invocados pelo Prof. Dorland e resumidos e comentados pela pena de Ferreira Deusdado:

Galileu passava dos 70 anos quando fez os seus maiores descobrimentos; com a mesma idade, Tintoretto pintava o Paraíso; Ticiano, Vénus e Adónis; Verdi compunha o Othello e o Falstaff; Goethe acabava o segundo Fausto; Meyerbeer escrevia a música da Africana. A Ética, de Confucius; o Juízo Final, de Miguel Ângelo; o Parsifal, de Wagner, o Dom Quixote, de Cervantes; os dramas mais célebres de Ibsen, são obras de sexagenários.

E - se quiserem também apelidar de velhos os homens entre os 50 e os 60 anos - com essa idade César compõe os Comentários e corrige o calendário; Kepler inventa a tábua de logaritmos; Morse, o seu alfabeto; Hegel edifica a sua filosofia do Universo; Velázquez pinta Inocêncio X; Verdi compõe Aida; Wagner, a Tetralogia e os Mestres Cantores.

A velhice é a idade madura da razão, fase em que esta brilha, com todo o seu esplendor. A velhice dá a sobriedade nas conjecturas, a circunspecção nos juízos e a unidade no plano.

Cícero dizia que todo aquele que sofre tem memória. A memória dos velhos também é feita de sofrimentos e de desenganos E o que eles recordam pode servir para evitar a dor da desilusão ou, o que é melhor, para evitar o erro de viver em erro.

É preciso combater pelo respeito devido aos velhos. Alojamento, assistência, recuperação, emprego compatível. Sim, tudo e o mais que em tais domínios puder contribuir para o bem fim da longa vida. Mas a batalha pelo respeito que se deve aos velhos é uma batalha indispensável e tem de ser uma batalha de todos os dias. O autor deste aviso prévio bem o proclama, avisadamente: «Há que reavivar o respeito» que se dedicava aos velhos.

Sr. Presidente: Em tempos - e como vai longe o tempo! - visitei algumas vezes um velho prestigioso que passava os últimos dias da sua vida amarrado a uma quase total invalidez. Havia sido um orador fluente e brilhante, tão brilhante e tão fluente que as palavras lhe saíam da boca como diamantes lapidados. Conservava a lucidez do cérebro e o olhar intenso.

Outro velho prestigioso, que também conheci e visitei com o maior respeito pela sua avançada e atormentada idade, e ainda pela eloquência de que também fora dono e senhor, quando era mais novo, ao referir-se àqueloutro ancião no declínio do seu mundo, traçou com as cores do seu verbo admirável este quadro, que merece ser reproduzido:

E, como prova final do seu extraordinário afecto pelos humildes e desprotegidos da fortuna, este facto singular; nestes últimos tempos do seu sofrimento enorme, aguarda com ânsia, em cada manhã, a carícia apetecida do pequenino (...) de 3 anos que ele mandara recolher do desconforto e da miséria e que todos os dias lhe vai levar, como uma bênção - ao calvário da sua dor -, um beijo de inocente.

É o fio da luz de uma aurora que desponta a banhar a face sombria e triste de uma noite que tomba...

Pois eu queria que a mocidade fosse toda assim, reconhecida e respeitosa; que estimasse muito a experiência dos velhos e os rodeasse de todo o carinho, para os banhar de alegria moça.

Os velhos sentem o cansaço da longa jornada. É preciso proporcionar-lhes em amor a recuperação que merecem e de que carecem.

A velhice é uma lareira onde as brasas vão esmorecendo uma a uma. É preciso avivar as brasas para que o sentido da vida que vive ainda se prolongue no sentido da vida que vai morrer.

Façamos tudo para que o caso da velhice seja um caso menos doloroso, menos só, menos triste, menos sombrio.

Os jovens são os herdeiros do halo da velhice e têm de ser o penhor e a garantia da continuidade da sua mensagem espiritual. A própria velhice é, em si mesma, um incitamento à juventude para que ela faça por caminhar bem e caminhar longe.

São os jovens, naturalmente, os mais capazes de aquecer os poentes da velhice com os fulgores da aurora da vida - como aquele amoroso pequeno de tenra idade que todos os dias beijava o ancião seu amigo e lhe ia iluminando a face, a ser tomada pela noite, com a luz do seu doce amanhecer ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

A Sr.ª D. Maria de Lurdes Albuquerque: - Sr. Presidente: Ao subir à tribuna pela primeira vez nesta sessão legislativa, desejo prestar a V. Ex.ª as minhas homenagens. E peço o favor de transmitir ao Sr. Prof. Mário de Figueiredo os meus sinceros desejos para que S. Ex.ª sinta rápidas melhoras e para que tenha um completo restabelecimento.

Sr. Presidente: Nesta Assembleia de representantes da Nação, diversos assuntos têm sido trazidos à consideração das entidades responsáveis e para o conhecimento dos portugueses, por meio de avisos prévios ou em intervenções antes da ordem do dia. Nesta sala, onde se cruzam vozes de manifesta ansiedade, apontam-se problemas existentes, sugere-se e solicita-se a quem detém o Poder que sejam estudadas e procuradas as soluções.

O problema da política da velhice, tão oportunamente focado num valioso trabalho, fruto de um dedicado estudo, pelo Deputado Agostinho Cardoso, deve dar àquele Sr. Deputado uma enorme satisfação ao verificar que esta Gamara o aceitou para um largo debate, prova da importância de que o caso se reveste. Vozes que me antecederam manifestaram já o alto apreço pela forma como o Deputado avisante se debruçou nesta matéria de tão elevada justiça. Desejo associar-me, com a maior sinceridade, nesse aplauso de que é merecedor o Dr. Agostinho Cardoso.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Na sociedade moderna, em que a vida se processa num ritmo acelerado e as realizações se avaliam por uma óptica material, outros valores são tantas vezes relegados! Bem certo é que nem só de pão vive o homem, e, não podendo desligar-se do espírito, procura corrigir esse mal dos nossos tempos, que tão profundos e nefastos efeitos vem causando.

O progresso técnico e a industrialização dos países, que absorvem, grandemente, pessoas até à meia idade, criaram, em relação aos idosos, um sentimento de despreocupação e até se foi ao ponto de se considerar a velhice como um fardo pesado. Esqueceu-se, em parte, o muito que é devido aos velhos. Toda a atenção tem sido dedicada à criança e ao jovem, por estes representarem o futuro. Mas que é desse futuro sem uma visão retrospectiva e o