Por enquanto ainda não há penúria de mão-de-obra liem salários muito altos na nossa indústria têxtil, e, desde que seja convenientemente amparada, poderá, durante muito tempo, continuar a ser a nossa primeira actividade industrial. Não há dúvida de que o Governo, com as medidas agora tomadas e que se vêm juntar n outras já anteriormente concedidas, tem estado atento às principais dificuldades do sector, embora à gestão empresarial caiba grande parte da responsabilidades do êxito ou inêxito das suas Empresas. Mas para mantermos a nossa indústria actualizada e competi th a 6 necessário que acompanhe a constante evolução da técnica, o que exige quadros à altura das responsabilidades. Aqui é que me parece existir uma das grandes lacunas da nossa indústria têxtil e que de forma nenhuma se poderá imputar às empresas - a insuficiência qualitativa o quantitativa dos seus quadros técnicos.

Não é muito compreensível que num país com uma indústria têxtil onde trabalham 140 000 e mpregados e operários não exista um único instituto industrial que forneça à respectiva actividade técnicos têxteis do nível médio. Os poucos que existem ou são estrangeiros ou portugueses que se foram especializar à Franca, Suíça ou Inglaterra, o que implica pesado dispêndio para as empresas e que nem sempre é garantido como investimento intelectual.

Por isso pedi há já dois anos a criação, nos distritos de Braga e Castelo Branco, principais centros das indústrias de algodão e lanifícios, de dois institutos industriais, onde se formariam engenheiros técnicos têxteis, que tão necessários são à nossa indústria, como no despacho conjunto dos dois Ministros se acentua.

Mas, se, porventura, as despesas com a criação desses dois novos institutos são vultosas e incomportáveis pelo nosso orçamento, neste momento, já o mesmo não sucederá, certamente com a criação de cursos têxteis nos Institutos industriais de Coimbra e Porto, igualmente bem localizados e este com um e splêndido edifício recentemente inaugurado pelo Sr. Presidente da Republica.

Sabendo que dos investimentos feitos no ensino e na investigação só a longo prazo se vêm a colher os respectivos frutos, daqui faço o meu apelo, novamente, ao Sr. Ministro da Educação Nacional para que a satisfação desta premente necessidade de um dos mais importantes sectores da nossa economia seja satisfeita sem demora.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Cazal Ribeiro: - Sr. Presidente: Com menos heresia, pois o lugar não era sagrado, mas não menos cunho subversivo que a vigília da noite de fim de ano na Igreja de São Domingos, facto por mim assinalado nesta Assembleia no passado dia 10 de Janeiro, realizaram-se em várias cidades do continente umas tantas sessões comemorativas da revolução republicana de 31 de Janeiro de 1891, a primeira intentona armada dos adversários do regime então vigente.

O País, saído da crise resultante do Ultimato de 11 de Janeiro de 1890 encontrava-se submerso por uma imensa onda de indignação provocada pela humilhação a que nos submetem a Inglaterra, nossa secular aliada. Mas, à sombra do movimento patriótico a que aderira a própria família real, o monarca devolvera a condecoração da Ordem do Banho à rainha Vitória: avolumara-se a especulação política, El - Rei D. Carlos, no trono havia apenas quinze dias, era a vítima inocente de uma intensa campanha antimonárquica. A notícia do suicídio impressionante do explorador Silva Porto envolto na bandeira nacional, ante os vexames por nós sofridos em África, mais excitara os unimos populares e entusiasmara os chefes republicanos, que julgavam chegada a sua hora. E a única pessoa que podia, perante a afronta sofrida, simbolizar a unidade portuguesa, os seus direitos históricos e a sua tradicional glória era a primeira vítima escolhida para alvo dos insultos e das calúnias dos inimigos do regime. A ofensiva era contra o rei, vilipendiado pelos seus detractores, o contra a monarquia, tão mal servida por alguns monárquico!

Na manhã de 31 de Janeiro, um ano mais tarde, no edifício da Câmara Municipal do Porto, algumas tropas, conduzidas por uns tantos sargentos e tendo à sua frente apenas três oficiais, cuja patente mais elevada era a de capitão, proclamaram a República. Um actor leu à população, excitada pela propaganda e pelos acontecimentos, o nome dos membros do governo provisório. Içara-se a bandeira verde - rubra e entoara-se em coro a Portuguesa.

Em grupo, subiram a Rua do Santo António, onde eram esperados por uma força da Guarda Municipal. Soaram tiros: o pânico foi enorme. Tiros isolados responderam à descarga da Guarda Municipal. O cortejo recua e refugia-se na Câmara, onde é cercado pelas forças fiéis no Governo. As 9 horas da noite terminara a revolta, cuja comemoração agora se verificou. Dezanove anos mais tarde, em Lisboa, proclamava-se a República, perante a passividade da maioria dos monárquicos e o espanto dos republicanos, um dos responsáveis, julgando gorado o movimento, suicidara-se. A revolução de 31 de Janeiro, porem, entrara na lenda, tornando-se indispensável, pois, enaltecer e recordar os seus heróis. Foi o que sucedeu, mais uma vez, há poucos dias atrás: E ninguém poderia levar o mal que tal acontecesse se, ao abrigo da cerimónia, não fosse evidente o tema da subversão.

Dentro de uma ideologia política inteiramente respeitável embora dela se

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Todos sabem que uma minoria, sabiamente explorada e actuante, pode sobrepor-se à maioria, desde que esta não esteja vigilante, coesa e devidamente preparada e comandada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Eu não pretendo, Srs. Deputados, que sejamos nós, os que nos encontramos do lado de cá da