mecanização no nosso país dizem respeito não só à divisão da propriedade e à falta de técnicos, mas, mais vincadamente ainda, à morfologia e estrutura dos solos. É justamente este último aspecto que na região do Douro se manifesta insuperável, impossibilitando uma mecanização eficiente e profícua.

Realmente, o alcantilado das encostas onde frutificam os vinhedos, cuja plantação se orienta segundo as curvas de nível, é obstáculo que as máquinas actualmente utilizadas não logram ainda superar.

A negatividade destas circunstâncias torna impiedosa e dura a agricultura da região, onde o lavrador vê continuamente subir o preço de granjeio e manter-se quase inalterável, desde há anos, o preço de venda do produto.

Este desequilíbrio manifesto evidencia-se claramente se observarmos que nos últimos dez anos os salários aumentaram mais de 150 por cento, enquanto os preços dos produtos de venda permaneceram numa quase perfeita imobilidade.

Este vincado desparalelismo, a crescido, em sentido desfavorável, de outros encargos, torna angustiante e embaraçosa a situação do viticultor, que dia a dia vai asfixiando, presa de uma agricultura deficiente e ruinosa.

Urge, pois, despertar a atenção dos responsáveis para este desolador estado de coisas, não sendo compreensível nem justificável que na época que atravessamos se não estabeleça diálogo autêntico e construtivo entre as entidades a quem cabe defender os interesses regionais e o respectivo Ministério, numa busca de soluções apropriadas e viáveis.

Seria altamente significativo que o Ministério da Economia, primeiramente, contactasse e ouvisse a próprio lavoura duriense - que muitas vezes, mercê da premência da situação em que se encontra, o tem tentado, sem qualquer êxito -, para sómente em seguida, criteriosamente, ponderar e apreciar o alcance e validez das suas pretensões.

Assim o exige a excelência do produto desta região, que se afirma único no mundo - o vinho generoso -, bem como a alta qualidade dos vinhos de mesa, de características excepcionais.

Exige-o ainda o desenvolvimento sócio-económico do distrito, dentro daquele espírito de renovação que o III Plano de Fomento estabelece e preconiza.

Se nem sempre têm sido escutados os anseios ou atendidas as necessidades imperiosas da lavoura do Douro, medidas há, contudo, que se impõe adoptar para um reajustamento equitativo e, assim, actuante e benéfico.

Uma conveniente e vantajosa utilização das potencialidades da região forçosamente terá de visar os meios e as acções susceptíveis de conduzir a um conjunto harmónico das diversas estruturas.

Para uma política válida de viticultura há que apreciar os problemas sob uma óptica ao mesmo tempo «técnico-económica e demográfico qualitativa», sem deixar de focar também uma justa e adequada comercialização.

É credora a lavoura do Douro de toda a atenção e boa vontade das entidades superiores, pois os seus produtos constituem fonte de rec eita apreciável para a economia nacional.

A região demarcada do vinho generoso, abrangendo apenas parte de dez concelhos, produziu, em 1968, 60 467 pipas de vinho beneficiado, tendo a exportação atingido, nesse ano, 33 149 073 l, no valor de 535 675 304$, quantia que bem traduz e claramente patenteia uma rentabilidade eloquente para a economia do País, tendo em conta a pequena área que a determina.

Num sumário exame retrospectivo e para uma conscienciosa elucidação, apreciemos os dados correspondentes II produção média anual de vinho generoso nos últimos dez anos:

Nos primeiros cinco anos (1959-1963), 42 166 pipas;

E nos restantes cinco anos (1964-1968), 56 143 pipas.

Apreciemos também os dados referentes à exportação nos últimos três anos, que passamos a citar:

Em 1966, 31 416 011 l, no valor de 491 475 941$;

Em 1967, 30 078 506 l, no valor de 472 888 848$;

Estas cifras, altamente expressivas, não libertam, porém, o lavrador de se defrontar com um maré magnum de dificuldades, já que não existe correspondência entre aquelas e o preço por que vende o seu produto.

Torna-se, desta forma, indispensável a actualização do preço dos mostos dos vinhos generosos, especialmente no referente ao preço mínimo, o qual é, normalmente, admitido como preço único. Importa, assim, que este seja compensador e corresponda aos pesados encargos que o granjeio exige. A ilustrar tal necessidade está o facto surpreendente de em 1968 ter sido atribuído ao mosto de melhor qualidade o preço de 2900$ a pipa, quando já no ano anterior algumas firmas haviam pago entre 3000$ e 3200$ os 550 1.

Atingindo, porém, a produção normal da região do Douro 200 000 a 230 000 pipas de vinho anuais, constata-se que, excluídas as 60 000 pipas de mosto autorizado para benefício, resta um excedente de mais de 150000 pipas de vinho, das quais se poderia apurar, mercê de uma triagem conveniente, larga litragem de um excelente vinho de mesa, susceptível de concorrer com os seus congéneres mais categorizados. A restante produção, que, em função do grau de acidez, do excesso de produção, da minguada riqueza alcoólica, da abundância de castas de inferior qualidade e da estrutura geológica do terreno, se torna imprópria para consumo, constituiria um terceiro tipo de vinho, que não deixaria de contribuir também, grandemente, para a promoção e desenvolvimento do Douro, visto ser susceptível de, em certa medida, auto-abastecer a região da aguardente necessária para a beneficiação dos vinhos generosos.

Tal medida estimularia não só a preparação de vinhos qualitativamente superiores, mas promoveria igualmente uma maior expansão do produto, assim como a sua consequente e progressiva remuneração.