pausadas e materializadas, e passam a mover-se, primordialmente, com olhos para o restrito mercado interno, densamente protegido pelo anteparo das pautas e das restrições quantitativas. Como é natural que nesse condicionalismo tenham, proliferado as indústrias de bens de consumo gerou, mormente as que menos exigiam em dimensão, em tecnologia e em qualidade de fabrico.

Das oportunidades de exportação beneficiaram especialmente as indústrias que faziam o tratamento elementar de certas produções naturais (cortiças, madeiras, resinosos) ou que obtinham razoável vantagem concorrencial da abundância e barateza da nossa mão-de-obra (v. g. têxteis).

Não valerá a pena reeditar - por tão estudadas e repetidas - as carências da estrutura industrial que nesse contexto se foi erigindo: a escassa densidade tecnológica do «meio», a geral fragilidade orgânica e dimensional das empresas, a minguada interdependência entre os vários subsectores do nosso parque industrial. Nem as consabidas limitações deste tipo de industrialização.

Para que o sector ganhe em capacidade de crescimento autossustentado e de «arrastamento» dos outros sectores da economia cumprirá, nesse ponto. reorientar o esforço de apoio e promoção que lhe é dirigido. Pois o que então mais importará não é já tanto o indiscriminado acréscimo do investimento, da capacidade produtiva ou do emprego, mas sim ó adensar da malha de relações interindustriais, o ataque gradual n produções de maior fôlego tecnológico e - sobretudo numa economia de exígua dimensão interna - a crescente projecção da indústria para os mercados exteriores.

E porque estes desígnios supõem empresas mais sólidas, mais avezadas a problemas de organização, de fabrico, de comercialização (de eficiência económica, numa palavra), isto significará que a tónica passa do mero «crescimento quantitativo» ao «crescimento qualitativo»; e que à simples «política de industrialização» terá de suceder uma gen uína «política industrial» mais elaborada e exigente, porque mais exigente é o estádio de desenvolvimento industrial que então se acomete. Claro que a nossa posição actual já não corresponde literalmente àquela fase de industrialização avulta e incipiente que acima se deixou esboçada. Nos últimos anos, e em boa medida pelo impulso (e pela ameaça) dos movimentos de integração europeia, fizemos algum caminho adicional. Embora nem sempre em ritmo tão seguro como se desejaria continuou a melhorar a posição do sector, em termos de contributo para o rendimento e para o emprego, para o investimento como para a exportação.

Claramente se apercebem, por outro lado, as transformações qualitativas que acompanharam e permitiram esse avolumar do sector. É diferente o status social da indústria e das actividades que lhe andam ligadas. Surgiram estratos empresariais mais atentos ao cálculo económico, a problemas de organização e gestão, mais abertos à programação, horizontes geográficos e temporais, de maior amplitude. A própria estrutura produtiva ganhou em robustez e dinamismo pela presença de mais unidades válidas em dimensão e mentalidade. E diferente será hoje a sua elasticidade de reacção aos vários tipos do medidas de suporte, de estímulo ou de contenção que a política económica ponha em acto.

Circunstâncias que está longe de ser despicienda, sabido que a eficácia de uma política fundamentalmente se medirá pela amplitude das reacções que, da parte do sistema produtivo, consiga desencadear ou simplesmente catalisar: e que, em muitas situações reais, a sua diminuta eficácia precisamente radicará na inadequação (quantitativa ou qualitativa) dos estímulos à capacidade de reacção do sistema a que se dirigem.

Tudo poderá resumir-se dizendo que vencemos, com um ou outro tropeção, os primeiros degraus do desenvolvimento industrial; mas que, chegados a um patamar, não lográmos ainda impulso que rápidamente nos aproxime do seguinte. Daí a conveniência de repensar os objectivos imediatos, de afeiçoar enquadramentos jurídicos e institucionais, de rever a panóplia dos instrumentos.

Nem precisaremos, para se reconhecer esta necessidade, de nos aventurarmos a incertos juízos quanto aos méritos e deméritos das políticas anteriores: em muitos casos, será mesmo o êxito embora relativo, das «políticas velhas» que solicita ou impõe «novas políticas». Vencida uma fase de crescimento, sempre haveria que questionar, com inquieto realismo, os esquemas que terão ajudado a industria a superá-la. Mesmo que outras circunstâncias não impusessem esse -reexame, como efectivamente o impõem.

unidades de fragilima dimensão e capacidade - e tantos outros problemas deste teor - se ponham já em termos bem diferentes daqueles a que longamente nos habituámos.

E olhando apenas para o mercado interno, poderá ignorar-se como a gradual elevação do rendimento e do nível educacional vai modificando os padrões de exigência do consumidor médio? Ou como a simples extensão da rede de entradas alarga mercados e desgasta as vantagens relativas dos pequenos produtores locais? E como estas e outras modificações tendem a pesar na modelação das estruturas produtivas?

Não custaria alongar os exemplos: aos aperfeiçoamentos introduzidos no mercado financeiro, nos sistemas de crédito, nos dispositivos escolares e extra-escolares de preparação profissional ou a tantos outros factores que directamente se repercutem na vida da indústria e nas imediatas condições da sua futura expansão. E que não poderão ser indiferentes para o delineamento e execução de uma política industrial adequada ao contexto global em que vem inserir-se.

Apenas se acrescentará uma última circunstância: o esforço adicional que nos veio a ser imposto pela defesa da integridade nacional.

Como qualquer outra, a política industrial não se exaure em definições legais: haverá que traduzir-se, para o Estado, num somatório do actuações da mais diversa índole. E não é do esquecer que todas essas intervenções têm os seus custos; que são limitados os recursos humanos e financeiros que elas inevitàvelmente mobilizam. Será hoje par-