O funcionamento das nossas instituições tem o selo da maturidade política e assenta nesta primeira realidade, que, só por si, assegura a definição de uma verdadeira política nacional, a regularidade da delicada administração de um- Estado moderno, a ordem e a unidade portuguesa.

O meu precioso manual de política pura começa por configurar a sede do poder; por indicar o assento da autoridade e da decisão.

Diante do Chefe do Estado estamos, realmente, perante o poder.

Da sua palavra depende a legitimidade do Governo e do Governo - bem o sabemos - o futuro da comunidade nacional.

Esta nota de plenitude, que é da essência do mesmo poder, tem sido enriquecida no contacto permanente do Chefe do Estado com a Nação, tornando mais forte a sua força e mais consentido b nosso consentimento.

Nem vulgarizado nem divinizado, revestido de prudência política e da experiência humana, o almirante Américo Deus Rodrigues Thomaz não deixa brilhar na sua farda a glória de mandar para nos vincular ao seu admirável exemplo de servir.

Julgo que das nossas instituições políticas se pode dizer quanto o clássico dizia da língua portuguesa - aconteceu-lhe como os rios que vêm de longe e tomam a cor e o sabor das terras por onde passam.

om o rodar dos séculos, guardámos a frescura das nascentes, fomos afeiçoando o carácter e os modos, aprendemos a conviver com todas as raças e em todos, os climas, trocámos valores culturais e criámos uma consciência tão forte que os traços de fractura só podem verificar-se a golpes de catana e sob a demoníaca excitação das drogas infernais.

A lealdade dá-se bem entre nós, vem de longe e cresceu por toda a parte.

Enriquecendo este cimento precioso com uma boa armadura de autoridade, em jeito de favorecer a realização das formas de liberdade que o nosso engenho e a variedade das circunstâncias solicita e requer, podemos completar, sobre o granito antigo, agora em betão ciclópico, um grandioso edifício que não o haverá parelho no Mundo.

Do Tejo ao Zaire e do Zaire ao rio dos Bons Sinais, abraçando as províncias do Oriente e estendendo a mão amiga, para o outro lado do Atlântico - quase ali na outra banda -, a nossa comunidade terá a exacta dimensão da alma lusíada.

E esta especial dimensão, aferida pelos padrões da História, é irreversível e inalterável.

O nosso esforço criador tem um sentido universal, o que vale dizer que nele se contém a unidade na variedade.

Para o preservar, a Nação nunca comungou no processo de corrupção da autoridade; nunca consentiu na deterioração das suas liberdades; sempre guardou e defendeu a terra e as gentes combatendo, sofrendo, rezando.

Desde o «Manifesto do Reino de Portugal no qual se declara o direito, causas e modo que teve para eximir-se da obediência ao rei de Castela e tomar a voz de D. João IV» até ao discurso de 12 de Agosto de 1963, onde se declara o direito, causas e modo por que, SOO anos passados, Portugal se havia de eximir à obediência do Governo Universal que abusivamente se pretendeu instalar na O. N. U., a Nação tomou uma só voz.

Quando os estranhos, mascarados de duvidosa legalidade ou adornados de gestos delicados e falas subtis, se intrometem nos problemas da nossa comunidade, desafiam descaradamente a nossa ordem ou afrontam o património formado e conformado nto, mas aberta a mais amorável convivência.

Seguros do nosso direito e dos nossos caminhos, sem o «enleio das contradições» que comprometem a verdade e a justiça, não podemos consentir que alguém nos dê lições de liberdade, da autêntica liberdade, dessa que não pode confundir-se com a liberdade planificada.

O Estado Português da Índia e a resistência dos seus naturais constitui a mais clamorosa acusação da refalsada má fé desses pretensos libertadores.

Falemos agora das nossas liberdades, dessas que temos tanto gosto em favorecer e outros tamanho empenho em iludir ou deturpar.

O homem que é capaz deste esforço gigantesco, conjugando ao mesmo tempo muitos verbos, tem de ritmar os tempos da acção e os seus íntimos anseios hão-de eleger o que for mais conforme à sua natureza.

Esta primeira escolha entre os muitas apetecidas liberdades, é uma primeira limitação.

E, quando se limita, logo o homem livre afirma a autoridade do uma determinação, tanto mais discreta quanto mais respeitável.

É assim que cada um de nós conquista, ordenadamente, ia a dizer aristocraticamente, as suas liberdades.

O aparelho coercivo do Estado nunca poderá ter a sensibilidade necessária para abarcar a delicadeza e a exuberância do processo desta explosão de liberdades.

À conta e a medida da sua expressão é obra de educação e de cultura.

As soluções legais seroo sempre grosseiras e há-de ser num outro plano - no da surpreendente e maravilhosa intuição política do nosso povo, há muito desenganado -, no plano das regras de convivência social, que serão enriquecidas e exaltadas.

A ordem política que servimos tende à eliminação da luta pelo poder, liberta a Nação das toxinas da revolução permanente, inutiliza as fórmulas partidárias, excomungadas pela unidade nacional e já receitadas, por isso mesmo, em papel timbrado da O. N. U., pelos inimigos da mesma unidade.

Essa ordem política confiou à Assembleia Nacional a efectiva fiscalização, no plano constitucional, político e administrativo, do exercício dos direitos e das liberdades fundamentais asseguradas aos Portugueses.