seja o próprio Governo a dar o exemplo ao patronato do que deve fazer, recorrendo a uma medida de despedimento de trinta e três trabalhadores e lançando ainda processos disciplinares a muitos outros.

É pela gravidade que este facto assume e pela sua repercussão nacional que nós trazemos aqui esta moção de protesto. Porém, antes de. fazer a sua leitura, quero ainda dizer o seguinte: apesar de todas as manobras que foram feitas, apesar de se ter ido declarar para a televisão que em Lisboa já grassava uma gigantesca epidemia, devida à falta de recolha do lixo há alguns dias, apesar de tudo isso, o povo pobre de Lisboa, os trabalhadores, não se viraram contra os cantoneiros. Tomaram, sim, medidas, para assegurar a higiene, queimando o lixo. Deste modo falharam todas as tentativas, quer da parte do Governo quer da parte de certas autoridades, para virar contra os cantoneiros o povo de Lisboa.

O povo de Lisboa, que conhece bem as condições de vida e de trabalho extremamente duras e precárias desses homens que dia a dita recolhem o lixo de Lisboa, compreendeu profundamente a justiça da sua luta. E aqui fica também uma palavra de saudação à solidariedade que os trabalhadores, particularmente os de Lisboa, manifestaram para com esta greve.

Passo agora à apresentação da moção de protesto.

Moção do Protesto

O Sr. Presidente: - Está em discussão.

Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Sr. José Luís Nunes (PS) - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Pedi a palavra para, muito brevemente, explicar porque vamos votar contra esta moção.

Em primeiro lugar, vamos fazê-lo porque as pessoas que manipularam os grevistas eram jovens que, pela sua formação intelectual e profissional, nada tinham a ver com os cantoneiros. Ainda em primeiro lugar, e bis, porque esta greve foi declarada à margem do sindicato, quando só o sindicato tem competência para declarar greves.

Importa também sublinhar que não houve nenhuma adesão da população a essa greve, nomeadamente nos bairros mais pobres. Houve simplesmente, da parte dessa mesma população, a consciência cívica suficiente para, pelos próprios meios, resolver problemas que uma minoria estava a pôr em cansa.

O Sr. Herculano Pires (PS): - Muito bem!

O Orador: - A decisão do Ministério da Administração Interna é uma decisão correcta, justa e que tem o nosso mais pleno apoio.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Continua em discussão.

Pausa.

Como ninguém mais pede a palavra, vamos votar a moção em causa.

Submetida à votação, foi rejeitada, com os votos a favor do PCP, UDP e dos dois Deputados independentes Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues e os restantes votos contra (PS, PSD e CDS).

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Roseta para fazer uma declaração de voto.

A Sr.ª Helena Roseta (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PSD votou contra esta moção porque nela se faz uma confusão, do nosso ponto de vista, lamentável entre uma questão laboral, que se verificou entre os cantoneiros de limpeza e a Câmara Municipal de Lisboa, e através desta entre aqueles e o Ministério da Administração Interna, e uma questão de defesa da saúde pública e de conforto da população da cidade de Lisboa. A questão laboral resolver-se-ia pelos caminhos correctos, pelos caminhos da concertação, se os trabalhadores estivessem dispostos a isso. Efectivamente, é sabido que a Câmara Municipal de Lisboa propôs já ao Ministério da Administração Interna um aumento de salário para os cantoneiros de limpeza, aumento de salário que não é ainda aquele que eles pretendiam obter com esta greve, mas que, de facto, já podia melhorar substancialmente a situação. Todavi