comunicação abriam sulcos de passagem, as cidades dilatavam as suas áreas de construção, ao mesmo tempo em que se procedia a crescente implantação de actividades industriais.

Fortes motivos, ligados à revolução das técnicas, aconselhavam a sepultar lições antigas, do declínio de civilizações também poderosas, para não ofuscar o brilho de um mundo novo.

Não tinham repercussão ideias pioneiras ou frases célebres como a de Chateaubriand:

As florestas precedem os povos, os desertos seguem-nos. Entretanto, e em face dos crescentes factos de destruição da Natureza no Mundo industrializado, um novo alarme é lançado em termos técnicos, sob o rótulo de «poluição». Poluição da atmosfera que recebem crescentes doses de poeira e de gases de motores de exploração que consomem combustíveis condenados pelos especialistas modernos; poluição das águas interiores, para onde a mesma indústria e os aglomerados populacionais lançam detritos que destroem a fauna aquática e que os dispositivos biológicos naturais já não conseguem diluir e neutralizar; poluição térmica das águas interiores por instalações industriais diversas; poluição dos solos, das plantas e dos animais, pelo uso indiscriminado de adubos e de produtos perigosos destinados à defesa das plantas cultivadas e ao estímulo do crescimento dos animais; poluição dos mares, produtores de 70 por cento do oxigénio atmosférico através do fitoplânton, que recebem finalmente todos os venenos elaborados pela ciência; pol uição do lençol freático, que em muitos espaços insulares e continentais também baixa assustadoramente de nível; poluição, finalmente, dos alimentos que todos nós vamos consumindo. Por sugestão do Conselho Europeu, foi designado o ano de 1970 como ano da protecção à Natureza.

Nos Estados Unidos da América, para execução da ordem presidencial sobre a protecção do meio ambiente de 3 de junho de 1969, foi votada a verba de 800 milhões de dólares para se iniciarem os trabalhos previstos. A imprensa, o cinema e a televisão foram chamados a alertar a população para graves perigos que corre a humanidade perante a civilização tecnológica dos nossos dias, se esta permanecer incontrolada.

Que já lançou seis projectos internacionais, quatro dos quais com o fito de tentar a despoluição e de proteger a atmosfera e as águas naturais .- as dos rios, as dos lagos, as dos estuários e as costeiras.

Em França é instituída a Direcção da Protecção da Natureza, sob responsabilidade do Ministro da Agricultura. Este afirma, à maneira francesa, que tal decisão representa un to umant de civilisation. Na Europa, é sòmente na Idade Média que se tomam medidas destinadas a impor regras de protecção da Natureza contra as destruições provocadas pelo homem.

Tal circunstância resulta, em larga medida, da importância assumida pela caça e pela pesca, que se tornaram, em relação a certos animais selvagens mais valiosos e raros, em privilégio feudal.

Ora para proteger a caça grossa era indispensável salvaguardar a floresta e, por isso, esta coutada, de acordo com regras particularmente imperiosas. Francisco M. Flores 1 afirma:

Orgulham-se os actuais protectores nórdicos da Natureza dos seus cavaleiros de então, que além da espada, usaram o punhal de caça, que lhes era entregue em cerimónia religiosa quem que juravam «ser os protectores da caça e de tudo o que voa, rasteja, nada ou verdece, e manter e proteger pela sua força as florestas e os peixes».

Em Portugal são numerosas as medidas de protecção à fauna e flora indígenas, corrigindo desmandos da caça e pesca e salvaguardando privilégios do rei, da nobreza e das ordens monásticas.

Tais medidas constam dos primeiros forais, mas acentuam-se desde D. Dinis e são particularmente insistentes durante a Segunda dinastia. O papel desempenhado pelas ordens monásticas é muito importante e mantém-se com particular continuidade até aos tempos modernos. O autor acima citado refere ainda:

Em 1963, os carmelitas instalaram-se na serra do Buçaco, ali formando a mata que ainda existe.

Constitui um autêntico padrão de protecção à Natureza, hoje perfeitamente intacto e vivo como no dia da sua construção, o aviso que pode ler-se nas conhecidas Portas de Coimbra: «Sob pena de excomunhão papal, é proibido cortar qualquer árvore ou arbusto.» Em 1933 realiza-se uma conferência internacional em Londres sobre a protecção da fauna e flora africanas, na qual Portugal se fez representar pelos Profs. Melo Geraldes, do Instituto Superior de Agronomia, e Wittnich Carriço, da Universidade de Coimbra.

Mas o trabalho pioneiro sobre a matéria será em Portugal da autoria do engenheiro silvicultor Francisco M. Flores, sob o título de A Protecção à Natureza - Directrizes Actuais, 1937.

Sensìvelmente na mesma época (1938), no Plano de Povoamento Florestal, são destinados à protecção da Natureza alguns milhares de hectares, dos quais 5000 há no perímetro florestal do Gerês, onde se constitui um parque nacional 2 que, por falta de estatuto, nunca poderia ser reconhecido internacionalmente.

Desta maneira, sem institucionalização feita por legislação que tivesse acompanhado a execução dos diversos planos de arborização, foram consideradas áreas que deveriam ser destinadas à protecção da Natureza, como, por exemplo, no caso do Plano da ilha da Madeira, da autoria do engenheiro silvicultor José Maria da Carvalho.

Pela mesma altura foram feitas diligências pela Direcção-Geral doas Serviços Florestais e Agrícolas para o Estado empreender a defesa da serra da Arrábida, cujo interesse fotissociológico não tem paralelo no País, como em toda a região mediterrânica. Tais diligências não foram coroadas de êxito.

2 Plano de Povoamento Florestal, Imprensa Nacional, 1940. P. 64.