Durante milénios a sua propagação pode realizar-se por estaca.

Por volta de 1860 surgiu um inimigo implacável - a filoxera - que destruiu por toda a Europa o fruto de um labor multissecular, conduzindo à ruína milhares e milhares de viticultores.

A luta contra a filoxera assumiu os mais variados aspectos: arranque dos vinhedos infestados, inundação dos terrenos, tratamentos químicos, enxertia em ccavalos resistentes.

O sucesso d'este último meio conduziu à sua generalização.

Permitirá ainda boje, em técnicas eficazes, uma conversão em videiras europeias dos produtores directos que a própria filoxera forçou a introduzir na Europa2. Pode dizer-se que como cultura industrial a videira tem os seus limites definidos no hemisfério Norte pelas paralelos 30.° a 48.° e no hemisfério Sul pelos paralelos 30.° a 40.°. É natural uma heterogeneidade climática que limite as possibilidades nestas grandes áreas ou até microclimas que permitam a sua cultura fora das mesmas.

O hemisfério Norte tem, ao longo das últimas décadas, contribuindo com mais de 90 por cento da produção mundial da vinha, pertencendo só à Europa cerca de 80 por cento.

Localizando-se Portugal continental entre os paralelos 37.° e 42.° de latitude norte, com temperaturas de Inverno que, mesmo nas regiões mais frias, não atingem a temperatura mínima mortal (- 15.º C duram-te várias horas) e médias de Verão que só excepcionalmente ultrapassam os 35.°C, a videira encontra aqui condições óptimas para o seu desenvolvimento.

Se tivermos em conta que a videira suporta as baixas temperaturas da Rússia, Bulgária, Áustria, Alemanha, Suíça ou França e as altas temperaturas da Argélia, de Israel, da Turquia ou da Espanha, bem compreenderemos que nem as baixas nem as altas temperaturas de Portugal continental serão factor limitante à sua cultura em qualquer zona do Pais.

«As características culturais da videira e as suas exigências termo-hídricas encontram, na realidade, no território nacional condições de eleição para o seu cultivo e justificação da sua exuberância de vegetação, primor de frutos e secular cultura.»2

2 «A enxertia 'no ar' em viticultura», por J. Leão Ferreira de Almeida, Boletim Agronómico Nitratos de Portugal, Janeiro-Março de 1971, pp. 1 e segs.

3 «Macrozonagem da uva de mesa em Portugal continental, por J. Leal Ferreira de Almeida e A. Machado Grácio, De Vinea et Vino-Portugaliae Documenta, Agosto de 1969, vol. IV, série 1, n.° 2, p. 6. Sobre a videira na agricultura mediterrânea, cf. Orlando Ribeiro, Mediterrâneo, Ambiente e Tradição, edição da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1968, pp. 66 e segs. Se é exacto que a bacia do Mediterrâneo foi o berço da cultura da vinha, preenchendo a Itália, a Franca, a Espanha, a Argélia e Portugal 70 por cento da produção mundial de vinho, verifica-se que a videira ganhou novas áreas de expansão, mesmo extra-europeias. A América do Norte e do Sul, a África do Sul, a Austrália, a Ásia e o Japão contribuem actualmente, embora em graus mais ou menos modestos, para uma produção mundial que ultrapassa os 50 milhões de toneladas de uvas, das quais 80 por cento se destinam a vinificação, 10 por cento a uvas de mesa, 5 por cento a passas e o restante a utilizações variadas, desde os sumos aos xaropes, das bebidas espirituosas ao álcool.

A vinha cobre cerca de 10 milhões de hectares do nosso planeta. A sua área conheceu algum alargamento após a 2.ª Guerra Mundial. De 8,3 milhões de hectares em 1950, ter-se-á passado para 10,6 milhões de hectares em 1963, expansão particularmente verificada na Itália, na Rússia, nos Estados Unidos da América, na Argentina, na Turquia e em alguns países da Europa Oriental.

A partir da 1963 assistiu-se a uma estabilização na área total, com recuos na Argélia e mesmo nos três grandes produtores europeus (Itália, França e Espanha).

Entretanto, a Rússia e os países da Europa Oriental consideraram, nos seus planos de desenvolvimento, uma expansão da área vitícola.

A relativa estabilização mundial na área dos vinhedos não originou idêntica situação na produção. Esta, pelo contrário, não deixou de crescer.

A melhoria dos métodos culturais e a descida da vinha das encostas para a planície justificam o incremento da produção. Ao assinalar tal facto, salienta-se, numa publicação da F. A. O., que o recuo da viticultura de encosta prejudicou a qualidade do vinho 4.

As condições ecológicas e a tradição tem influído no destino dado às uvas. Nos países do Mediterrâneo oriental a vinificação pouco conta, sendo as uvas consumidas em fresco ou utilizadas na prep aração de xarope. Na Pérsia, na Grécia e na Austrália, 50 a 70 por cento da produção destinam-se a passas.

Repartidas, pois, por três grandes destinos (vinificação, uvas de mesa e passas), afigura-se oportuno dedicar alguma atenção à situação e perspectivas mundiais da produção, comércio e consumo destes três sectores, bem como as aguardentes. Segundo elementos do Office International de la Vigne et du Vin, a evolução da área cultivada e da produção do vinbo no Mundo, na primeira metade do nosso século, terá sido a que consta do quadro I.