Entretanto, os desmandos cometidos na serra da Arrábida - cortes de arvoredo para fabrico de carvão - determinaram um movimento de alarme quanto à segurança deste precioso monumento da Natureza.
O poeta Sebastião da Gama foi um dos artífices desse movimento e encontrou o apoio do Prof. Carlos Manual Baeta Neves, do Instituto Superior de Agronomia, que tomou a iniciativa de constituir uma associação, similar e outras já existentes em diversos países, a que foi dado o nome de Liga para a Protecção da Natureza.
A constituição da Liga, em 1948, reuniu um grupo de entusiastas pela protecção dia Natureza, de entre os quais se podem salientar, além do Prof. Baeta Neves, o Prof. Carlos das Neves Tavares, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o Prof. Carlos Teixeira, da mesma escola superior, o engenheiro agrónomo A. Pinto da Silva, da Estação Agronómica Nacional, e os biologistas Herculano Vilela, do Instituto de Biologia Marítima, e Bivar Carmona, do Museu Zoológico de Barbosa du Bocage, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
A Liga conta actualmente cerca de duzentos sócios e são já numerosas as publicações que editou e as actividades que empreendeu no campo cultural e educativo. A I Conferência Nacional da Liga para a Protecção da Natureza realizou-se no Funchal em 1950, e em 1968 a Liga realizou em Lisboa um ciclo de conferências em que tomaram parte alguns dos mais notáveis especialistas da Europa.
Entretanto, o tema despertava outras atenções e o Prof. António Sousa da Câmara apresentava à Academia das Ciências a comunicação «A Terra a Saque» (1951), e mais tarde, na Colecção Educativa do Plano de Educação Popular, o Prof. Baeta Neves publicava A Protecção da Natureza.
Importa ainda realçar que Portugal tem aderido a convenções internacionais para a protecção de aves, tal como as de 1902 e de 1950, em consequência das quais assumiu compromissos que, infelizmente, não tem sido possível respeitar integralmente. Contudo, a última lei da caça (Lei n.º 2132, de 26 de Maio de 1967) já contemplou exigências destes acordos, adoptando algumas das decisões contidas nestas convenções internacionais.
Deve ainda assinalar-se as decisões ultimamente tomadas em relação à poluição das águas interiores e dos mares, através de comissões acidentais ou permanentes para tanto criadas, e bem assim várias e úteis medidas que, em alguns casos concretos, os serviços florestais têm empreendido em relação à protecção da Natureza tanto no continente como nas ilhas adjacentes.
§ 8.º
Em 1870, quando o» Estados Unidos já se entendiam de costa a costa, é organizada certa expedição a uma legião, apenas conhecida pelos índios, no estado de Wyoming, de acesso difícil e onde existiam coisas muito misteriosas.
Durante mais de um mês essa expedição, chefiada pelo advogado Cornelius Hedge, percorreu a vasta bacia do rio Yellovvstone, ficando decidido por fim propor ao Congresso a criação naquele lugar de um parque «para servir de recreio e prazer das gentes».
Em 1872 esta proposta foi aceite com grande entusiasmo do Congresso, sendo assim fundado o primeiro parque nacional dos Estados Unidos e do Mundo.
A lei respectiva diz que se destina a «pôr ao abrigo de toda a depredação humana as belezas naturais mais notáveis do país; favorecer pela vida na Natureza a educação, o recreio e a distracção do povo».
Os Estados Unidos colocaram-se assim na vanguarda, entre todos os países, como os fundadores de tal tipo de protecção da Natureza.
A dura experiência que sofreram, por ter sido produzida em tão curto espaço de tempo, facilmente criou ambiente para ter êxito tão arrojada iniciativa: 880 000 ha destinados apenas a proteger a fauna e a flora com fins culturais e educativos! ...
Depois de criado o Yellowstone Park nos Estados Unidos, foi o Canadá que seguiu o exemplo, em 1885, criando o Panff National Park, com cerca de 10 000 ha. Na Europa, a Suíça foi o país pioneiro, criando em 1909 o primeiro parque nacional europeu, o de Engadine, com 14 700 ha.
Portugal figura na lista, mas apenas porque as províncias ultramarinas já criaram cinco parques e reservas. Em Angola conta-se com os Parques Nacionais de Quiçama e de Jona e com as reservas integrais de Luando e de Cangandala. Em Moçambique foi criado o maravilhoso Parque Nacional da Gorongosa. No continente e nas ilhas adjacentes não existem parques nem reservas reconhecidos internacionalmente, embora a algumas áreas florestais se aplique a designação de parque ou de mata nacional, como sucederá no Geres, no Buçaco e até na ilha da Madeira.
E, no entanto, existem no Mundo 1205 parques nacionais e reservas análogas, sendo muito grande a lista de países, alguns de reduzida extensão territorial, que possuem mais de dez parques. Tem interesse registá-los, mantendo-se a ordem por que figuram na lista das Nações Unidas: República Federal Alemã, 25, Argentina, 12; Austrália, 72; Brasil, 11; Bulgária, 30: Canadá, 47; Estados Unidos da América, 287; Finlândia, 24; França, 29; Índia. 14; Indonésia, 41; Israel, 13: Japão, 23; Quénia. 12; Madagáscar. 31; México, 13; Nova Zelândia. 10; Holanda, 18; Filipinas, 23; Polónia, 34: Rodésia, 16;