quanto ao caso dos jovens africanos que são arrastados para o vício e libertinagem, nos centros urbanos, merece referência especial pelo seu conteúdo de sofrimento humano.
O fenómeno não é apenas nacional nem restrito aos jovens negros.
Veja-se o que narra Jack London, no John Barleycoru, em que um jovem (o autor) sente até náuseas ao beber bebidas alcoólicas, mas bebo-as para parecer homem como os outros, depois passa a gostar e acaba no delirium.
Com o jovem africano o caso ainda é mais pungente, porque parte de um estado de maior inocência e está fora do seu meio, totalmente desamparado.
Peter Lanham, no seu livro Blanket Boys Moon, faz-nos doer o coração e como que sentir uma quota-parte de culpa pelo drama destas casos.
Desiludidos e revoltados, contra tudo e todos, são fácil presa dos recrutadores do comunismo, para "soldados de fileira" enquadrados pelos anteriores.
Agora um apontamento sobre a assimilação.
Não pode julgar-se dos resultados da assimilação através do número oficial de assimilados.
Havia muitos que. Satisfazendo as exigências, da assimilação, não requeriam o respectivo alvará e até alguns, tendo-o adquirido, o faziam desaparecer, voltando a pedir a caderneta de indígena.
Não se ufanavam da sua conquista? Certamente. Mas a medalha tinha o seu reverso. Como assimilados ficavam igualados em absoluto aos civilizados, sujeitos às mesmas obrigações, perdendo, portanto, a larga protecção que sob vários aspectos, desfrutava o indígena. Exemplificando: um patrão não pagava ao seu empregado indígena. Este levava o seu "tiquête" de trabalho ao administrador, que liquidava o débito, dos fundos da sua caixa, procedendo depois à cobrança, ao patrão, recorrendo às execuções fiscais, se necessário.
O indígena ocupava qualquer terra livre, e enquanto a ocupasse, por si e seus descendentes, ninguém o podia desalojar.
O assimilado, tal qual o civilizado, se era credor de alguém, tinha de recorrer aos tribunais, pondo a acção respectiva. Se pretende uma terra, requer a concessão pelas vias legais, com as demoras e despesas inerentes.