Para os que tem acompanhado a actuação do Dr. Agostinho Cardoso nesta Câmara, o trabalho agora apresentado corresponde ao que nos habituámos a esperar dele: preocupação insistente pelos problemas sociais da actualidade portuguesa e desejo, bem generoso, de encontrar para os mesmos a melhor solução. Por tudo isto o felicito e me honro de ter requerido a generalização do presente debate.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: A importância da estrutura etária de um país e as perspectivas da sua evolução futura tudo constituiu matéria de alto interesse político, social e económico.

Ouve-se com insistência que os governos dependem, em boa medida, da idade das suas populações. Estas podem condicionar a sorte dos pleitos eleitorais segundo a mentalidade das gerações dominantes. Por outro lado, os governes, colocados perante as estruturas etárias, vêem-se obrigados a adoptar políticas impostas pelas suas exigências.

Se uma população se revela fundamentalmente jovem, maiores terão do ser os cuidados com as políticas de instrução e educação e, consequentemente, mais elevadas as verbas a despender no sector do ensino. Se a proporção dos adultos se acentua, redobradas atenções exigirão as políticas de emprego. Finalmente, o peso dos velhos conduzirá a uma descapitalização resultante dos encargos da segurança social ou dos serviços de saúde e assistência.

O fenómeno do envelhecimento da população é talvez a realidade social mais importante do mundo moderno, embora muitas vezes escape imediatamente à consciência de cada um de nós. O calendário demográfico da sociedade tradicional era bem diferente do da sociedade industrial. Então "a morte estava no centro da vida, como o cemitério no centro da aldeia". Hoje a morte é um incidente tido por contrário à natureza da vida humana, que "é necessário não só combater, mas ainda minimizar e dissimular".

Talvez nesta sugestiva imaginação de Fourastié nos apercebamos da realidade de duas épocas:

Pelos rins do século XVII, em França, e naturalmente por todo o Mundo, a vida de um chefe de família normal, casado aos 27 anos de idade, poderia resumir-se nestes termos: nascera de uma família de cinco filhos, dos quais apenas metade chegaram aos 15 anos; ele próprio foi pai de circo filhos, como o seu progenitor, tendo igualmente assistido no falecimento de dois ou três deles. Este homem chegai a, em média, aos 52 anos. Era um venerável ancião, que contava entre as suas recordações o ter assistido, na família directa, à morte de nove pessoas (sem considerar, portanto, os tios, sobrinhos e primos), entre as quais se cultiva apenas um dos seus avós (es outros três tinham morrido antes do seu nascimento), os dois pais e três dos seus filhos.

Hoje, o homem médio, dobrados os 60 anos, atinge os 65, 70 ou até 75 anos, "preparando-se mesmo para chegar em breve aos 80. Quando tem 50 anos pode re ver-se neste passado: nascido numa família de três filhos, casou-se aos 20 anos tom uma jovem de 24 anos. Tiveram dois ou três filhos. E de recordações lutuosas apenas evoca o passamento dos seus quatro avós, que, valha a verdade, idosos como eram, não deixaram, na hora da partida, a imagem de nina ruptura dramática, mas antes um sentimento de libertação esperada, quando não desejada. E este homem, com 50 anos, olha com optimismo o fu