Todas estas condições são aleatórias ou perniciosas.
Não repousam sobre a existência de um nível de rendimento adequado, originado na exploração em termos suficientemente produtivos dos recursos nacionais, humanos e físicos.
Enquanto prevaleceram estas condições de inferioridade na capitação do produto, e sua má distribuição, não será possível satisfazer os justos anseios de uma população que vai procurar fora do País os recursos que não pode obter dentro dele.
O rápido aumento du volume e da capitação do produto interno é a chave mestra de problemas relacionados com grande número de aspectos da vida nacional, quer eles se refiram à promoção social, quer ao seu aperfeiçoamento físico e humano.
Não terá o País condições intrínsecas para acelerar o crescimento do produto interno? Acaso os recursos potenciais, por sua escassez, são insuficientes para obter média de capitação do produto igual, ou até superior, à média da capitação europeia?
O Icitmotiv da pobreza ecoava melancolicamente pelas quebradas e cerros do País, tão variado de panoramas majestosos e tão rico de tradições seculares. Era uma melodia plangente, rica de sentimentalismos, que se coadunava perfeitamente com os tropos de lirismo, obtidos sem esforço, tão do agrado nacional.
A preguiça mental inerente ao próprio conceito de pobreza minava sub-reptìciamente o esforço indispensável à sua verificação.
E todas as discussões e debates que fizeram história na política nacional se firmavam muitas vezes, no subconsciente, numa certeza que nunca fora reconhecida em termos claros e iniludíveis.
A situação interna, económica e financeira, com o andar dos anos parecia dar razão ao grito melancólico da pobreza e exercia pressão no sentido de adaptar o génio nacional à condição de existência mais do que modesta no contexto de povos afins.
Mas será o País pobre de recursos potenciais que lhe permitam nível de rendimentos mais de acordo com níveis de rendimentos de povos afins? Será o povo português incapaz de transformar os recursos que porventura existam em corrente equilibrada e contínua de rendimentos?
Não parece haver dúvidas já hoje sobre a existência de recursos potenciais adequados a um crescimento rápido do produto nacional.
A existência de minérios de ferro e outros e a energia foram considerados durante muitos anos como sendo o ponto de partida do progresso económico.
E aqueles países que souberam aproveitar estes recursos - os minérios, o carvão, a energia dos rios - formaram durante muitos anos na vanguarda dos países europeus.
Com o andar dos anos outros recursos desfilaram diante da imaginação ardente e empreendedora dos homens e constituíram o assento em que repousa a civilização actual. E a complexidade dos problemas económicos aumentou com este entrelaçado de recursos e relações que é apanágio maravilhoso do progresso das últimas décadas.
Ora Portugal possuía ferro, energia e outros recursos, em que se apoiava a economia do princípio do século, e o andar dos anos mostrou que dentro do solo continental e ultramarino há potencialidades que, com bem orientada exploração, poderiam e podem insuflar vida a uma economia debilitada por falta de fortes iniciativas utilitárias.
A pouquidão nos rendimentos gera um mau uso dos que existem. O paradoxo é que torna propícia a sua concentração. A desigualdade entre o usufruto de rendimentos - concentração excessiva nas mãos de poucos, e rarefacção nas mãos
de muitos - induz à decadência e atrasos no crescimento do produto interno.
Não é que haja mal ou bem na existência de escalões de altos rendimentos. Mas o produto depende dos consumos, e não é possível nível alto de consumos sem alto nível de rendimentos. O círculo vicioso de baixos consumos provenientes de baixos rendimentos exerce acção perniciosa no produto, Retarda-o. Induz um desfasamento que se manifesta em modestas taxas de crescimento e de capitações.
No estado actual da economia, o canalizar as possibilidades de rendimentos para empresas reprodutivas e o evitar que possíveis concentrações de rendimentos se apliquem em empresas que o não sejam são condições fundamentais de progresso económico.
E ainda se ignora a riqueza da integração de recursos de esquemas, como no caso das bacias hidrográficas dos rios.
A fantasia, a imaginação, ou um falso sentimento de utilidade e grandeza induzem a gastos pouco úteis, e muitas vezes a escolha do que se deve executar com investimentos escassos é subordinada n princípios ou ideias que se não coadunam com a produtividade ou até com exigências imediatas e prementes.
Diz-se que é necessário pagar a experiência. No mundo actual, o que há a fazer entre nós já foi experimentado