tido, das comissões de trabalhadores e do movimento sindical é condição necessária para o desenvolvimento do controlo operário».

Suponho que a ligação entre estes fenómenos é, por de mais, evidente e clara.

O Sr. Lino Lima (PCP): - Dá-me licença que o interrompa, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Lino Lima (PCP): - Eu não percebo.

O Sr. Presidente: -- Sr. Deputado Lino Lima, desculpe-me, e desculpem-me os colegas, vás-to que eu estava desatento, assinando aqui um expediente urgente, mas não sei se o Sr. Deputado Lucas Pires lhe permitiu a interrupção.

O Orador: - Com certeza. Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Tenha então a bondade Sr. Deputado Lino Lima.

O Sr. Lino Lima (PCP): - Eu contai logo com a benevolência do Sr. Deputado Lucas Pires, que é um homem muito simpático.

O Sr. Deputado, que maneja tão bem os conceitos e as ideias a ,ponto de me desenhar aqui uma sociedade ideal que, sem querer de forma nenhuma feri-lo, me: permite, além do mais, considerá-lo muito ingénuo, como é que pode desse texto que leu tirar a conclusão que tirou de que defendemos e concluímos na Conferência Económica do nosso partido que as comissões de trabalhadores são órgãos políticos?

O Orador: - Antes de mais Sr. Deputado Lino Lema, eu aprendi na Faculdade de Direito uma certa teoria da interpretação. Depois tive de a adaptar em termos de interpretação política. Há, como sabe, uma exegese própria dos texto políticos e em relação a textos comunistas essa exegese é muitas vezes veiculada por uma disciplina própria chamada «marxologia», que está voltada exclusivamente para a interpretação deste tipo de textos. Eu não sou especialista em «marxologia» e peço que me seja desculpada qualquer eventual distorção menos fiel do interpretação do texto.

Em todo o caso, para os homens comuns, habituados a manejar, pelo menos, os texto; que constituem a vulgata marxista, o prêt-n-portei do pensamento marxista, digamos, parece-me que este texto é meridianamente claro no sentido de estabelecer não em casamento, mas, pelo menos, um amor muito intenso, muito a sério, entre as comissões de trabalhadores e as células políticas do partido.

O Sr. Lino Lima (PCP): - Já cedeu alguma coisa e isso agrada-me. Agora só concluo o seguinte: na realidade, o Sr. Deputado Lucas Pines não é um homem comum, e, como tal, não lhe seria permitida essa interpretação.

O Orador: - Agradeço ao Sr. Deputado essa lisonjeira referência.

rno, podemos defender a gestão da Constituição. É evidente que falou de aspectos algo barrocos da minha exposição, mas isso deve-se, em parte, à tentativa para amenizar os debates. É facto que estamos na «Primavera», e como sabe aquilo que chama de burguesia não é inteiramente insensível a essas formas de conforto e de beleza.

O Sr. Deputado Acácio Barreiros pergunta-me se eu quero uma saciedade em que todos deixem de trabalhar. Por irónica e ridícula que pareça a hipótese que ele formula e que me imputa, não a concebo como tão inverosímil como isso. Mas eu preferiria antes uma outra fórmula, uma sociedade não, em que todos deixassem de trabalhar única: uma fórmula de trabalhar que se altere substancialmente, em que a própria natureza do trabalho deixe de ser uma natureza de trabalho escravo para ser de uma natureza de trabalho mais próximo do tipo trabalho-jogo. Suponho que a chegada a esse tipo de sociedade só é possível através de uma utopia ...

O Sr. Acácio Barreiros (UDP): - Dá-me licença que o interrompa, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Acácio Barreiros (UDP): - O Sr. Deputado disse trabalho-jogo?

Sr. Deputado: Como sabe o capital exige que haja quem tenha dinheiro e quem tenha de vender a sua força de trabalho. O que o Sr. Deputado defendeu é que todos passassem a ser capitalistas e eu pergunto: se todos deixam de trabalhar ou, no caso contrário, se passam todos a trabalhar, isto é, se se aplica o princípio quem não trabalha não come, se isso não é uma forma de socialismo? Era só urna advertência para dizer que o que o Sr. Deputado quis fazer foi demagogia e, como professor e como pretendente a catedrático a esta cadeira, está a abrir um grave precedente.

O Sr. Presidente: - Aproveito para informar o Sr. Deputado Lucas Pires que está efectivamente no seu direito de ser interrompido. Simplesmente, informo-o de que o tempo conta na sua intervenção.