É seu autor Bartolomeu Sacramento:

Agora que Já sabes o caminho

Criança de hoje, homem de amanhã.

Vem, não tropeces, eis aqui um guia.

Eu trago-te a luz do dia.

Uma luz pura. clara e sadia.

Vês, criança, lá ao longe, no horizonte,

Aqueles raios de sol tão brilhantes

Que se espalham cada vez mais radiantes?

Criança! Vês? Ergue bem a tua fronte.

Vem comigo, não hesites mais, criança!

Foge das trevas perturbadoras!

Escuta estas palavras consoladoras,

Que serão tua alegria e tua esperança

Eu sou o teu professor,

O teu guia, a tua luz.

Trago-te a mensagem de Jesus.

Recebe-a decidida e com fervor.

Todo o ódio, toda a discórdia,

Todo o mal repudiarás.

E, sobretudo, a Deus amarás.

A Ele pedirás misericórdia.

Menino, vês além aquela tempestade

Naquele fundo todo tenebroso?

Caminha comigo, mui cuidadoso,

Deixemos o abismo da maldade.

Agora que já sabes o caminho,

Avança e não voltes para trás.

Serás no futuro um homem de paz,

A todos levarás o teu carinho.

Sê uma criança cheia de certeza

De que nasceste em terra portuguesa

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Sérgio Sirvoicar: - Sr. Presidente: É justo reconhecer a utilidade e oportunidade do presente aviso prévio.

Pela generalização do debate cie permitirá que Governo e opinão pública possam colher esclarecimentos e aperceber-se da importância dos grandes problemas ligados à difusão da língua portuguesa em Moçambique.

E como não é ignorando ou fazendo silêncio sobre tais problemas que poderemos tentar a resolução deles, confesso-me, pela minha parte, grato ao Sr. Deputado Henriques Nazaré pela oportunidade que me dá de vir também falar sobre este assunto.

E presto homenagem à pureza das intenções que transparece da efectivação do aviso, sem embargo de o tom desta breve fala ser de discordância, como se vai ver.

Sobre o profundo desejo que todos temos de um dia poderem os Portugueses compreender-se na mesma língua e de que essa língua seja o português, julgo não haverá lugar a opiniões divergentes.

A aspiração é comum a todos os que sobre a questão se têm debruçado.

Mus, sobre os meios de a ver satisfeita, já não existe, é natural, a mesma unanimidade.

E é precisamente nesse campo que me proponho contribuir para que maior interesse por aqueles problemas seja e com ele as sugestões para os resolver.

Tenho pena de discordar de duas ordens de considerações produzidas pelo ilustre Deputado avisante, pois, uma vez que queremos ambos atingir a mesma finalidade, preferiria estar com ele plenamente de acordo.

Nada mais perigoso do que ideias generosas, ainda que bem intencionadas, postas a correr em homenagem a grandes princípios, se não tiverem em conta o sentido das realidades.

Assim, discordo, e discordo resolutamente da afirmação de que entre as políticas d u assimilação e de desenvolvimento diferenciado deve pôr-se de parte o sistema de assimilação, porque, segundo afirma o Dr. Manuel Nazaré, se não estou em erro, a política de assimilação não respeitava as culturas tradicionais e punha entraves ao seu desenvolvimento.

Em primeiro lugar, foi e continua a ser característica constante da administração portuguesa o respeito pelas culturas tradicionais das várias populações que tem acoitado viver em paz ao abrigo da soberania portuguesa, partilhando, no melhor e no pior, a sorte da comunidade nacional.

E nunca a assimilação foi, em linhas gerais, imposta, mas sim proposta, o que é bem diferente.

Acontece, porém, que as culturas tradicionais africanas, quando postas em contacto com a maneira de viver dos portugueses da metrópole, da índia ou de Gabo Verde, entram em decadência, não porque as sufoquem as autoridades, mas simplesmente porque abandonaram os seus portadores em favor da cultura nova que adoptam e gradualmente procuram assimilar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas isso não acontece somente entre nós. É um fenómeno social espontâneo, inevitável quando duas culturas de desigual grau de desenvolvimento entram em contacto.

Não há, pois, que contrapor política de assimilação e respeito pela cultura dos povos que constituem a Nação Portuguesa. Ambos podem coexistir. Na verdade, repito, a assimilação da cultura portuguesa tem-se processado, no longo e quotidiano contacto daqueles diversos povos, num clima de paz social assente precisamente no máximo respeito possível pêlos usos e costumes de todos eles.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Haverá, talvez, um pequeno mui entendido quando se diz que a promulgação de leis únicas para todo o território nacional foi instrumento da política de assimilação.

Pelo contrário, leis desse tipo ou pressupõem que a assimilação já se completou (como é o caso dos decretos que revogaram o regime do indigenato e operaram a equiparação no direito penal) ou partem do princípio nacionalista da igualdade de todos os cidadãos, isto é, negam a própria possibilidade de assimilação cultural como fenómeno com implicações sociais e políticas.

O que não chego a compreender é que se advogue o abandono de uma política, de assimilação coroada por magníficos sucessos, como Macau, Goa, Cabo Verde, S. Tomo e, em parte, certos núcleos urbanos de Angola, Moçambique, Guiné e Timor.