E o Prof. Marcelo Caetano finaliza, com magistral equilíbrio e realismo:

O desejo sinceríssimo de um regime em que caibam todos os portugueses de boa vontade não pode, pois, ser confundido com cepticismo ideológico ou tibieza na decisão.

O Sr. Presidente do Conselho, que tão cuidadosamente ausculta os autênticos sentimentos do autêntico povo português, traduziu-os, com extraordinário poder de síntese e de exactidão, nestes tão breves como felizes traços:

. . . anseia, antes do tudo, por que se mantenha a independência nacional, a integridade do território, a ordem que permita o trabalho e facilite a aceleração do progresso material o moral.

E esta segurança nacional não poderia ser garantida sem um alicerce moral. Mas este alicerce seria demolido, se fosse consentido pôr em causa as realidades do espírito.

Portugal dispõe ainda de vastas reservas, na ordem moral, acumuladas em séculos. E o frasco, mesmo esvaziado do seu perfume, ainda rescende a ele. Mas ninguém acredita que indefinidamente ...

Sr. Presidente: Não posso pensar na língua sem pensar na juventude, e não posso pensar na juventude sem pensar na língua, como não posso pensar na Pátria sem pensar na língua, nem pensar na língua sem pensar na Pátria. A língua não pára, é espada que não enferruja. Mas estará a ser aproveitada para servir a Nação? E não estará a ser utilizada contra a Nação?

Não me detenho nos aspectos estéticos e formais (aliás muito importantes) da pureza, autenticidade e dignidade da linguagem: nos desregramentos ortográficos; nos atentados à lógica e à clareza: nos aleijões morfológicos; nas deformações sintácticas e nas deturpações fonéticas: "limitrofe", "autoctones", "unissono". "carácteres", "êxodo" . .. Sem falar nos "juniores", liberdade não poética mas fonética do desporto nacional, a marcar tónica uma sílaba anterior à antepenúltima.

Mais me preocupa o arrevesado do pensamento que o da frase, as ideias que os sons, os sentimentos que as palavras. Não deixarei, porém, de acentuar que os claudicantes não são apenas os alunos. Também professores e outros diplomados. Não poucos, destes e daqueles, pronunciam "periúdo" em vez de período o "exôdo" em lugar de êxodo. Com uns e outros afinam alguns emissores, ou os emissores com eles, pois ignoro quem merece a patente do invenção. E o mal vem de longe. Num dos seus discursos, disse o Presidente Salazar que tivera, diante dos olhos, uma folha inteira, de trinta e cinco linhas, escrita de um lado e do outro, por um universitário, e com a pontuação reduzida a um só ponto final, no termo da segunda página.

Mas nem por ser crónica, a doença pode deixar de ser combatida, porque não é incurável. E na planificação das medidas a tomar, nos objectivos como nos meios correspondentes, atenda-se a uma terapêutica específica. Mais profilaxia que terapêutica. Não seria de prestar maior atenção aos serviços de redacção e sobretudo de acentuação nos emissores de rádio? Um posto emissor, por insignificante que seja, é um professor com vastíssimo raio de acção, com tantos alunos que não caberiam em centenas de salas de aulas. Este auditório, na sua maioria, não sabe corrigir, sabe só seguir ... os lapsos de locução. Não se pede um técnico da língua para as estações de rádio, apenas maior atenção de alguns dos funcionários responsáveis.

Mais importante, porém, é não se olvidar a difusão da língua entre as comunidades portuguesas radicadas no estrangeiro. Sobretudo, não se descure a intensificação do ensino do português a todas as etnias da comunidade nacional. A língua irmana e comunica ideais. É um dos mais fortes elos de uma comunidade. Sem nada destruir, importa distribuir. Distribuir a todos, a todos os portugueses, um instrumento de entendimento e colaboração, de iluminação e de promoção social. Hastear, longe e ao largo ... e sempre alto, muito alto, o pendão da língua portuguesa. Não consitamos que se amarrote!, rasgue ou suje esta bandeira viva, que ondula nos quatro continentes e protege homens de todas as raças, símbolo da comunidade lusíada, pendão dos pioneiros do universalismo arauto de mensagem de humanidade.

Vozes: - Muito bom, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

Amanhã haverá sessão, à hora regimental, com a mesma ordem do dia.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Albano Carlos Pereira Dias de Magalhães.

Antão Santos da Cunha.

António Augusto Ferreira da Cruz.

Arlindo Gonçalves Soares.

Armando Acácio de Sousa Magalhães.

Armando Cândido de Medeiros.

Armando José Perdigão.

Artur Alves Moreira.

Duarte Pinto de Carvalho Freitas do Amaral.

Francisco José Cortes Simões.

Francisco José Roseta Fino.

Henrique Ernesto Serra dos Santos Tenreiro.

Hirondino da Paixão Fernandes.

José Coelho Jordão.

José Dias de Araújo Correia.

José Pais Ribeiro.

José Venâncio Pereira Paulo Rodrigues.

Júlio Alberto da Costa Evangelista.

Júlio Dias das Neves.

Manuel Henriques Nazaré.

Manuel José de Almeida Braamcamp Sobral.

Rui Pontífice de Sousa.

Sebastião Alves.

Simeão Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Alberto Pacheco Jorge.

Álvaro Santa Rita Vaz.

António Calheiros Lopes.

António Júlio de Castro Fernandes.

António Magro Borges de Araújo.

Aulácio Rodrigues de Almeida.