O Orador: - Sr. Ministro, o problema é este: o povo português é informado sistematicamente de que a banca apresenta lucros, mas também é verdade que volumosos créditos da banca, irrecuperáveis, não foram tidos como custos e, pelo contrário - ponto muito importante -, a banca continua a contabilizar juros desses créditos, logo necessariamente receitas, mas receitas irrealistas, ilusórias. Qual o pensamento do responsável das finanças por isto?

Em ,relação à dívida externa, como estima, Sr. Ministro, os encargos do serviço da dívida pública para o próximo ano, isto é, amortização e juros? Sabido que as remessas dos emigrantes rondam pelos 25 milhões a 30 milhões da contos, qual a ordem de grandeza do montante do serviço da dívida pública?

Ainda, Sr. Ministro, e em relação aos empréstimos externos, sabe-se que alguns empréstimos a curto prazo têm, garantia-ouro e aqui caímos num importante problema, que, não sendo académico para nós, aqui nesta. Câmara, é muito re al para o povo português, que sabia, na verdade, das importantes reservas que existiam. Concretamente, pensa V. Ex.ª, Sr. Ministro, que os empréstimos que estão as garantidos serão pagos, ou, não sendo pagos, há possibilidade de os renovar indefinidamente? Isto é um ,ponto importante. Ou, ainda: será necessário recorrer à garantia-ouro, diminuindo as reservas, para os pagar?

Finalmente, em finais deste ano, começos de 1978, e perante os números que nos indicou, que valores estima o Sr. Ministro que a nossa dívida externa atingirá aproximadamente, é óbvio?

E era tudo, Sr. Ministro.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças.

O Sr. Ministro das Finanças: - O Sr. Deputado tem uma característica curiosa: é que o material que item na manga é sempre muito maus extenso do que aquele que revela.

O Sr. Deputado fez-me uma pergunta bastante simples e agora metralhou-me com várias outras subperguntas. Não sei bem por onde é que hei-de começas, mas começares por um sítio qualquer.

Eu não estou inteiramente de acordo com o Sr. Deputado quando diz que o nosso problema não é de propensão. Mas estarei de acordo se disser que é de poupança e também de investimento. Em ambos os casos há, efectivamente, um défice em relação às necessidades. A simples observação do modo de viver actual dos nossos compatriotas revela que há um mal, que são os excessos de consumo, e daí, naturalmente, um défice de poupança. De todo o modo, entre todas ias entidades em Portugal aquela que tem poupado menos e que tem contribuído mais para a quebra da poupança é, como sabe, o sector público. O sector público item sido o gastador número um do País.

O Sr. Macedo Pereira (CDS): - Muito bem!

pode ser exercida em Portugal, também debitará mais projectos. Mas, como pode imaginar, este é um problema que não está ao alcance do Governo resolver.

Os bancos são acusados de terem lucros volumosos e o Sr. Deputado entende que se trata de receitas irrealistas, porque, em boa parte, se trata de créditos irrecuperáveis. Eu diria que isto depende um pouco ...

Neste momento ouve-se forte chuvada.

Este ruído é chuva!?

O Sr. Presidente: - Eu não pomo calar a voz de S. Poro, Sr. Ministro,

O Orador: - O Sr. Presidente já pode .muito, mas não pode tanto.

Prosseguindo com o que estava a dizer, eu suponho que é uma questão de perspectiva. Eu estou de acordo com o Sr. Deputado Macedo Pereira em que as provisões ,existentes para fazer face a débitos de cobrança duvidosa por parte do sistema bancário são largamente insuficientes. Os débitos dos créditos de cobrança duvidosa terão sido multiplicados por cinco nos últimos anos, enquanto as provisões terão sido multiplicadas por dois. Ou havia provisões a mais antigamente ou há provisões a menos agora. Mas o problema da recuperação dos créditos pelo sistema bancário creio que não pode ser posto em termos tão pessimistas com o Sr. Deputado Macedo Pereira, pôs. Isto porque, se na realidade a polua de salvação daquilo que for salvável em matéria de empresas surtir o seu efeito - e nós estamos a tentar fazer alguma para isso -, aquele instrumento dos contratos de viabilização para o sector privado, outro que pensamos possa ser posto em vigor para o sector público, havendo já uma proposta do Governo nesse sentido - penso que poderá permitir uma certa recuperação de algumas empresas e que, portanto, estes créditos varão a ser realizados. E o sector bancário é, na realidade, o primeiro inte-