(...) téncias sabem-no muito bem: desconhecê-lo, iria não só contra factos patentes como também contra os seus interesses, oficiais ou particulares. Por isso, actuam agora métodos mais subtis de neocolonialismo ou de colonialismo económico. E basta ler quanto se escreve no Terceiro Mundo, ou acerca dele, para verificar como este reconhece ser ilusória, tantas vezes, a independência política formalmente outorgada pela descolonização. - Seja ou não como vai dito, incontrovertível é que a capacidade criadora e as possibilidades de acção da Europa Ocidental se não esgotam no seu território. E os países integrados estão perfeitamente documentados sobre o assunto: nos aspectos que estes julgaram essenciais, não se nota portanto que, em terrenos sensíveis haja diminuído muito a acção extra-europeia realizada pelos membros do Mercado Comum. Apenas enquanto alguns a mantiveram semelhante, outros procuraram novas modalidades para ela. E isto desfaz as nuvens do poeira com que só especula, darão a entender que, integrando-se os países europeus abdicaram da sua presença no exterior. Por quanto se pode observar, nenhum (...) assim: e, por uma forma ou por outras todas, mantiveram o pólo de atracção afro-asiático ou latino-americano nos comandos da sua política e apesar da integração.

A uma luz objectiva, as fórmulas supranacionais podem, pois, respeitar a uma área geográfica vasta, economicamente ampla e politicamente importante. Mas toda a integração é sempre específica e, em certo sentido, excepcional. Restringe-se a âmbitos concretos, certos e determinados. E não impede que um país membro ou associado continue a sentir a influência de discursos movimentos integratórios. O equilíbrio global realiza-o o governo interessado, porque a cada pólo desta índole corresponde uma linha de atracção: e, como a influência de qualquer delas, em regra, não coincide com a das outras, é provável (e desejável) conseguir assim que os arranjos secundários de forças (...) ou diminuam o risco das exclusividades perigosas ou das influências susceptíveis de se tornarem demasiado dominantes.

Por outras palavras: os fenómenos de integração, nas suas diversas modalidades, não são totais nem sequer unitários. E os países tendem a realizar a integração não em linha simples mas em linhas múltiplas, para melhor poderem corresponder nos seus diferentes interesses nacionais e aproveitarem mais facilmente - sem prejuízos escusados - as vantagens da supranacionalidade para realizar o bem comum, dentro dos limites dessa realização.

Decerto os extremistas, sobretudo do federalismo europeu, não apreciam esta linguagem. Porém, os factos são o que são. E olhá-los com serenidade tem até a vantagem de evitar excessos de alarme, quando porventura pudessem existir razões para o haver. Seria preciso desconhecer as condições de facto da vida portuguesa para negar, a priori, qualquer fundamento nos reparos formulados à associação de Portugal, à Europa pelos adeptos de uma política exclusiva ou quase exclusiva de quadro nacional e predomínio de entendimentos bilaterais ou multilaterais de simples carácter internacional. A vocação histórica do País tradicionalmente nos mantém afastados dos problemas do continente. Portugal está virado ao mar oceânico: prolonga-se, através dele, até ao seu vastíssimo ultramar: em função das ligações marítimas alicerçar a aliança com a Inglaterra e por elas contacta com o seu grande irmão da América do Sul. Voltá-lo para a Europa significa inverter-lhe as linhas normais de convívio, com benefícios dificilmente previsíveis nos esquemas clássicos da economia. Traduz-se em aproximá-lo de nações e problemas aos quais sempre foi estranho; e, dada a fragilidade das estruturas em industrialização incipiente, bem pode redundar em fazê-lo repetir o erro da fábula em que chocaram o ferro e o barro, com certeza por este último ainda o que lhe iria acontecer.

De tal modo assim é que, mesmo em relação à Associação Europeia de Comércio Livre, a convenção de Estocolmo careceu de estabelecer, no anexo G, um certo número de disposições específicas para o nosso país; e apesar de tudo, é na E. F. T. A. que Portugal pode encontrar situações mais semelhantes.

Mas este seria apenas um aspecto da realidade. Que pensar então das consequências do integracionismo em relação ao ultramar, na altura das grandes decisões e das opções (...)? - A Câmara reconhece a importância política a estas razões e o sincero patriotismo que as inspira. Por isso as examinarei com atenção particular.

Sob o ponto de vista sociológico, uma nação é um agregado de pessoas que, tendo a uni-las um passado e um conjunto de identidades morais e materiais, querem viver em comum, e em comum participar do destino do agregado que cons ode vencê-las e traçar para si próprio um caminho diferente. No plano colectivo, nem outra é a lição de Israel ou da Polónia; como nem coisa diversa significam, no plano individual, as naturalizações, como norte ou sul-americanos, de emigrantes provindos da Alemanha nacional-socialista dos estados satélites e de tantos mais.

A nação é, pois, um «modelo» axiológico, para o qual se tende por factos naturais, mas que se aceita ou rejeita por um acto de vontade. E mantém-se porque - passe o lugar-comum - nela se gera um princípio de continuidade espiritual ligando o túmulo dos pais aos berços dos filhos. A ancestralidade é para as nações o que a hereditariedade é para os homens: e uma e a outra se criticam pela razão e se corrigem pela vontade.

Uma acção centrípeta mantém cada nação no equilíbrio dinâmico das suas forças próprias, e não como fenómeno gregário de homens com outros homens, em simples resultado da coexistência física de indivíduos em determinada região. A vontade de viver em comum constitui o seu cimento; o tempo vai definindo as características de cada uma, e gera-lhe, por conseguinte, as correspondentes tradições. Elas a fazem permanecer e lhe asseguram, com o decorrer dos séculos- e por estranho paradoxo - cada vez maior firmeza e duração.

Isto não quer dizer que, por vezes, certas linhas de força centrífuga não possam produzir e tenham aliás ocasionado, efeitos semelhantes, para reforço daquele equilíbrio dinâmico.