Supõe-se que a acentuação do desenvolvimento estatural e a exuberância sexual precoce se devem fundamentalmente à repercussão de impulsos externos na secreção de várias hormonas em excesso absoluto ou inter-relativo

A incidência destes factores perturba a sequência natural das fases de desenvolvimento somático, conduzindo a um aumento da percentagem de indivíduos leptossomicos o que não teria importância de maior se não se verificasse que tais indivíduos são fisicamente os menos resistentes à fadiga, os mais frágeis perante a doença e psiquicamente os mais predispostos a alterações do comportamento.

O desequilíbrio psicofísico que acompanha estes fenómenos e os reflecte denuncia-se na adolescência e instala-se na juventude, a maior parte das vezes de forma irremediável.

Na impossibilidade de anular nas suas causas esta avalanche catastrófica de condições desfavoráveis que desaba sobre o mundo juvenil, só resta opor-lhe o dique de uma inteligente e apropriada educação. E cabe à educação física o mais relevante papel neste propósito.

De facto, pela reconhecida reciprocidade que existe nas interferências psicofísicas, pode conseguir-se, através do exercício muscular, influenciar o estado psíquico do adolescente, criando-lhe faculdades basilares para toda a vida e que irão definir o comportamento do homem adulto.

A influência do exercício físico no ajustamento evolutivo das várias funções vegetativas, incluindo as cerebrais, e realidade que não oferece dúvidas e tem de ser aproveitada na forma de uma educação válida e suficiente para apagar os efeitos degenerativos das causas irremovíveis que a vida civilizada nos impõe.

Para ser eficaz terá de instituir-se muito precocemente e ser encarada pelo prisma do seu real valor formativo, pois incide em fases decisivas da evolução humana, que qualquer erro pode assinalar de defeitos irreparáveis. Antes de as perturbações psicossomáticas, que se manifestam sobretudo nas populações urbanas civilizadas, terem despertado o alarme dos cientistas como sintomas regressivos de imprevisível evolução, o problema da educação física podia limitar-se à preocupação de combater os efeitos anti-higiénicos e atrofiantes da sedentariedade. Pouco importava o género de movimentos escolhidos e seu método de sistematização. O que era preciso era activar as funções circulatória e respiratória, para, subsequentemente, obter o equilíbrio fisiológico, portanto, a saúde.

Bastava para isso proporcionar às crianças os recreios dos parques infantis e aos jovens qualquer actividade física em desportos da sua predilecção ou para que mostrassem aptidões particulares.

Infelizmente, esta forma simplista de encarar a questão não conta com as necessidades biológicas da vida actual, sujeita aos graves efeitos de uma mecanização cada vez mais ampla.

As condições psicofísicas da juvent ude de hoje impõem exigências ao regime educativo que assista as actividades físicas de crianças e adolescentes, em que é necessário recorrer a efeitos fisiológicos da actividade muscular que não se logram com singelas recreações de movimento lúdico.

Possuímos, de facto, no exercício muscular um agente biológico suficientemente poderoso para encaminhar o desenvolvimento somático do ser humano no sentido mais apropriado, quer se trate do indivíduo, quer da espécie.

A educação física, não sendo o único, e o mais eficaz instrumento de que os povos dispõem para travar a acção degenerativa implacável que assalta a vida civilizada sob as mais variadas formas de agressão Tem que inserir-se na orgânica das nações como o principal garante profiláctico das suas condições sanitárias, incluindo nesta designação a saúde física e mental das populações

Como tal, a sua prática deve obedecer a planos e orientação que tenham na devida conta a gravidade dos problemas em ca usa e sejam fruto de estudo e investigação no domínio biológico aplicado às actividades humanas.

Não menos importante deverá ser a formação dos agentes a quem seja confiado o seu ensino, nomeadamente no que se refere às actividades físicas de crianças e adolescentes.

Esta delicada missão não pode estar entregue a curiosos na matéria, pois as suas repercussões imediatas e futuras envolvem responsabilidade transcendente, que nunca será legítimo assacar-lhes, pois exorbita dos seus conhecimentos.

Essa responsabilidade só pode de direito cometer-se e exigir-se a profissionais habilitados devidamente em estabelecimento próprio.

No caso nacional, o nosso desenvolvimento demográfico e concomitante expansão do ensino, nos seus ramos preparatório e secundário, ampliaram as necessidades de agentes de ensino de Educação Física de forma a que os estabelecimentos oficiais não têm podido acorrer-lhes com os seus diplomados.

Forçoso foi, por isso, recorrer a indivíduos sem habilitações especificas, designados oficialmente como «monitores». Os monitores, como agentes de ensino sem habilitações especificas, constituem, logicamente, por definição, um corpo docente transitório e, por assim dizer, uma anomalia numa orgânica de bases científicas, o que só pode contribuir para degradação do ensino.

Reconhece o Governo a gravidade da situação e tenta gradualmente removê-la pelo estímulo à formação de maior número de agentes de ensino diplomados pelas escolas de Educação Física e criação de mais unidades deste tipo.

A situação actual é a seguinte:

Agentes de ensino diplomados pelo INEF e pelas escolas de Educação Física - 738;

Agentes de ensino sem habilitações específicas (monitores)-1259

A expansão do ensino preparatório e secundário tenderá a agravar rapidamente esta desproporção se, entretanto, não se verificar acréscimo substancial de pessoal docente qualificado.

Esse acréscimo terá de obter-se essencialmente através dos cursos das actualmente chamadas Escolas de Instrutores de Educação Física, que, além de mais breves do que o do INEF, exigem menos dois anos