Direi mesmo que começa por ser problema de educação, pois não pode considerar-se civilizada uma sociedade que não sabe respeitar a velhice e assegurar-lhe condições de vida digna e serena. Problema de educação ainda porque aprender a envelhecer, saber envelhecer, é garantia de um final de vida tranquilo e feliz. E essa tranquilidade e esta felicidade poderão estar muitas vezes na aceitação livre e consciente, e até alegre, das contingências, das provações e dos sofrimentos que acompanham e engrandecem a velhice.

Por isso, nestas tarefas de consciencialização colectiva e de prevenção e nas da preparação física, psicológica e moral das pessoas para que aceitem a sua idade, hão-de colaborar, além da Igreja e do Estado, as instituições e os organismos com atribuições pedagógicas e sociais, sem pôr de parte as entidades que dispõem dos meios especiais de comunicação e divulgação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É neste plano de acção que devem, de modo particular, inserir-se a assistência religiosa, o serviço social e as actividades culturais e recreativas que ajudem as pessoas idosas a manter ou a reencontrar o rumo do seu destino, a fim de que não se sintam tentadas a abastardar-se, a desistir ou a perder o ânimo.

É altura de se fazer alguma coisa de útil neste sentido, recorrendo ao funcionamento de centros de convívio, de clubes e bibliotecas para pessoas idosas e organizando manifestações culturais e recreativas, embora devam evitar-se situações que conduzam a uma separação indesejada e indesejável.

Para concretização destas iniciativas, julgo que será possível, em muitos casos, assegurar a deslocação das pessoas de idade aos centros de convívio ou a sessões, reuniões e quaisquer outros actos sociais a programar periodicamente com a participação dos interessados.

Aqui está outro objectivo, já em estudo no que respeita aos pensionistas por invalidez e velhice, cuja execução implicará íntima cooperação das caixas, e, em especial, da Caixa Nacional de Pensões, com o Instituto de Obras Sociais.

Sublinhe-se que, por seu turno, este Instituto tentará aproveitar a colaboração dos jovens e, sobretudo, dos seus 4000 bolseiros, entre os quais se contam os filhos dos reformados por invalidez e velhice nas condições previstas no concurso de bolsas de estudo, que não perderão a oportunidade que se lhes oferece para reverenciar e estimular os velhos trabalhadores, auxiliando-os, comunicando-lhes a sua alegria e contribuindo para o desenvolvimento de modalidades de acção social isentas de qualquer espírito de segregação, antes inspiradas por nobres impulsos da vontade e da sensibilidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aqui está mais uma perspectiva para o encontro e o entendimento das gerações, o convívio, reciprocamente salutar, de jovens e pessoas idosas e a adopção de novos métodos conducentes a um clima de mútua compreensão entre todos. Só assim poderá surgir e dilatar-se um diálogo, que, em vez de processo de impugnação da autoridade e contestação sistemática e negativa e de aríete iconoclasta de subversão e de anarquia, seja fonte de amor e bondade, instrumento construtivo de discussão e permuta de ideias e sentimentos e ponto de partida de iniciativas comuns de ascensão cultural e social, sem desrespeito, antes com exaltação dos valores morais que imprimem sentido superior à vida dos homens e das instituições.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Durante o ano lectivo e no período de funcionamento das pousadas de juventude do Instituto de Obras Sociais costumo manter assíduos contactos com grande parte dos bolseiros da previdência, que me têm impressionado e edificado e me autorizam a afirmar que esse esperançoso escol de rapazes e raparigas nunca me surpreendeu com atitudes condenáveis. Pelo contrário, na quase totalidade, têm revelado sólida formação moral e patriótica e perfeita consciência dos seus deveres e direitos, o que me é grato sublinhar nesta tribuna.

O Sr. Campos Neves: - Muito bem!

O Orador: - Esclarecidos, estudiosos, simpáticos, habituados a suportar sacrifícios para se valorizarem e a sofrer a inveja dos medíocres,, há que contar com esses jovens tombem para missões de carácter social, como esta da protecção devida às pessoas idosas, em execução de programas em cujo estabelecimento eles bem podem colaborar com o vigor do seu idealismo e a generosidade do seu coração.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não foi, de resto, Vítor Hugo que, ao exaltar a beleza da mocidade e a sabedoria dos anciãos, lembrou que se nas pupilas dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz?

Juntemos, pois, a beleza e a sabedoria, a labareda e a luz ... que o resto virá por acréscimo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Chegado a este ponto, não consigo afastar de mim um sentimento de frustração, pois, apesar do tempo que tomei à Câmara a tratar de problemas da velhice - e sobretudo a senti-los, porque é do coração dos homens que hão-de vir, numa sociedade cristã, soluções construtivas e dignificastes -, verifico que só pude aflorá-los de modo sumário e deficiente.

E pena tenho de não poder debruçar-me, entre outras, sobre questões específicas que a gerontologia e a geriatria vêm suscitando nesta segunda metade do século xx, em que a duração média do homem no mundo civilizado anda já pelos 70 anos, o que deve representar um aumento de longevidade de cerca de 20 anos em meio século, e em que se prevê, para o ano 2000, uma esperança de vida entre os 90 e os 100 anos.

O alcance da matéria ressalta do próprio conceito de base da geriatria, que, segundo Edward Stieglitz, é a parte da ciência e da prática médicas que se ocupa da saúde das pessoas idosas e estuda os problemas relacionados com as suas doenças e com os fenómenos da senescência fisiológica.

A geriatria ou, melhor, a medicina geriátrica, é, pois, um ramo da gerontologia, disciplina mais vasta que estuda as. diferentes fases e implicações do envelhecimento e se liga a diversos ramos das ciências biológicas, físicas e sociais.

A problemática gerontológica vai dos aspectos físicos, fisiológicos, alimentares, intelectuais, emotivos e hormonais da senescência normal, à velocidade, ao tipo e à susceptibilidade de correcção das transformações senis e