Provenientes, na sua quase totalidade, da Madeira e do Norte do País, são esses portugueses actualmente tidos como elemento indispensável ao progresso da Venezuela, pelo seu espírito de trabalho, honradez e comportamento exemplar.

A sua acção nota-se na agricultura, na indústria, no comércio, etc.

Poderíamos afirmar que a produção e fornecimento de produtos agrícolas à cidade de Caracas está nas suas mãos.

Na indústria, ocupam os portugueses posição de relevo, fabricando e montando carroçarias para automóveis, na construção civil, etc.

Não descurando o ensino e expansão da língua portuguesa, mantém a colónia um suficiente número de escolas onde esse ensino é ministrado.

Quanto ao comércio, são portugueses na sua quase totalidade os donos dos supermercados, padarias, etc.

A colossal cadeia de supermercados Central Madeirense, pertencente a portugueses da Madeira e que actualmente conta com nove enormes e luxuosos supermercados em Caracas, supera em número e qualidade, a cadeia de supermercados C. A. D. A., pertencente ao milionário americano Rockfeller.

Vários outros existem, e todos os seus proprietários têm mostrado sempre grande capacidade de trabalho e tacto comercial.

A todos esses portugueses, sem distinção, que longe da Pátria a honram e prestigiam, presto, como Deputado da Nação, a minha homenagem amiga e sincera.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

fortável da vida espanhola e em ocasião não muito cómoda na vida de relação entre os dois países vizinhos.

Ele era então o Ministro da Educação Nacional da Espanha e eu apenas um humilde professor que ia tomar conta da cátedra de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade Central de Madrid, cátedra já existente no nome, sem cadeira nem alunos, mas erigida na alma mater madrilena pela instância cio embaixador Pedro Teotónio Pereira - esse extraordinário embaixador de Portugal em Madrid - e com a alvoroçada e consciente aceitação do Ministro Ibanez Martin. Nada direi à Câmara das dificuldades dessa missão, todas resolvidas pela diligência do Ministro, mas tenho o dever de salientar que desde o dia primeiro dos nossos contactos o Ministro quis sempre ser o patrono da cátedra recém-criada e o amigo, o conselheiro, o irmão, daquele modesto professor que na Universidade de Madrid-Alcalá ia procurar ser uma voz portuguesa junto da juventude universitária espanhola. E a cátedra lá está, efectiva e viva, como sempre desde o seu início se desejou!

Ibanez Martin foi sempre um dos mais directos, e creio que dos mais dilectos, colaboradores do Generalíssimo Franco; foi um dos mais competentes e audaciosos ministros da Educação Nacional de Espanha; foi o fundador desse espantoso viveiro de cultura e de ciência que é o Conselho Superior de Investigações Científicas; foi presidente do Conselho de Estado, e ao seu curaus honor um, alcançado com tanto trabalho e brilho, ele não desdenhou de acrescentar, antes o fez com vincado entusiasmo, a representação do seu país numa pátria que para ele era verdadeiramente irmã, não no lugar comum tantas vezes artificioso e falso, mas na verdade do seu coração de homem, na sua profunda consciência de católico, na compreensão exacta do nosso espírito político, na admiração de quem entre nós conduzia, com firmeza e serenidade, uma atitude diplomática tão conveniente e necessária a Portugal como à própria Espan ha, enfim na sua esclarecida personalidade de espanhol que soube sempre ver, sem óculos foscos, esta inviolável realidade de que para sermos irmãos precisamos de ser dois, e, sendo dois, não necessitamos de ser iguais para nos amarmos e nos compreendermos.

Possivelmente alguma vez, no exercício e no espinho da sua actividade diplomática, terá tido de defender interesses divergentes dos nossos - não sei, porque não vivo nos arcanos da diplomacia nem na roda das embaixadas -, mas sempre o VI leal e fiel à sim amizade por Portugal e, o que é mais, compreensivo, pela inteligência e pelo coração, desta invencível certeza da nossa individualidade peninsular, da nossa consciência ultramarina, das diversidades da nossa cultura e de um ecumenismo espiritual de acento próprio que nem sempre se nos reconhece, mesmo lá onde ele pode ser, por igual, fonte de vida e alicerce de resistência.

Posso assegurar à Câmara que se despede de nós um amigo verdadeiro, e, se temos muitos, nem sempre eles têm a coragem de o ser sem se importarem de o parecer.

Recordo agora, com sentida comoção, a solicitude verdadeiramente amiga e desinteressada com que o Prof. Ibanez Martin acompanhou a doença do Presidente Salazar, e, se desse modo ele exprimia o seu sentimento pessoal, certo é que, ao mesmo tempo, queria significar a comoção que em todo o povo espanhol causou essa dolorosa hora histórica portuguesa, pois nunca o povo espanhol esqueceu a solidariedade de Salazar nos seus amargos momentos da guerra civil, nem a clarividência do estadista português nas dramáticas incertezas dos primeiros anos da II Grande Guerra Mundial. Nem comunismo nem nazismo, inimigos paralelos da consciência peninsular.

Estou em dizer que ninguém teve, destas circunstâncias, uma tão inicial, clarividente e constante compreensão como D. José Ibanez Martin, e a nós, que o sabemos, ficar-nos-ia o remorso de o não ter assinalado nesta Câmara, pois ela tem de ser o reflexo do pensamento e do modo de sentir do povo português.

Regressa à sua pátria, depois de uma acção laboriosa e bem cumprida, um homem que nos amou e compreendia em todas as horas da sua vida privada e pública; despede-se um embaixador exemplar, mas não se perde um amigo excepcional, e é precisamente ao amigo verdadeiro que eu quero trazer, perante a Câmara, a minha homenagem, na convicção de que os Srs. Deputados me