do elementos materiais que o destino nunca situa, na totalidade, no interior de qualquer país: pelo menos, falta sempre, no circuito interno de uma economia de mercado, a possibilidade de conter toda a capacidade de consumo;
ou, numa economia progressiva, todos os centros científicos indispensáveis ao progresso económico, ao acesso aos bens da cultura e à promoção social das populações.
3. A estas características da nossa época acresce, entre outras também relevantes a esta luz, a crescente intervenção directa dos indivíduos na vida internacional. Largos anos se viveu num «elitismo» de decisões, que se aproxima do ocaso em vastos sectores da actividade colectiva dos povos. O direito à informação ganhou foros de cidade e fez nascer uma sociologia própria; os meios massificados planetizaram o conhecimento; a elevação cultural originou maiores exigências do saber; e a politização e socialização da vida leva a opções frequentes, em matérias ainda há pouco alheias ao interesse generalizado da grei.
Deste modo, o trabalho das chancelarias vê-se acompanhado, quando não ultrapassado ou contrariado, por formas diversas de contacto internacional. E nem sempre os países têm sabido adaptar-se a estes circunstancionalismos, de que se poderá discordar, mas sem vantagem, pois tudo leva a crer que se acentuarão.
A estrutura bilateral clássica da política externa dificilmente poderia ser seguida pelos Estados recém-independentes. Estes não têm escolas, nem dinheiro, nem os outros meios necessários para manter representações diplomáticas nos demais países e, em consequência disso, ou contactam com frequência e em pessoa ao nível dos chefes de Estados ou dos ministros ou ficam pura e simplesmente segregados da vida de relação, da qual fundamentalmente carecem para o seu desenvolvimento. Podem os mais altos representantes hesitar em comparecer, aqui ou ali, por motivos políticos ou até por terem medo de estar ausentes dos respectivos países. Mas meçaram a considerar-se directa ou indirectamente detentoras de uma certa representação dos nacionais do próprio país em que se encontravam acreditadas, quando esses nacionais perfilhassem a ideologia comunista e em função disso houvessem actuado. O facto agravou-se muito no tempo mais agressivo do eixo Roma - Berlim ( basta pensar no caso dos Sudetas, por exemplo). E hoje tornou-se frequente entre os países do Terceiro Mundo, e nem só entre eles, dentro ou fora do chamado «processo de descolonização».
Ora tudo isto alterou os parâmetros da vida internacional e, por uma via ou por outra, trouxe o indivíduo, mesmo quando não seja peticionário perante a O.N.U, a um papel cada vez mais relevante nos programas de actividade externa dos países: vivem-se anos de incremento febril das trocas comerciais, de volumosas migrações de mão-de-obra, de transferências maciças de capital, de permanente contacto entre técnicos, de turismo de massas, de movimentos colectivos de intercâmbio juvenil. E tudo isto dá carácter particular aos instrumentos diplomáticos da nossa época, quando estes se integram nas correntes históricamente progressivas e procuram dar corpo às transformações úteis numa sociedade em processo acelerado de mudança, como atrás se recordou.
Crise da ideia nacional? Apesar do supranacionalismo e à face dos fracassos sucessivos do federalismo individualista nascido sobretudo nas assembleias de Estrasburgo, não parece que essa crise seja uma realidade. Mas existe certamente uma redefinição do conceito, com maior predomínio do elemento volitivo sobre os simples dados de identidade material. E cabe aqui uma palavra tranquilizadora para os adeptos da ideia, que por vezes aparentam confiar pouco no que afirmam, com razão, ser básico para a vida dos povos: época de intenso internacionalismo cultural foi sem dúvida a Respublica Christiana, e durante ela se estruturaram na Europa os grandes Estados modernos; a violenta opressão política, religiosa s tarefas específicas no caminho do progresso pelo desenvolvimento, que tal é a perspectiva dominante da nossa etapa no esforço para a redenção do Homem, por Arnold Toynbee identificado com o fim último do evoluir e integrar das civilizações.
As três formas de colaboração escolhidas pelos dois Governos correspondem aos modos racionalmente mais indicados para incrementar, em base efectiva e actual,
a colaboração tornada possível, no plano político, pelo Pacto Peninsular assinado em Lisboa em 17 de Março de 1939 e sucessivamente completado e prorrogado desde
essa data. Na verdade, ainda em Julho de 1969, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da U. R. S. S., Sr. A. A. Gromyko, se dirigiu ao Soviete Supremo salientando, no relatório sobre a situação internacional e a política externa soviética, que «o desenvolvimento de ampla cooperação económica e técnico-científica, desembaraçando trocas comerciais o culturais mutuamente vantajosas, pode e deve transformar-se também num importante alicerce para a cooperação política.» (Novosti Press Agency Publishing House. Moscovo, 1969, p. 26).
Depositários de uma herança cultural de raiz comum, onde o contributo autóctone, romano e árabe tem papel relevante, Portugal e a Espanha só beneficiaram e ganharam prestígio nas épocas durante as quais um entendimento cordial na Península lhes permitiu largos cometimentos exteriores, como toda a gesta das descobertas e do