Tal como existem consultores urbanísticos, e também em outros sectores da actividade social, deveriam ser criados lugares de consultores linguísticos junto rias entidades responsáveis, sobretudo organismos sociais, para aplicação das regras de um sã linguística como infra-estrutura viva da Nação.

Deveria ser constituído um organismo oficial que, permanentemente, estudasse a adaptação conveniente à nossa língua dos termos, técnicos com que a onda de progresso técnico inevitavelmente nos submerge, e inclusive publicasse um vocabulário para corresponder a essa necessidade.

Que fosse assegurado o mais cuidadoso estudo da língua portuguesa nos graus primário, secundário e técnico do ensino, em todo Portugal, continental e ultramarino.

Sugere-se, fundamentalmente, a criação de um instituto oficial da língua portuguesa, que seria encarregado da defesa e da investigação dos métodos e técnicas de difusão da língua portuguesa no País (sobretudo no ultramar) e no estrangeiro, à semelhança do que existe em Franca com o Centre de Recherche et d'Etude pour la Diffusion du Francais.

Deveria procurar-se a simplificação e uniformização das ortografias portuguesa e brasileira, mediante acordo com o país irmão, a fim de se facilitar a aprendizagem da língua e a sua mais fácil difusão no Mundo.

Seria extremamente útil a difusão de lições de língua portuguesa, através da rádio, destinadas sobretudo no ultramar e estrangeiro.

Tendo em vista preservar a correcção da língua: Seria também útil a criação de lugares de assistente ou consultor de língua portuguesa junto da rádio e da televisão; Conviria que as publicações oficiais fossem revistas por professores de Português; Deveria permitir-se a revogação dos direitos de autor relativos a traduções de obras estrangeiras com graves incorrecções de linguagem, que tanto prejuízo acarretam à boa difusão da língua portuguesa, entre nós. E, como as obrigações implicam direitos. deveria ser assegurado um estatuto para os tradutores competentes.

Finalmente, solicitar-se que a esta nobilíssima tarefa se aliasse a imprensa, através dos jornais, revistas e outras publicações, com a dignidade e, o sentido crítico e construtivo que lhe são peculiares, e que poderia ajudar a afeiçoar a opinião pública, chamando a atenção para os desvios e corrupções de uma língua que é a alma de toda a nossa história e vínculo da nossa unidade planetária.

Sr. Presidenta: Para nós, Portugueses, que temos a responsabilidade de uma história maravilhosamente rica e singular, impõe-se, como dever inadiável e sagrado, o respeito pela língua comum, que representa a expressão viva da unidade histórica de um povo que, vindo das profundidades de oito séculos, caminha serenamente para um futuro promissor e imprevisível.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinto de Meneses: - Sr. Presidente: Sendo esta a primeira vez que subo a esta tribuna sob a presidência de V. Ex.ª, não ficaria de bem com a minha consciência se não afirmasse o meu muito elevado respeito, o meu enternecido afecto e grata admiração que de há muito mantenho por V. Ex.ª

Sr. Presidente: Está dito, e bem dito, que a unidade da língua portuguesa (unidade, evidentemente, no fundamental das normas sintácticas, da pureza do léxico, da ortografia, e da correcta prolação) é uma das expressões mais vigorosas da coesão nacional. Não era simples figura de retórica o asserto em 1922 de Afonso Lopes Vieira, que vou reproduzir:

Portugal vive de uma íntima força prodigiosa, que explica só por si a prodigiosa resistência da sua seiva: em todo o Portugal fala-se a mesma língua. Desentendemo-nos na mesma linguagem, e na evidente decadência em que tombamos, este elo do coesão espiritual é tão forte que basta para fazer-nos discernir por que ainda vivamos. Viveremos por obra e graça da linguagem.

Também está dito, e bem dito, que a mesma unidade no essencial é o vínculo que mais resistente e estreitamente prende os povos e nações que têm a honra de a falar. Dizia Joaquim Nabuco que tudo, no Brasil e em Portugal, poderia seguir destinos diferentes, mas uma coisa havia de ficar perpetuamente pro indiviso entre nós: a língua.

Daqui entender eu que devia ser obrigatório o debate sobre a defesa do nosso idioma, não com a injunção constitucional de se fazer todos os anos, como acontece com o orçamento e as contas públicas, mas sim de se fazer pelo menos uma vez em cada legislatura.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tal periodicidade despertaria a atenção geral para este sempre candente problema da preservação do nosso idioma, e auxiliaria as instituições e os educadores que se dedicam a esse árduo ministério. Desempenhava, assim, a Assembleia uma alta função de vigilância p animação na salvaguarda deste preciosíssimo bem, não por certo com propósitos e escrúpulos académicos, mas com o estímulo da sua autoridade política.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sendo a língua organismo em permanente evolução, é natural que sofra alterações e perdas, e registe, em compensação, novas aquisições. Seria estultícia e prejuízo querer reprimir a sua modificação lenta, mas incoercível. ou represá-la em moldes imutáveis, como se se tratasse de um código fixo a que os falantes de aquém e de além-mar se submetessem em rigorosa obediência sacramental. Porque a lei da natureza dita e impõe que, não obstante a opulenta riqueza vocabular e sintáctica do português riqueza tão opulenta que não houve nem haverá escritor tão sábio e operoso que consiga em sua vida conhecê-la e explorá-la, a inserção na vida de novas técnicas, de novas indústrias, de novas modalidades de recreio e cultura, e de muitas outras novas modalidades de pensamento e acção humanos, obriga-nos a adoptar novos, termos e formas de expressão. Daqui julgar eu que, se não é vã a querela entre juristas e inovadores, é pelo menos reprovável a obstinácia com que ambos os grupos ateimam em não ceder uma polegada das suas posições. A fala galgará, irreprimivelmente, as sebes ou valos que se lhe pretenda opor e aos homens, patriòticamente ciosos da sua pureza e correcção, só se lhes pedirá que abram e regulem as calhas por onde ela continue a derivar límpida e vigorosa; de tal modo que mantenha o seu sabor nativo, a sua clareza expressiva e a sua força orgânica, isto é, o seu núcleo