Sobre as sociedades de economia mista, tenho a dizer que em nada nos repugna a existência de sociedades de economia mista. O que nos repugna é que o essencial do sistema económico seja, de acordo com a proposta que o CDS apresentou, exercido por empresas de economia mista. Isso, sim, leva a uma inevitável confusão de interesses entre o poder económico e o poder político.

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Não é verdade, Sr. Deputado. O Estado comanda tudo.

O Orador: - Em relação às perguntas do Sr. Deputado Carlos Carvalhas, que me pergunta se há diferenças entre as propostas do Governo e da Comissão

que justifiquem que a partir de agora seja viável a criação de postos de trabalho, devo dizer-lhe que, em nosso entendimento, não há diferenças de fundo entre as duas propostas, porque, se as houvesse, naturalmente o Partido Socialista não poderia aprovar um texto da Comissão que fosse, no fundo, diferente do texto da proposta do seu próprio Governo, por razões óbvias.

Quanto a nós, o problema do desemprego exige, para se resolver, o dinamismo do sector público e do sector privado, cada um deles cumprindo a parte que lhe compete no desenvolvimento da economia nacional.

Foi perguntado se não haveria oposição entre o sector público e o sector privado e foi dito que o sector privado se move numa lógica de lucro puro e o sector público obedece ao Plano. Em minha opinião, o sector privado em Portugal moveu-se mais numa lógica de apropriação do que numa lógica de lucro puro, mas essa é uma discussão que poderemos deixar para mais tarde, para não cansarmos as pessoas. Em qualquer caso, é evidente que os dois sectores funcionam de forma diferente. O que eu disse é que existe em Portugal um sistema de economia mista e que, portanto, o facto de eles funcionarem de forma diferente não corresponde a uma inevitável oposição de interesses. Corresponde, para nós, à necessidade de cada um deles, na zona económica em que deve actuar, o fazer com o máximo de eficácia compatível com o máximo desenvolvimento da economia portuguesa. E aceitamos, naturalmente, que as empresas privadas tenham lucros, e não consideramos que isso seja um processo de recuperação capitalista. Um processo de recuperação capitalista, em nossa opinião, passa, sim, por fazer apropriar ao sector privado o poder económico que ele perdeu e que hoje está directamente dependente do poder político que nós, em parte, somos, como tive ocasião de afirmar.

Vozes do PS: - Muito bem!

cilmente ligável a uma linha política sequer de cariz socialista.

O Sr. Deputado Aires Rodrigues pergunta se não há perigo de as caixas económicas e as instituições parabancárias virem a substituir-se ou a criar problemas ao sector público bancário. Penso que depois de tudo quanto foi dito bastará responder de uma forma extremamente simples: não há perigo.

Risos do PS.

O Sr. Deputado Rui Pena disse que nós consideraríamos que a independência nacional seria um conceito kafkiano. Não é verdade. O que nós dissemos é que o carácter obsessivo que, nalguns momentos, a intervenção do Sr. Deputado Amaro da Costa teve nos fazia lembrar o romance de Kafka, mas apressámo-nos logo a corrigir, por pensarmos que essa imagem poderia ser, enfim, menos bem aceite pelo Sr. Deputado Amaro da Costa.

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Kafka não é o meu predilecto!

O Orador: - Penso que a 5.ª Sinfonia de Beethoven ou a 4.ª Sinfonia de Schumann ...

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Prefiro Vivaldi, prefiro Vivaldi, ...

O Orador: - ...Poderão resolver facilmente esse problema.

Devo dizer, aliás, que um sistema kafkiano é um sistema que implica o drama de um homem fechado sobre si próprio, o que está, por natureza, em contradição com o carácter aberto da actividade do nosso Primeiro-Ministro.

Risos do CDS.

Sobre a caracterização da nossa economia, penso que não vale a pena repetir aqui aquilo que li acerca de uma economia mista composta por dois sectores, obedecendo a duas lógicas diferentes, mas complementares. É pena que o Sr. Deputado Amaro da Costa encontre nisso semelhanças com certas formas puras de economia de mercado ou com certas formas de planeamento central, tipo soviético.

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Então, afinal, estamos de acordo.

O Orador: - Se estivéssemos de acordo, isso seria magnífico para a democracia e para o socialismo democrático, Sr. Deputado.