os olhos do povo aquilo que mais necessitava de se mostrar, e com ela e por ela todas as meditações virão e n língua ficará mais rica.

Vozes: - Muito bera!

O Orador: - Sr. Presidente: Ao escutarmos os ilustres Deputados intervenientes, chegámos à conclusão de que todas as intervenções se caracterizaram por um denominador comum que assenta precisamente no mínimo tão completamente indicado na justificação do aviso prévio, mínimo esse que não sofrendo da parte desses ilustres colegas qualquer contestação, foi substancialmente ampliado. Podemos, pois aduzir que há matéria suficiente para tirar válidas conclusões.

De tudo o que ouvimos é-nos lícito afirmar que sendo a língua um inapreciável valor espiritual e fundamental instrumento de cultura e uma determinante de unidade nacional, deve ser motivo de especial atenção de quem governa. Na verdade, a pureza da linguagem é a base de uma cidadania, e a sua pobreza em vernáculo afasta das fontes originárias e conduz ao sentido da desunião. Levado por uma tendência, que é muito peculiar entre nós de imitar, o Português vai introduzindo na sua linguagem vocábulos estranhos que deformam a sua expressão e confundem o sentido da própria linguagem, a qual desta maneira abastardam, desnacionalizam e submetem.

A linguagem, uma língua nacional, é precisamente a expressão do espírito de um povo e por ela se avalia da sua evolução e da sua grandeza. Quanta vez acontece que encontrando-nos em terra estranha, somos identificados pelas pessoas cultas como sendo da terra de Camões, unidade estabelecida entre linguagem o nacionalidade bem reveladora do sentido que é atribuído à língua nacional como expressão das grandezas, do espírito e dos feitos de um povo. Essa é a razão por que através dos escritores, nós identificamos os períodos históricos, os caracterizamos pelo seu espírito e pelas suas realizações, ou até conseguimos determinar as nacionalidades e as características dominantes dos povos. É a língua o documento de toda a vida de uma nação, dos seus períodos de glória, como dos seus períodos de confusão, das suas crises, como das suas paragens, dos momentos d e inspiração, como dos momentos de desânimo e de dor mas é-o somente quando se exprime na sua vernaculidade. Se esquecermos, se abandonarmos, as regras da linguagem e abastardarmos o seu vocabulário, não seremos mais nós próprios, não saberemos pensar à nossa maneira, e na facilidade e na cedência perderemos as nossas qualidades e não nos encontraremos, e então ficará perigosamente justificado o aviso de Afonso Lopes Vieira:

Em Portugal precisamos du reaprender quase tudo. Entre tantas coisas, de reaprender a falar. Somos de alguma sorte um povo na infância. E depois de termos descoberto o Mundo, devemos ir à escola para que nos ensinem o b-a-bá da vocabulização.

Este aviso, que vem já do século XVII e que hoje quisemos levantar nesta Assembleia, pela actualidade que tema nos nossos dias preocupa também as nações da velha Europa, ameaçada pelo maior mal que a poderia ler invadido e que se baseia fundamentalmente no receio da sua desintegração. Este facto tem na desnacionalização da língua-mãe uma das suas razões, o que levou os governos a tomá-la na sua maior consideração. Assim, a Inglaterra procura avaliar a extensão do problema, e em estatística realizada pode verificar-se que de 2000 estudantes universitários submetidos a teste, apenas 30 por cento souberam definir o vocábulo "síntese", verificando-se que, na maioria dos casos, a linguagem por eles empregada é incoerente, e reflecte um pensamento emaranhado e pouco claro. Na França o facto também se verifica, preocupando o Governo, de tal forma que julgou conveniente recomendar aos seus funcionários que não devem corromper, abastardar ou de qualquer forma maltratar a língua materna, evitando, tal como deve ser dever do comum dos Franceses, o uso abusivo de palavras de origem anglo-saxónica.

No dizer de Pompidou, e como tal dizer se enquadra tão bem no nosso panorama, o francês de hoje vai à "Le drug-store" para tomar café ou almoçar um "beef-steak". Passa a tarde lendo o ultimo "best-seller", depois de tomar "Le five-oclock" com a sua tia favorita, e não está a ver na televisão o "Speaker 9". Sai da cidade para "Le weeke d" ou assiste a de football".

O desfeiteamento da sintaxe, que é muita vez consequência do desconhecimento do significado dos vocábulos empregados, o abastardamento desse vocabulário e a corrupção da linguagem, são uma das primeiras ameaças que comprometem o futuro e significam preocupador declínio das capacidades intelectuais, de esforço e de bom senso. Essa língua popular que os gramáticos, clássicos puseram um voga está a perder a sua frescura e a sua inocência, substituída por uma sintaxe preguiçosa e um vocabulário eivado de frequência estrangeira, que poderá conduzir à desintegração da língua nacional.

Certamente que esta preocupação não atinge a formação clássica de neologismos que enriquecem a língua e lhe dão a expressão necessária para se actualizar e admitir vocábulos que o desenvolvimento e a técnica criam por força das descobertas e do progresso mas afecta o uso exagerado de vocábulos franceses, italianos e anglo-saxónicos que dominam o falar da nossa juventude.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Um outro aspecto que ocupou as sessões foi o da minusculização

Buscados numa justificação estética, é vulgar vermos a utilização das minúsculas na escrita dos numes próprios e de todos aqueles que o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro determina que devem ser grafados com letras iniciais maiúsculas. Infringe-se desta maneira uma lei (Decreto n.º 35 228, de 8 de Dezembro de 1945, em nome da arte ou do gosto estético, o que não só carece de razão, como ainda e susceptível de controvérsia, pois que sendo o gosto estético de carácter subjectivo, é passivo de discussão individual. A generalização de um determinado