proficientemente dirigidos pela Estação Agrária de Ponta Delgada no cumprimento de um programa de sentido económico e social dos mais louváveis.

Encontra-se, assim, a ilha de Santa Maria lançada nos caminhos do progresso necessário, que levará tempo a atingir o grau desejado, mas que não deverá parar, pois quanto maior e mais difícil é o empreendimento em causa mais dura e inflexível deve ser a determinação de o levar a cabo.

Que falta ou o que mais falta fará neste conjunto?

Direi, mais uma vez, com a noção e a devoção às realidades, que falta o porto do Vila do Porto, à qual já chamam "Vila do Porto sem Porto".

Sem porto capaz, bem entendido.

Ora eu sei que, por motivos de ordem económica, não se justifica na ilha de Santa Maria a construção de um grande porto de mar à semelhança, por exemplo, do de Ponta Delgada.

Mas sei também que, tomando as razões de ordem económica na sua justa dimensão - a ilha de Santa Maria, depois das ilhas de S. Miguel e Terceira, é a que mais tráfego de mercadorias tem - e juntando às razões de ordem económica as razões de humanidade, a soma resultante obriga a ver que se deve dotar aquela ilha com o porto indispensável.

Vozes: - Muito bem!

Pois que se projecte e execute bem, mas que não se demore, nem o projecto definitivo, nem a execução completa. E, como ao fim de três anos se verificará a revisão do actual Plano de Fomento, que se prepare tudo de forma que a obra possa sor incluída e atendida como de direito merece e por justiça se requer.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Renovo, assim, esta minha velha e, afinal, nova solicitação, empenhando nela toda a veemência e consciência, confiado em que, desta vez, a firmo esperança ganhará a indiscutível certeza.

E não termino sem dizer porque é que as razões do remoto passado também entram nesta minha petição.

Sempre que chego à ilha de Santa Maria imagino aquela hora distante, mas invariavelmente sublime, em que os marinheiros de Portugal, animados de heróico alvoroço e de religiosa devoção, fizeram ranger a primeira âncora no primeiro fundeadouro e desenharam a primeira pecada no primeiro palmo de terra firme.

Imagino a primeira vela, a primeira quilha, o primeiro remo, a primeira palavra que cruzou o ar virgem e o primeiro homem que viveu e morreu ali, rezando em português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É que a ilha de Santa Maria tem o alto valor de um alto padrão e os verdadeiros padrões da nossa história merecem ser acarinhados e valorizados o mais que possa ser.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não afirmo que esto seja o argumento maior ou o mais decisivo, mas o que digo e sustento é que ele ó capaz de empolgar a nossa sensibilidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Nunes Barata: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Volto a um problema que já noutras oportunidades tem sido objecto das preocupações dos Deputados pelo círculo de Coimbra: o da restauração da Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra.

Uma primeira pergunta consistirá em saber se ainda haverá lugar para os estudos da teologia no mundo de hoje.

E, se aqui não é o local mais apropriado para lhe dar exaustiva, resposta, creio não ser despropositado repetir uma afirmação de Aranguren (in Sociologic l'Inforation):

A dialéctica do espírito assemelha-se a um drama em que intervém três personagens: em primeiro lugar, o metafísico, que formula as questões fundamentais que se põem a todo o ser humano; depois, o religioso, que, melhor ou pior, dá uma resposta; por último, o céptico, que não a aceita, a discute, vai mesmo ao extremo de negar não só a validade das respostas dadas, mas o próprio fundamento das questões poetas. O difícil e apaixonante diálogo, que faz entrar na lide estas três personagens e que muitas vezes não passa de um diálogo de surdos, seja qual for a posição assumida por cada um de nós, é o mais elevado que pode travar-se entre os homens.

Visto o problema na óptica dos grandes princípios em que se moldou, e pretendemos se desenvolva, a Nação Portuguesa, poderíamos neste momento repetir a afirmação de Paulo VI:

Onde falta Deus faltam também a razão suprema das coisas, a luz das certezas primeiras e o imperativo moral e irrecusável, sem os quais a ordem humana não pode passar.

Daqui também a justificação da teologia no quadro dos estudos universitários portugueses. Trata-se, por um lado, do uma presença da Fé no mais elevado cume do trabalho intelectual, de um contacto e colaboração com a investigação no seu mais alto nível, presença feita de vontade e capacidade de permanente diálogo. Abrem-se, por outro lado, novas oportunidades ao aprofundamento das ciências sagradas e o seu desenvolvimento numa expressão que, sem abandonar a maior exactidão doutrinal, se torna acessível ao homem contemporâneo.

Quando, em 1910, foi extinta a Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra, abriu-se grave lacuna na cultura portuguesa.

Não admira, assim, que o Senado Universitário de Coimbra, cm sessão de 22 de Janeiro de 1954, tenha aprovado e transmitido superiormente o testo de uma sugestão do conselho da Faculdade de Letras, onde se afirmava:

Ao passo que, por toda a parte, se empreende uma restauração e dignificação da teologia, verifica-se em Portugal, neste importante sector das ciências do espirito, a mais lastimosa decadência: nem possuímos institutos de altos estudos religiosos, nem centros de investigação histórico-doutrinária, nem revistas ou outras publicações da especialidade. Esta apagada e triste condição reflecte-se não só na ilustração do