Deste modo, e apesar de o vozear acidental de países menos esclarecidos por vezes o ocultar, o Mundo procura sinceramente realizar a paz. Não só regionalizando (e portanto limitando) os conflitos inevitáveis, como, principal- mente, pela substituição progressiva da tendência de apontar as divergências, sempre importantes e numerosas, por uma política fundada na convergência no pos- sível como forma de passar da coexistência à conveniência e desta à colaboração. Ao containment de 1950 seguiu-se a détente de 1960. E tanto a contenção como a distensão ou apaziguamento já nos parecem longínquas, de tal modo nos habituámos no andamento veloz da História, nesta época em que, conquistando o espaço, o Ho-mem encerrou o período pós-gâmico e - facto característico pela primeira vez ultrapassou os limites da própria Terra.

Fenómeno típico dos nossos dias, a «convergência no possível», onde se sentem as ideias do P.e Teilhard de Chardin, não desconhece nem menospreza as barreir as

ideológicas, políticas, económicas ou outras que opõem ou separam os Estados. Busca apenas desenvolver neles - e também nos povos - o hábito de aceitar, como base de partida, quaisquer pontos, embora modestos e meramente materiais, em que não exista oposição directa, para assim recolher os benefícios do trabalho conjunto e concomitantemente desenvolver o hábito de examinar e resolver os assuntos em comum. E verdade é que, na ordem interna como na ordem internacional, daí nasce um espírito diferente no estudo dos problemas e na procura das soluções, sem transigir no essencial ou, pelo menos, procurando manter as transigências de um ou de todos nos limites da razoabilidade e da boa fé. Construir torna-se mais penoso a mais lento quando feito a partir destas condições. Podem apontar os inêxitos, a esse como a qualquer sistema. Não obstante isso, desde um armistício em Panmunjon até aos recentes entendimentos entre a República Federal da Alemanha e a União Soviética, por escrever uma história comun. A partir das lições dela, e não obstante estar-se então num imediato após-guerra, foi possível e clarividente lançar as bases do diálogo para um provir de entendimento e bem comum. E uma ética de intercâmbio tomou aqui, pouco a pouco, o lugar da tradicional política de expansão de um ou do outro país. Outra característica da vida internacional dos nossos dias relaciona-se com a ideia do espaço dentro do qual se traçam os circuitos políticos, económicos e sociais.

As formas anteriores de convívio conheciam do igual modo a bilateralidade ou a multilateralidade dos acordos externos. Mas faziam sempre intervir os Estados com

entendimentos interamericanos, o Pacto do Pacifico. Do campo político passaram a outros, restringindo a respectiva área em proporcionalidade inversa à dificuldade dos problemas a resolver. E assim nasceram o Mercado Comum e as tendências supranacionais. Tal como assim se definiu o conceito de «espaço intermédio», dentro do qual se caminha corajosamente para estruturas de complementaridade, desde a economia à investigação cientifica ou à colaboração tecnológica e cultural.

Realmente, o grande espaço gerava o risco de transformar-se em enorme e em intercontinental. Se, por certo, os acordos a esta escala são necessários, tal como o são os tratados gerais, não podem traçar mais do que as grandes linhas dos entendimentos possíveis e dificilmente se adaptam aos especialismos que muito convém neles se integrem, sem sacrifício do essencial. Desde o figurino político à conquista de mercados, os espaços enormes tenderam a tornar-se hegemónicos e a definir, no interior, um outro tipo de Pax Britannica da era vitoriana. Sentiu-se, por conseguinte, quanto era necessário, sem perder o contributo positivo que a ideia continha, desintegrar os blocos para o Mundo voltar à dimensão do Homem. E para que os arranjos secundários de forças - políticas, económicas ou culturais - permitissem reencontrar, conferindo-lhes tarefas especificas, função para as pequenas e as médias potências. Nada aconselha deixá-las entregues à pressão da tenaz, embora de braços não conjugados, das duas superpotências principais.

Um espaço ibérico é postulado pelo facto de existirem dois povos irmãos na Península. Não obriga a negar seja o que for, relativamente à integração possível e desejável de um, do outro ou de ambos os países em diversos grandes espaços, europeus ou extra-europeus. Mas representa a visão objectiva de uma, complementaridade natural, de linhas ainda não perfeitamente conhecidas, no momento presente, mas que já se desenham com nitidez suficiente para, a partir delas, se poder trabalhar. Contra ele, como contra qualquer outro emergente em muito de relações de vizinhança antiga, é tentador - e é simples provocar reacções históricamente emocionais e encontrar argumentos (não, se digladiavam, nos conselhos régios, os adeptos das expedições longínquas com os velhos do Restelo e os partidários da expansão e ocupação das terras próximas? E foram, todavia, estes últimos que levaram a Alcácer Quibir). Porém a teoria económica espacial ensina que as nações não são a simples soma de determinado território com uma população e certo volume de bens económicos: são, um espaço racionalmente organizado, por forma a que nele se processem, nos melhores termos, os necessários movimentos de homens, mercadorias e capitais. Isto envolve, fatalmente, a necessidade