A tradição porém, nunca foi um elemento [...] constitui apenas um elemento estabilizador. E se a nação representa, de facto - como objectivamente sucede entre nós, após oito séculos de história - uma realidade colectiva profundamente arreigada na consciência dos portugueses, mal se compreende que dela descreia quem nela funda o pensamento político. Dificilmente se pode apontar com seriedade: o risco de Portugal se [...] na Europa, ou na Ibérica ou na Comunidade Atlântica pelo facto de se estabelecerem certos tipos de colaboração, com outros povos, quando nem nos países mais recentes e menos unitários (como, objectivamente, é o caso da Bélgica) a integração europeia, no escalão mais elevado, originou perigos de tomo para a realidade nacional. Se eles existem nesses países, já existiam antes do Mercado Comum. E a nação, traduzindo-se numa estrutura transtemporal, constitui, bem vistas as coisas, a força que traça os limites de qualquer associação ou integração: diz-nos quando não deve ir-se mais longe e, se porventura se teima em fazê-lo, faz fracassar a tentativa de ignorar o seu poder.

As províncias ultramarinas portuguesas são parcelas de um país real, por herança do passado, por vocação histórica, por vontade colectiva - consciente e livre - de permanecer assim. Associarem-se aos espaços com os quais tenham afinidades geográficas aumentar-lhes-á prosperidade possível, sem lhes diminuir a coesão: se tal acontecesse, seria em outros aspectos que deveríamos ir buscar os motivos de enfraquecimento da decisão da grei. Ou então, na prática, estaríamos descrentes de que «ser português» é ter uma atitude perante os problemas e não é simplesmente um facto...

Com oitocentos anos na Europa e vários séculos na África ou na Ásia. Portugal não deve sentir-se em causa, em que qualquer aspecto essencial por efeito de simples acordos visando melhorias na realização do bem comum. Pensar o contrário significa ter dúvidas sobre a solidez da nação e da sócio-cultura que lhe é peculiar, desde a diferenciação cultural, na pré-história, da orla atlântica da meseta relativamente ao resto do território ibérico. E esquecer as ligações dos tempos passados e dos actuais achar que qualquer coisa pode pôr em risco a nação, tão frágil afinal ela é. E para mais, de que se trata, em concreta? O tratado de Roma prevê três formas de ligação à CEE: pela adesão, um país europeu (pois só estes podem aderir) passa a fazer parte da Comunidade, com estatuto igual ao dos restantes membros; pela associação, fica em situação intermédia, variável conforme as circunstancias do caso: pelo acordo comercial, o entendimento restringe-se à troca de mercadorias e, em especial de produtos industrial. Embora com abertura quanto às outras (como veremos). Portugal e a CEE escolheram-se esta última modalidade, tal como, por exemplo, Israel, a Líbia, o Irão e a Argentina. Haverá ainda quem possa ver nela um risco para a integridade do País?

Pôr o prob lema em [...] de uma opção entre a Europa e o ultramar seria sempre um «equivoco susceptíveis de criar um falso dilema» como disse o Sr. Presidente do Conselho na alocução de 14 de Novembro último: nem se compreende a razão de aquela excluir este último, nem algo foi estabelecido ou solicitado nesse sentido em virtude das negociações com o Mercado Comum.

Os entendimentos com a Comunidade Económica Europeia ou com outra qualquer região organização ou integrada são vantajosas para o País como um todo, embora, em cada concreto, só alguma ou algumas das suas parcelas sejam beneficiadas. Angola dificilmente poderá desenvolver-se no melhor sentido se ignorar o Brasil e a América do Sul: e Moçambique está virado ao Oriente, com todas as consequências patentes a quem vista a província, sem que por esse facto o seu portuguesismo fique a ser menor. (Aliás e apesar dos riscos que também podem ter alguém pensou alguma vez em interromper os laços económicos e emigratórios que - com Depois, vai com velocidade demais.

ia da metrópole depende em muito do nível das exportações.

Na verdade, a pequenez do mercado interno (menos de 25 por cento do da Suíça, mesmo incluindo as vendas para o ultramar) é um dado de facto confirmado pelo exemplo estrangeiro: com maior consumo próprio do que nós, a Suécia e a Dinamarca recebem dessa origem 20 por cento do produto nacional, contra 40 por cento da Bélgica ou nos Países Baixos. E a percentagem total portuguesa, em 1968, foi dado de 25,3 por cento abrangendo mercadorias e serviços, contra 21,9 por cento em 1958. É isto ainda mais patente quando se olha o aumento do desnível da balança comercial metropolitana: em 1969, o déficit foi superior a 12 milhões de contos (mais do dobro do que havia sido dez anos antes), apesar de, entretanto, as exportações terem aumentado por forma bastante sensível e satisfatória. Ora não será prudente contar indefinidamente com o turismo, as remessas dos emigrantes e as entradas de capitais. Uma grande necessidade do País é portanto exportar, até por não ser fácil manter um surto de industrialização apenas para substituir as importações: numa produção reduzida, o custo é sempre elevado.