o modesto depoimento que hoje trago a este debate, descolorido ou apoucado de forma, limitado nas suas ambições, carecido, e bem carecido, de riqueza de conteúdo.

O Sr. Elísio Pimenta: - Não apoiado

O Orador: - Falece-me qualidade para mais o nem me sobra o tempo requerido para a reflexão que exige repousos.

Modesto depoimento é o meu, repito, já pelas razões infundadas, já por outras que nem importa referir. Só tem si distingui-lo o sinal da sinceridade: vai ditá-lo já a lição colhida no magistério da leitura, já a certeza radicada no espírito a partir de todo o momento em que escutei a mais autorizada e qualificada voz da nossa terra.

É a minha uma geração, a dos anos trinta, que foi educada na leitura de páginas selectas, recolhidas na obra dos nossos escritores, que conquistaram, por seus méritos, consagrado posição de clássicos. Aí, e mais do que a beleza da forma, afiançada ao rigor e à clareza da expressão, aprendíamos a bem prezar a língua portuguesa como instrumento de difusão da doutrina que sempre foi o princípio e o fim das gerações que se sucederam e mergulham raízes em tempo bem recuado: aquela doutrina que ensinou o homem português a comportar-se, obediente a uma posição de verticalidade, no mundo do seu tempo, já, de princípio, debruçado nesta ocidental janela da Europa que se abro sobre o Atlântico, já e por força do destino que Deus lhe reservou, presente em qualquer dos lugares de além, vencidas na latitudes e as longitudes, esses lugares que ele descobriu, desbravou e cristianizou.

Complementar dessas leituras do banco da escola era aquela que nos ofertava, no remanso do lar, para além do livro do armário da casa, a folha periódica aí recebida todos os dias ou em cada semana. O artigo repousado, a crónica - aligeirada e amena, a breve e simples notícia, ainda o formulário de actos notariais e outros também do foro da comunicação oficial ou oficiosa, tudo obedecia à regra ditada por aqueles que bem conheciam a nossa língua, logo na sua origem como na evolução a que a submeteu a lei do tempo. Apartando-se do pormenor que define um estilo, todos se irmanavam aí, confundindo-se, no respeito pela gramática. Assim o autor do artigo ou do abreviado comentário, assim o cronista como aquele a quem cabia, obediente a um formulário, redigir qualquer diploma.

Na peugada de um Eça - grande, extraordinário escritor, porém, dobrado no que tange de perto com a pureza da língua mãe, diante de estranho falar - vieram os galiciparlas . Já o fundista, já o cronista, já o comentador, deixou de ser redactor de gazetas, para se chamar jornalista. E o mesmo autor daquelas circunstanciadas memórias de sucessos do dia a dia, que escreve ao serviço dos leitores seus contemporâneos e compõe, simultaneamente, fontes de informação para o futuro, esse não é já conhecido como autor das portuguesíssimas relações, nascidas no período meridiano da Restauração, mas sim como redactor de reportagens, pelo que lhe chamam repórter. Com isto não pretendo adiantar um só passo para além do limite estabelecido em obediência a uma natural evolução da língua. Natural e necessária, na medida em que pode vir a enriquecê-la. Mas pretendo, sim, anotar que estranhas influências até nos podem sujeitar à adopção de palavras de que não carecíamos, pois que outras d e igual significado havia já no nosso léxico.

Não falta aí quem acuse a imprensa - e assim a radiotelefonia e a radiotelevisão - do feio pecado de concorrer para o abastardamento da língua portuguesa. Pois

em meu juízo o que cumpre é conhecer dos fundamentos de qualquer erro, voluntário ou involuntário, já na redacção, já na ortografia, já na pronúncia. O que cumpre é procurar a origem dos males apontados, de preferência a recriminá-los. E interroguemos, então, assim:

Cumpre a escola o seu dever quando chamada à responsabilidade de instruir no particular do ensino da nossa língua?

Cumpre o Estado o seu dever quando chamado a dar exemplo através dos textos que divulga?

Dispenso-me de arrolar tais exemplos - são de todos os dias . . . -. porque eles, grande infelicidade a nossa, repetem-se vezes sem conta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E logo nas circulares dimanadas das secretaria de Estado e de toda a vez que se ordena a organização de um dossier, como não bastasse a classificação bem portuguesa de processo, e ainda de toda a vez que não se atende à regra da concordância do sujeito com o predicado. E logo em todo o diploma ou simples despacho que implica a referência a classificações de natureza técnica, esquecendo-se então que também há na língua portuguesa a palavra adequada para exprimir uma simples definição divulgada através de outra língua.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não precisamos do o constatar, como também para ai se diz. O que temos, sim, é de o reconhecer, para deveras o lamentar.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E assim na varanda do quartel do Pópulo. na Braga Augusta, quando aí proclamou que não discutimos Deus, nem a Pátria, nem a Autoridade, nem a Família, nem o Trabalho.