acabe esta irregularidade, esta indisciplina dos serviços, que repito, não posso atribuir ao pessoal, mas sim à organização da própria Imprensa Nacional.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Cancella de Abreu: ouvi V. Ex.ª com a maior atenção e interesse. E se V. Ex.ª não me levasse a mal, nem os jornalistas cometessem a indiscrição de dizerem lá fora que estou sempre a citar frases em latim, contaria a propósito uma história, para dizer a V. Ex.ª do sentimento com que vejo amarguradamente o atraso da publicação do Diário das Sessões.

Nos meus tempos de escola do ensino secundário, em que ainda se aprendia latim e se folheava ainda a Eneida, lia-se em determinado verso do poema, ao descreverem-se as tragédias de Ulisses no mar Mediterrâneo, que era o verdadeiro oceano de então:

Apparent rari nantes in gurgite vasto.

E o nosso José Agostinho de Macedo, que era um clássico, quando um dia, no seu convento de magras sopas, lhe serviram um caldo com muita água e poucos feijões, mexeu e remexeu com a colher, acabando por exclamar:

Apparent rari nantes in gurgite vasto.

Aplicando a história ao nosso caso, direi a V. Ex.ª e à Câmara que todos os dias, quando me sento nesta cadeira, olho para o oceano das nossas ansiedades relativamente ao Diário das Sessões e vejo que só lá de longe em longe nos aparece, com aquela raridade com que os navegantes apareciam a Ulisses no mar oceano de então que era o Mediterrâneo. Quero com isto dizer que eu, como V. Ex.ª, vejo com muita amargura o atraso da publicação do Diário das Sessões. Há algumas razões compreensíveis para esse atraso, como sejam as dificuldades técnicas de que sofre a Imprensa Nacional, mas custa a crer que tais dificuldades, por si sós, expliquem tão longos e lamentáveis atrasos. No intuito de que se vençam, ao menos em boa parte, tais dificuldades e esgotadas as possibilidades de outras diligências feitas, hoje mesmo, há cerca de trinta ou quarenta e cinco minutos, dirigi uma carta ao Sr. Ministro do Interior a expor a situação e a pedir-lhe se digne tomar providências, utilizando os seus bons ofícios no sentido de se vencerem, ao menos parcialmente, os longos atrasos verificados. Por hoje é quanto posso adiantar a V. Ex.ª

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Agradeço a V. Ex.ª os esclarecimentos que teve a bondade de prestar sobre o problema.

O Sr. Presidente: - Está na Mesa, enviado pela Presidência do Conselho, para cumprimento do disposto no § 3.º do artigo 109.º da Constituição, o Diário do Governo n.º 55, 1.ª série, de ontem, que insere os seguintes Decreto-Leis:

N.º 48 894, que autoriza o Governo a contrair encargos até ao montante de 2 milhões de contos para continuação do reequipamento extraordinário do Exército e da Aeronáutica;

N.º 48 896 que torna extensivas à execução do aproveitamento hidroeléctrico do rio Salas, com a criação da albufeira de armazenamento até à cota (835,00), referida ao nivelamento de precisão de Portugal, as disposições aplicáveis ao Convénio entre Portugal e Espanha para Regular o Aproveitamento Hidroeléctrico dos Troços Internacionais do Rio Douro e Seus Afluentes, de 16 de Julho de 1964, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 45 991, e declara de urgente utilidade pública as expropriações necessárias para a realização das obras que tenham de ser construídas em território português;

N.º 48 898, que altera, a título excepcional, algumas disposições da legislação de melhoramentos agrícolas, em ordem a possibilitar a efectivação dos auxílios relativos à suspensão da amortização e à isenção de juros dos empréstimos concedidos pela Junta de Colonização Interna aos empresários agrícolas das zonas devastadas pelas inundações de 25 de Novembro de 1967, de diversos concelhos do distrito de Lisboa;

N.º 48 899, que sujeita a criação das caixas de previdência do pessoal dos caminhos de ferro e a sua regulamentação às bases VI e XXXIII da Lei n.º 2115, sem prejuízo da natureza específica da actividade a que respeitam, e revoga, em tudo o que contrarie o que for regulamentado de harmonia com o disposto no presente decreto-lei, o Decreto-Lei n.º 40 262.

Pausa.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, antes da ordem do dia, o Sr. Deputado Elísio Pimenta.

O Sr. Elísio Pimenta: - Sr. Presidente: Só Deus, na Sua infinita misericórdia, é senhor dos nossos propósitos.

Pedira a V. Ex.ª o obséquio de me conceder a palavra na sessão de hoje. Fizera o propósito de falar das estradas, das estradas do nosso país, por onde a tragédia passa, aqui ou além, em todos os momentos, com uma regularidade de arrepiar os sistemas nervosos mais estáveis, alimentando a morte ou destruindo os organismos sãos de muitos homens úteis.

Mais objectivamente, era meu propósito insistir para que se andasse depressa na continuação da auto-estrada do Norte, que, para além das razões da economia política ou social que a justificam, diria ser, pelo seu traçado, com todos os melhoramentos possíveis, introduzidos na actual primeira via rodoviária nacional, absorvendo tráfegos enormes, indispensável no desenvolvimento económico da região que se destina a servir e, sobretudo, à segurança da vida e da integridade dos que dela se utilizam.

A Providência concedeu mais um argumento para a justificação das palavras que me propusera proferir.

Antes não o tivesse dado!

E por isso mesmo não vou, por agora, mais longe. Por aqui me fico, até nova oportunidade, que não seja a de uma tragédia como a de hoje.

Só quero ir mais longe, sim, para, interpretando, com a emoção que neste momento me domina, a tristeza do meu coração, o sentimento da minha cidade do Porto, que hoje mais do que nunca recordo, pela tragédia que roubou a vida ao Dr. Nuno Pinheiro Torres, até há poucas horas presidente do seu Município, que serviu com exemplar dedicação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Foi um homem que fez o bem, serviu os altos ideais da Pátria e os superiores interesses da cidade que o viu nascer.

Vozes: - Muito bem!