O homem do Nordeste, o Moncorvense, fiou assim da indústria a salvação regional da anemia económica e da falta de emprego, perante uma natureza avara e agreste, recamada de fragadas e serranias. O minério daria para cem anos e valia milhões.

Ele era de teor não muito alto e fortemente silicatado.

Mas, no estado actual da indústria, a sílica pode ser desviada, só o fósforo levantando dificuldades. As concessões francesa e alemã tiveram os jazigos quase adormecidos e a nacionalização de uma delas abriu claros de esperança.

Constituída a siderurgia em 1956, abandonado Leixões pelo Marão, suplantado Alcochete pelo Seixal, Moncorvo foi isolado e sujeito a novos condicionalismos nas suas perspectivas:

1.º Um caminho de ferro, fortemente anunciado, do Pocinho a Vila Franca das Naves, com o arranjo simultâneo da margem sul do Tejo, em Coina e arredores;

2.º O Douro tornado navegável até ao Focinho, o qual alcança apenas, neste momento, o Carrapatelo, dirigindo-se para a Régua;

3.º Um transporte teleférico dos Carvalhos até ao Douro, só em projecto.

Estas são as condições de acesso à boca da mina, mas pelas quais até aqui nada foi feito.

Para que os minérios possam ser manobrados pelos concessionários hão-de gastar-se primeiro - segundo os informes oficiais - 5 milhões de contos em novas instalações, coquearias, acearias, novos fornos e numa indústria química no Seixal.

E como? Pela peletização para o Seixal e para a venda externa e também pela colocação no mercado internacional, aproveitando o frete de retorno. Não parece haver além disso, a ideia de fazer ali um centro siderúrgico.

Assim, o aproveitamento do Roboredo aparece agora distanciado no tempo e no espaço, depois de tanta esperança tornada ilusória, depois de cerradas várias perspectivas, depois de aproveitado elèctricamente o Douro e parte do Nordeste reduzida a perniciosa anemia.

Aproveitamento distante no subdesenvolvimento, e à mercê dos concessionários e dos siderúrgicos, pouco Meando ali, a não ser pela mão-de-obra mineira.

Moncorvo está cada vez mais longe.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não obstante o aviso prévio do Sr. Sousa Birne!

Não obstante a defesa do Sr. Alfredo de Brito, também aqui na Assembleia!

Não obstante o relatório do Decreto n.° 47 521, de 1967, que permitia o alargamento da produção siderúrgica, com base em Moncorvo!

Não obstante as declarações formais das entidades oficiais no I Congresso Nacional da Fundição!

Como estou bem lembrado, recordo-me que o Sr. Dr. Ulisses Cortês, o propugnador legal da siderurgia, me disse aqui, no hemiciclo, com a solenidade de agora, que o aproveitamento dos minérios do Roboredo era realmente o problema número um.

Estou bem lembrado.

O Sr. Ulisses Cortês: - E continua a ser em grande parte verdade. Louvo a memória de V. Ex.ª

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No mundo já se consomem minérios de teor de 25 por cento, quando o Roboredo os apresenta de percentagens superiores.

Siderurgia nacional?

Não o será ainda.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não o será enquanto os jazigos de Moncorvo permanecerem adormecidos e enquanto ali não houver um pólo de desenvolvimento, um centro siderúrgico, onde se possam trabalhar laminados finos ou outras indústrias.

É muito complicado importar coque e minérios para o Seixal e peletizar o de Moncorvo somente para exportação depois de consumir algo.

Não viverei muitos anos.

Mas só sei dizer que a hora da justiça parece não chegar. O subdesenvolvimento pesa sobre o meu berço como uma praga bíblica, e o coração e a inteligência dos homens não pareço despertar.

Esperar ainda! Esperar sempre! Esperar por cinco milhões de novos investimentos no Seixal é distanciar-se de nós ainda o que estava longe.

Ora esta quentão não põe apenas problemas de técnica, põe problemas de princípio e de encadeamento de leis que carecem de reexame e de afirmativas inabaláveis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Uma economia que avança com grande dinamismo, um empreendimento vasto em esforço criador, é uma força resolutiva que devo ter estrada larga, mas não dificultar os investimentos, alheios.

No último século o empreendimento evoluiu, passou-se da fábrica-estabelecimento à capitania industrial e da directoria na condução de negócios à fundação das maiores empresas.

Tudo isto se fazia pela expressão do poder económico, pelo arrojo dos empreendedores, e recorrendo às virtualidades da banca e do crédito.

Mas o Estado impôs-se a tarefa de fazer indústria sem ser industrial, de realizar fomento aproveitando iniciativas e recursos, aliando-se, sem se comprometer nos riscos e resultados. Foi generoso com a lei na mão, as proibições estabelecidas, as definições e legitimidades de interesses.

Teve que escolher e cortar, proteger e desproteger, ajudar e deixar ao abandono, mas a sua primeira função, uma economia de pleno emprego, consistiu em despertai-os recursos adormecidos, promover o trabalho e alargar a técnica.

Claro que a economia de expansão cria em muitos a ideia de que só há grandes onde há os menos grandes, os médios e os pequenos e a massa indefinida e cínzea dos que consomem.

Solidário nos grandes investimentos, comparticipante ou amparo, dispondo do poder jurídico, de nome e das leis, se ele está deve estar também o bem comum; é claro com os seus avanços o criações, mas também com a sua justiça.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A Câmara Corporativa figura no elenco da organização constitucional como uma vasta representação dos interesses sociais, da técnica e dos sectores em