O Orador: - Eu queria concluir que, no entanto, estes propósitos confessados pelo CDS não nos surpreendem de maneira nenhuma.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Claro!

O Orador: - Nós sabemos, contamos com isso, que o que determina o CDS na sua política é combater o Partido Comunista Português...

O Sr. Carlos Robalo (CDS): - Olhe que não!

O Orador: - ...e o que ele representa: a defesa da classe operária, a defesa dos trabalhadores, a defesa de todos os explorados de Portugal.

Aplausos do PCP e protestos do CDS.

Nesse sentado, não fomos, pois, surpreendidos pelas declarações do Sr. Deputado Amaro da Costa. Apenas entendíamos que não podemos deixar passar em claro a afirmação expressa aqui, na Assembleia da República, de que uma lei sobre a Reforma Agrária tem como objectivo combater, combater, aniquilar, a influência de um partido democrático em qualquer zona do território nacional.

Vozes de protesto do CDS.

Porque, para além disso, nós entendemos que o Sr. Deputado Amaro da Costa trouxe aqui importantes reflexões acerca da nossa vida política e acerca da actuação do Governo. Podemos dizer mesmo que a sinceridade do Sr. Deputado Amaro da Costa ajuda a desvendar o que está encoberto, o que se abriga na chamada «proposta de lei António Barreto».

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, tenha paciência, mas não caiu mais nenhuma cadeira...

...e não há mais argumento nenhum que justifique que o Sr. Deputado continue, pois já ultrapassou o tempo.

O Orador: - Peco-lhe, Sr. Presidente, que desconte no tempo do meu partido.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, eu não posso descontar no tempo do seu partido.

Peco-lhe, portanto, que conclua rapidamente as suas considerações.

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Como vinha sublinhando, entendamos aqui, nesta bancada, que as reflexões produzidas pelo Sr. Deputado Amaro da Costa constituem também uma importante lição para o Governo e para o Partido Socialista.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Herculano Pires (PS): - Não precisamos de lições.

O Orador: - Representam, na verdade, a afirmação da verdade nua e crua do que tem sido a actuação do Governo Socialista, do que é a História, do que são as consequências das alianças que tem realizado à direita. E de tal maneira que aquilo que o Sr. Deputado Amaro da Costa acaba de dizer permite esclarecer cabalmente que quando o meu camarada Álvaro Cunhal falava de pacto com o Diabo, era do pacto com o Partido Socialista.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - A revelação que o Sr. Deputado Carlos Brito acaba die fazer não é daquelas coisas que não pressentíssemos, mas efectivamente, que é agradável que sejam ditas e fiquem ciaras, e quando se nos propõem encontros para examinarmos em conjunto assuntos da política nacional sabemos agora o que esses encontros querem dizer.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Considerei a intervenção do Sr. Deputado José Luís Nunes como um contraprotesto.

Tem a palavra o Sr. Deputado Amaro da Costa para responder, se o desejar.

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Sr. Presidente, Srs, Deputados: Insensivelmente, a Câmara transitou de um debate naturalmente político sobre a Reforma Agrária para assuntos de demonologia, que é, como se sabe, a ciência dos demónios ou dos diabos.

Como foi matéria na qual, quer o PC quer o PS, se mostraram peritos, eu diria que o Diabo anda com certeza por essas bandas.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Já emigrou, Sr. Depurado. Já emigrou.

O Orador: - Claro que nós tínhamos nesta matéria um grave problema de teologia ascética a resolver, porque o assunto centrou-se só nos diabos, mas também há os anjos bons e, naturalmente, bem nos recordamos de uma frase, ainda não há muito tempo dita, aliás também com um recorte eclesial, segundo a qual o Partido Socialista não estaria interessado na «excomunhão» do Partido Comunista. Quer dizer, portanto, que nessa contingência o PS se arvora em anjo da guarda do PCP.

Uma voz do PS: - Seus anjinhos!

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Os possessos estão desse lado.

O Orador: - Ora, o assunto é demasiado sério, mas apenas a hora tardia em que nos encontramos me leva a introduzir- lhe uma nota de humor para que as coisas não excedam os limites do razoável. Estes têm