impregnação, de vacina e amparo incomparável na utilização correcta do idioma materno.

Sr. Presidente: Isto apontado, encaremos aspectos de outra face hoje candente do problema: a que aqui foi aberta pelo aviso prévio do Sr. Deputado Dr. Nazaré - a da promoção da nossa língua nas províncias do ultramar. Não se trata já do simples intercâmbio de vocábulos que constituem, em feliz reciprocidade, àquilo que o saudoso Hipólito Raposo qualificava de tatuagens da nossa língua! As orientais palavras, "quiosque", "pagode", "leque", "chá", "banzé", "chapim" e tantas que desde as descobertas enriquecem a nossa língua e a que já se poderão acrescentar, por exemplo, as moçambicanas "saguate", "manamuca" e "inibindo".

Quero referir-me ao problema instante do ensino do português aos portugueses nativos que o ignoram e que com a difusão da nossa fé entre aqueles a que ela se mostrem receptivos, constituirá o problema máximo da sua indispensável promoção cultural lusíada.

As traves mestras da nossa soberania ultramarina terão de ser sempre, na hierarquia ascendente dos valores terrenos, para além da base territorial: primeiro, a do sangue que o infante D. Henrique definiu no início das Descobertas e Albuquerque consagrou na índia: segundo, o da língua, meio de interligação e fie unificarão indispensável, entre tão diversos territórios, com tão variados idiomas, como aqui tem sido versado: estão a culminar, finalmente, na expansão da nossa fé cristã quando possível, e, pelo menos, na da aceitação monoteísta de Deus.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pelo que respeita ao veículo indispensável de uma língua comum, como consegui-lo através da nossa em trabalho intensivo que urge fazer?

Salientou-se já quanto caminha aqui na metrópole, criar organismos superiores que assistissem, promovessem e policiassem a defesa do idioma.

Pelo que respeita ao ultramar, onde os problemas criadores se adiantam aos da simples defesa não seria às suas prometedoras Universidades, através sobretudo das suas faculdades de Letras, que tal sector devia estar afecto?

Quer dizer: os idiomas em que se exprimem terão de começar por ser traduzidos foneticamente para a nossa língua.

O segundo tempo será o da alfabetizarão dos educandos.

Ora tudo isto em correspondência com uma mentalidade de faculdades condicionais, como vimos, qualquer que seja a avidez de quantos para mais ampla cultura.

Quer dizer: a língua portuguesa que tem de começar a ensinar-se terá de ser reduzida ao essencial no seu vocabulário e ad máximo possível na sua simplificação sintáctica, para, sem deixar de ser português puro, se lhes tornar assimilável porventura segundo as próprias condições dos idiomas do origem, terá que algo se ajustar a estas.

Mormente quando se trate em separado de Moçambique, de Angola ou da Guiné.

Nisso serão estes aspectos novo campo de acção utilíssimo a que as mas Universidades terão de se votar?

Não está na ordem do dia das reformas universitárias tornavam-se estas, a par de decentes órgãos de investigação?

Não constituiriam tais actividades campo experimental de investigação científica, que além da sua utilidade nacional, alto poderia prestigiar a ciência portuguesa quanto à linguística, em paralelo com o que no campo da medicina tropical temos conseguido?

Dependentes o orientadas pelas futuras Faculdades As Letras, não cumpriria criar adequadas escolas normais donde saíssem professores suficientemente adestrados para tão especializado mister?

As lições a colher dos missionários em se ter entregue devotadamente a tão árduo mister além das colhidas pelos poucos professores, leigos neles empenhados, como até pela paralela experiência do passado no Brasil, devem para tanto constituir precioso recurso.

Como ponto de partida para tudo isto não conviria àquelas Universidades começarem por ir levantar a carta geográfica linguística das ditas províncias.

Subsequentemente e num espírito de promoção gradual dos educandos nativos, não seja aspecto a encarar o da tradução do português literário dos nossos escritores para um português base a definir em termos que progressivamente pudessem ir assimilando!

Não competiria precisamente a essas novéis Universidades estudarem e proporem a definição desse português simplificado, mas correcto?

O ilustre Sr. Deputado que me precedeu na tribuna o qualificou, e muito bem de português fundamental. Estas são sugestivas reflexões que me parece haver oportunidade se formulem no âmbito deste aviso.

Resumirei quanto de mais importante enunciei nas seguintes conclusões: quanto à metrópole, regresso do ensino elementar de latim ao curso geral do liceu, como base indispensável de um ensino eficiente, do português; quanto ao ultramar, formulação de um português base, meio do ensino e de alfabetização dos nativos, além do veículo de entendimento entre os seus idiomas, tudo promovido descentralizadamente através das respectivas Universidades.

O Sr. Duarte do Amaral: - V. Ex.ª dá-me licença!

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Duarte do Amaral: - V. Ex.ª pretende que volte-o latim aos liceus por causa do português básico.

O Orador: - Precisamente. Para atenuar os riscos do português básico, carece-se, mais do que nunca, no ultramar da defesa da estrutura da nossa língua na metrópole: ora as deficiências no estudo do latim enfraquecem as possibilidades do estudo eficiente do nosso idioma.

Isto tudo porém, deve ser alimentado, Sr. Presidente, sobretudo pela impregnação de textos atraentes e só no estrito indispensável pela indigesta gramática, que geralmente só começa a ser de aceitação gostosa para os de mais de 40 anos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador foi cumprimentado.