que, ao longo dos séculos, ergueram esforçadamente uma pátria, votada a um ideal colectivo de civilização o expansão, em que Vasco da Gama toma, de facto, lugar incomparável, quer na arrojada empresa que levara a cabo, quer, simbolicamente, narrando ao sultão de Melinde a história dessa mesma pátria.

Saibamos nós repetir a repercutir que naquele encontro de dois mundos se alargaram as dimensões da Terra e do homem, que naquele diálogo de raças e povos que se desconheciam se iniciava uma nova era para a humanidade e que toda a história subsequente daí havia de decorrer nos seus mil corolários!

Saibamos nós, portugueses do século XX, que temos nas veias o mesmo sangue, captar tudo o que possa traduzir o sentir daquele punhado de heróis que, após mais de dez meses de viagem em boa parto "por mares nunca dantes navegados" e percorridas milhares de léguas, via naquele radioso dia de Maio de 1498, diante dos seus olhos, as almejadas costas da Península Indostânica.

Saibamos captar e traduzir toda aquela carga emocional, agora que os muros da Pátria estão a ser cobiçados c minados o assaltados por interesso de povos e gentes que vem do oriente e do ocidente e saibamos transmiti-la bem intacta e viva a quantos defendem a nossa cidadela.

Se a essa fracção da juventude, que parece aplicar o melhor das suas energias em arruaça e protestos, quase sempre inspirados ou dirigidas do exterior, sobejar algum tempo para meditar e pôr os olhos em exemplos como o de Goma, que aos 21 anos, e apenas, com 150 homens de equipagem assumia o comando da reduzida armada que havia de tornar maior o mundo daquele tempo, atices de milhares de milhas desconhecidas e com os meios de que então se dispunha, talvez que algumas das suas atitudes fossem diferentes e certamente que bem mais favorável se apresentaria o futuro de todos, o futuro de Portugal.

Lembrar Vasco da Gama há-de ser o rememorar do toda uma época em que, sendo os portugueses tão poucos para tão grandes tarefas, cada um tinha de valer por mil!

E isto no mar ou em terra, diante dos elementos em fúria ou diante dos inimigos do toda a parte! E isto na dilatação da fé ou no rasgar dos conhecimentos científicos!

A essa fracção da juventude, que já não crê e já não quer, lembro, a este propósito, a famosa asserção do piloto que de Melinde orientou a Armada à índia: "agora a ciência e a arte vêm dos francos", que é como quem diz, dos portugueses! E lembro-lhes, este testemunho escrito na época, por um árabe, inimigo tradicional dos portugueses, para vincar melhor o sabor, a força e o poder que advieram da seriedade, da persistência e da intensidade dos estudos de Sagres.

Vasco da Gama é a síntese de Sagres, a personificação da coragem, a medida da audácia e é o símbolo do que persiste! Que a juventude, que quer saber em verdade progredir em paz e agir com êxito, retenha este símbolo que pela, boca do poeta narra epopeias e é ele próprio epopeia!

Gama partira, em quatro pequenas naus, com 150 homens: eram insignificantes as forças, rudimentar a palamenta, gigantesca a tarefa. Assim mesmo chegara à índia. Chegara com os, efectivos reduzidos a 2/3, e regressam à Pátria com 1/3 Perdera capitães, pilotos e soldados, perdera até o sen próprio irmão, mau regressara.

Vinha vitorioso de uma longa, tenaz e dolorosa batalha em que os inimigos eram o mar, os homens, o desconhecido, a doença e as privações! Batalha começada oitenta anos antes, nos sonhos generosos de um sábio príncipe, que, em tímidas incursões no mar Tenebroso, desfizera lendas, abrira caminhos insuspeitados e acrescentara o espaço vital da humanidade.