Perante a necessidade inadiável de fazer concorrer determinado tipo desse tráfego, como o tráfego pesado, para a Ponte da Arrábida, que, apesar do que se tem dito em seu desabono, já comporta um volume que não anda longe do da Ponte Salazar, e a progressiva remodelação dos transportes colectivos urbanos do Porto, não se vêem motivos poderosos que justifiquem a existência de uma estação de camionagem situada no denso aglomerado do centro da cidade.
O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Ex.ª consente-me interrompê-lo?
O Orador: - Com muito gosto.
O Sr. Pinto de Mesquita: - Venho acompanhando com o maior intende a feliz intervenção de V. Ex.ª sobre o problema das gares de camionagem previstas para a cidade do Porto, coordenado com o das respectivas rodovias. Penso que nesse problema se enxerta como elemento essencial o da Ponte da Arrábida, parte integrante da auto-estrada que tem actualmente o seu termo dentro da cidade, na rotunda em que concorda com a via rápida para Leixões. Insisto, como já tenho feito de outras vezes, que não é de aceitar o rígido critério mantido pela Junta Autónoma de Estradas em se definir essa via como auto-estrada no tramo a partir dessa rotunda até ao nó sul imediato à dita Ponte. Neste não deve deixar de estimar-se, a par da sua função de satisfazer o trânsito regional, o de dar ligações urbanas entre o porto de Leixões e Gaia, que atende funcionalmente hoje a um único agregado humano e económico. Está em esperança de realização a abertura do indispensável acesso do nó a sul da Ponte com o centro de Gaia, bifurcando-se para a zona portuária. Essa realização, que tanto ocupa a Câmara de Gaia, torna ainda mais instante o problema rio referido tramo de aquela rodovia vir a definir-se antes como de simples via rápida. Isto melhoraria o seu actual funcionamento, que muito limita as ligações entre as duas margens urbanas do Douro, e contribuiria para aliviar a sobrecarga por V. Ex.ª notada de trânsito na Ponte de D. Luís. Inscreve-se perfeitamente um tal esquema na autogare por V. Ex.ª sugerida a construir a norte da Ponte da Arrábida, na zona da sua influência.
O Orador: - Agradeço a valiosíssima contribuição dada por V. Ex.ª Embora esteja a referir-me a um aspecto do tráfego rodoviário na zona central da cidade, a verdade é que a solução preconizada por V. Ex.ª contribuiria decisivamente para o descongestionamento do mesmo tráfego. Terei o maior prazer em ouvir e aplaudir qualquer intervenção de V. Ex.ª ou do Sr. Deputado José Alberto de Carvalho, que tão ligado está ao concelho de Vila Nova de Gaia, sobre a ligação das duas pontes na margem esquerda do rio Douro.
Melhor destino deveria ser reservado ao espaço escolhido para a sua construção, como, aliás, entende agora - só agora! - o Município, e bem, inserindo-se numa zona verde as instalações adequadas para o estacionamento de automóveis e tornando possível, assim, um largo passo na solução do difícil problema do trânsito nas ruas centrais, que apresenta aspectos de congestionamento e desorganização, para os quais se vão ensaiando sem êxito as mais variadas experiências.
Segundo técnicos autorizadas, e louvo-me num estudo publicado na excelente revista Transportes, as estações de camionagem devem contribuir para a melhoria da circulação urbana, libertando-a dos embaraços resultantes do trânsito e estacionamento dos autocarros nas artérias congestionadas.
Ora, a verdade é que se a construção da estação de camionagem do Sul da cidade do Porto, no local escolhido, viria a libertar as vias públicas dos embaraços provenientes do estacionamento, devemos aqui deixar a nota de que o projecto da mesma estação prevê a existência de 37 lugares de cais e 44 de estacionamento, para um número médio de 310 autocarros entrados por dia em 1959, e hoje seguramente ultrapassado, segundo o organismo técnico do Ministério das Comunicações, os embaraços de trânsito manter-se-iam pelas razões apontadas respeitantes à capacidade da Ponto de D. Luís e das vias urbanas que lhe dão acesso.
Qual a solução, portanto, que obviasse aos inconvenientes apontados de uma forte densidade de tráfego de autocarros de transportes colectivos, não utilizando, ao mesmo tempo, os planos há muito estudados e não executados?
A de uma colaboração efectiva entre o Ministério das Comunicações e a Câmara Municipal, no sentido preconizado do se reservar a estação de camionagem do Parque das Camélias para as carreiras de pequeno curso, desviando-se as restantes para a zona da Ponte da Arrábida, na qual se construiria uma outra estação e reservada às carreiras de médio e longo curso.
Em resumo, e para terminar. Sr. Presidente, o essencial é que se dê uma solução rápida a uma questão que se arrasta há longos anos. com prejuízo da comodidade do público, da urbanização de uma cidade, que procura adaptar-se às necessidades dos tempos actuais, por vezes entravada ou demorada pela incompreensão, pela inércia ou pela incapacidade e do prestígio do Poder, sempre valorizado, quando os problemas são enfrentados com inteligência e decisão, como no encontro das rodovias da Cruz Quebrada.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Temos, felizmente, o óbvio na inteligência, na decisão, nas estruturas, nos executores. Mas esse óbvio não deve quedar-se inerte, antes se transporte para o realismo dinâmico das soluções políticas. E o caso que referi, é o caso das estações de camionagem de Lisboa, do Porto, de Braga, de Guimarães, de Tomar e outras previstas nos planos de fomento, o tal óbvio que existo mesmo, mas parece não existir.
O Sr. Duarte do Amaral: - Muito bem!
O Orador: - O que falta então? Creio bem que o Sr. Ministro das Comunicações, que nenhuma culpa tem deste estado de coisas, poderá responder, como responderá, certamente, ao caso do Aeroporto do Porto, denunciado por nós ainda há pouco tempo.
Tenho dito.
Vozes: -Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Presidente: - Vai passar-se à
O Sr. Presidente: - Continua o debute do aviso previu do Sr. Deputado Manuel Nazaré acerca da difusão da língua portuguesa em Moçambique.