suspeições ou críticas desvirtuadoras do seu real sentido. Quem reclama dentro de tais moldes, seja qual for a natureza da reclamação ou a entidade a quem se dirige, ou a tribuna donde o faz, exerce sempre um direito, que só pode ser contestado nos factos em que assenta, e nunca em si mesmo, como faculdade de utilização discricionária que é. E mesmo que não haja direito ou interesse efectivamente ofendidos, mas apenas ofensa aparente daqueles, uma simples iminência ou desconfiança de um estado de perigo, ainda assim, a reclamação, mormente no nível em que nos situamos, é sempre meio pertinente e útil para se obter a aclaração das razões de determinado status que afectante deste ou daquele interesse, deste ou daquele sector de actividade em que se gerou o mal-estar ou sofreu o prejuízo.

O que dito fica não é susceptível de contestação.

Não obstante, geralmente, os Poderes, seja qual for o seu nível ou o paralelo em que se exerçam, não gostam de que se reclame, nem gostam de quem reclama.

São incómodos os que reclamam. Dão trabalho nas explicações a que obrigam, pois quase nunca interessa o que julga, nem o que pensa, o reclamante em face do que já foi superiormente dado como certo ... Embora mal, é este um entendimento muito generalizado entre nós.

Ora o facto de se não duvidar de que o Poder, quando se debruça e quando decide, tem sempre em vista o interesse nacional - aqui o Poder é sinónimo de Governo -, não quer dizer que o mesmo seja insusceptível de errar, pois o acerto das medidas tomadas afere-se, não pela convicção unilateral de que se satisfez o interesse visado, mas pelas reacções públicas que a sua aplicação origina - de se louvarem quando satisfatórias; reclamáveis e criticáveis quando suscitem reparos e queixas atendíveis, ou que o não sejam, caso em que, não obstante, haverá sempre vantagem em se conhecerem para que se possa esclarecer os que reclamam e contestam o seu acerto.

Sr. Presidente: Não sei corno, público. Talvez devesse começar por me congratular e por agradecer, apesar de a Administração-Geral dos Correios. Telégrafos e Telefones, cujo timbre se ostenta no papel em que a nota se apresenta dactilografada, me não ter agradecido o serviço prestado no sentido de lhe haver facultado, mercê da minha iniciativa, a bela oportunidade de «esclarecer» e «rectificar», em termos de desmentido, o que através deste órgão da soberania lhe chegara pela voz de um representante do povo, eleito para o representar nos seus interesses e dar conta dos seus anseios e inquietações, função em que nunca pensou poder ser confundido com um vulgar «propagador de boatos», como tristemente se entendeu na nota tão precipitadamente elaborada com base nos relatos necessariamente incompletos do Diário de Noticias, de O Século e do Diário da Manhã e aqui chegada alguns dias depois de ter sido publicado o Diário das Sessões desta Assembleia!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Digo tristemente porque, como se infere da nota, a Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones parece ignorar que os Deputados não propagam nunca boatos. Quando os referem, do que é exemplo flagrante a neta, pelo contrário, estão a contribuir como devem para o desanuviamento do estado de ansiedade e inquietação que aqueles geram. Estão, consequentemente, a colaborar, pelo que permitem à Administração de uma atitude esclarecedora e pacificadora face às perturbações verificadas e lhes cumpre levar ao seu conhecimento para que tome as medidas convenientes no sentido de evitar o seu recrudescimento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mais. Quando o Deputado intervém, mesmo que o faça influenciado por um boato que corre, a atitude do sector ofendido com a sua propagação, ao contrário da verificada por parte dos C. T. T., deve ser de agradecimento pela oportunidade que lhe foi dada de se lhe opor, e não de enfade, como que a sentir-se tocado na sua honerabilidade e omnisciência, certo como é não deverem, nem poderem, ser suspeitos de tais propósitos os ilustres Deputados, como o Governo igualmente empenhados em servir a Nação. Além de que, no caso sub judice, o chamado «Deputado propagador» só incidentalmente se referiu ao falado aumento das taxas, que de nenhum modo constituiu o fundo da sua intervenção, muito outro, a cujo trato a nota se furtou e se concretizava num reparo aos serviços telefónicos, geralmente mal reputados, cada dia mais caros, exactamente como o disse:

... a encarecer e a servir pior, estranhamente, tanto mais quanto mais se dilatam as redes e as instalações, quando não no aumento das taxas, em que já se fala, na incontrolável escrituração das chamadas e contagem dos períodos, que temos de aceitar como certa, embora o não esteja, e somos sempre obrigados a pagar como no-lo impõe o poder coercivo do serviço explorador.

Assim mesmo. Tal como consta do respectivo Diário das Sessões n.º 162, de 15 de Janeiro próximo passado, que para os devidos efeitos aqui se dá como inteiramente reproduzido e melhor poderá fundamentar segunda nota, pois a verdade é que a primeira não satisfez o Deputado interveniente - nem quanto à forma, nem quanto ao fundo - e, ao que parece, nem a Câmara, nem o público, que mais interessava esclarecer e ficou como dantes ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Continua, pois, de pé o essencial.

Porque o essencial não é discorrer sobre o que já era sabido no tocante à transferência para o Estado dos