São vinhos de rebuçado e de pastelaria que correm como portos, nos bares, drug-stores, farmácias armazenistas, e que não aceitam as convenções, o direito internacional, nem o direito mercantil.

Alguns americanos querem alinhar com os conhecedores ingleses, mas outros, o grande número, não fazem ideia nenhuma do que se passa. Tem de trabalhar-se junto dos sommeliers e donos de restaurante e armazenistas de categoria.

Assim estão as coisas mal e não se lhes vê fácil remédio.

O ultramar português constitui, em potencial, um enorme mercado para os vinhos portugueses.

Já em 1922 os estrangeiros consideravam admirável que os nossos territórios absorvessem uma parte importante das nossas expedições.

Isso devia-se à população mais civilizada, ao regime liberal de entrada e ao trabalho magnífico de uma civilização assimilável.

Os regimes agora tendem para a unificação, a propaganda é substituída pelo convívio indiscriminado e o nivelamento de remuneração condições excepcionais. Haverá três, quando muito, nas colheitas de uma década.

Passam nos armazéns das quintas ou em Gaia, no tonel, dois a três anos, o máximo.

São a seguir engarrafados e o trabalho de afinação e eterização continua na garrafa.

Como a meteorologia e as vindimas variam e o tempo é incerto, um vintage pode ser para uma quinta e não ser para outra, em qualquer caso, a paz das frasqueiras faz do jovem famoso um portento.

Os vintages estão pouco difundidos entre nós, mas são em demasia conhecidos dos Londrinos e objectos ciosos de leilões da City.

No meu entender, sem serem tão velhos e respeitáveis como os vinhos dos tonéis e cascos, possuem perfume característico, individualizado, sabem mais a uvas, aproximam-se da generalidade dos tintos, correm melhor, escorregam e possuem grande riqueza de bouquet e de paladar.

Talvez sejam menos danosos para o fígado e, uma vez bem conhecidos, tornam-se companheiros.

Da garrafa deve constar o ano da colheita e o ano do engarrafamento, tanto mais que os vintages amortecem aos vinte anos.

Ultimamente, os meus amigos franceses distinguem os bordéus e borgonhas apenas pelos anos famosos das colheitas célebres, e é isto que torna preciosos e caros os vintages.

Se me são lícitas algumas observações como duriense, insistirei no seguinte:

Haveria vantagem que os vinhos desta classe contivessem sempre a indicação das quintas ou propriedades originárias, como já acontece com o Noval, Foz Malvados, Bom Retiro, Tordiz, Boa Vista, Junco, se não estou em erro.

Depois não faltariam também o ano famoso da vindima e a seguir o ano de engarrafamento - isto já se faz na maioria dos casos.

Para mim - mas entrego o caso a quem de direito corporativo -, não deveria ser permitida a exibição de dizeres comerciais, tais como: tipo vintage e vintage character visto que se diz, onde» se não diz.

Tem-se afirmado que o porto branco possui menos nobreza e, portanto, menos distinção o exorna.

Há quem afirme que se mostra ácido, hostil e difícil.

Manifesto exagero!

O porto branco, por mais leve e delicado, parecerá menos rico, mas reveste-se de igual poder, força, aromas e espírito.

A praxe consagrou-o para o aperitivo e para as horas menos solenes.

Diverge do xerez e do marsala.

Torna-se belo com os anos e aproxima-se do tom casca de cebola.

A sua finura adelgaçada não lhe tira o apanágio do brilho e permite-lhe servi-lo on rocks.

Seja-me permitida ainda uma nova observação.

Já vi dois ou três portos brancos de uma secura amarga que pareciam estabelecer competição com os xerezes dos nossos vizinhos.

Isto é perfeitamente desnecessário. A cada um o seu reino, por direito próprio, como já atrás disse.

Surge agora - e no final da minha intervenção - um capítulo inédito e para alguns inesperado: o do investimento.

Os escritores referem-no por excepção.

O porto não é negócio chorudo, mas pode ser uma aplicação regularmente vantajosa.

A oferta limitada, a certeza de melhoria com a idade, quer no casco, quer na garrafa, a regularidade das suas faculdades afirmam-no como objecto de negociação no mercado mundial.

Hugh Johnson mostra que um vintage adquire preço ao fim de dois ou três anos e que um vinho velho duplica de preço ao cabo de quinze anos.

Ele é ainda objecto de leilões como preciosidade.

Em Gaia há, porém, certo pessimismo, contràriamente a Londres.

Diz-se que o capital investido não renumera senão 2 por cento; reinvestimento, actualização de armazéns, imobilização de stocks, escoamento para o mercado mundial e despesas de propaganda contam por muitas cifras.

Há quem queira colocar cedo, alterar para isso a lei do terço.

São frequentes as queixas do abastecimento de aguardente, fornecida em condições menos onerosas que o xerez.

Também este último é posto nos mercados externos em condições favoráveis, obtendo, porém, mais elevadas remunerações.

São problemas dificílimos - como se vão inventariar vasilhas seculares, vinhos mais que preciosos, intimidades e alianças comerciais conquistadas por antepassados?

E o valor das casas, das marcas, das fidelidades e propensões do consumidor?