critérios da democracia, ele representa apenas 1 % desse mesmo povo, o que é muito pouco para poder dar lições aos outros ou erigir-se em juiz dos interesses do povo.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Passarei a seguir à intervenção do Dr. Álvaro Cunhal, feita em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, ... (Risos gerais.) Perdão, do Partido Comunista. É certo que, em sentido lato, o Dr. Álvaro Cunhal diz-se representante também do socialismo; mas o socialismo que ele defende é evidentemente muito diferente do socialismo democrático que nós, socialistas, defendemos.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - É provável que as palavras do Dr. Álvaro Cunhal tivessem surpreendido, pelo tom que usou, pelo requisitório a que procedeu quanto a uma parte desta Assembleia. Eu, infelizmente, não fiquei surpreendido e considero que o Dr. Álvaro Cunhal esta noite foi aqui, mais uma vez, fiel a si próprio; não mudou e não mudará.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Tudo, levaria a pensar, depois do seu discurso, em que começa por empregar a palavra «rejeição», que a consequência lógica de um tal discurso seria a apresentação de uma moção de rejeição. Mas, por uma pirueta final (risos), que de certa maneira é justificada pelo isolamento em que se encontra o Partido Comunista, e decerto também para conciliar as tensões internas que existem no seu partido ...

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador - ... o Dr. Álvaro Cunhal não se atreveu a usar esta palavra, a ir até ao fim do seu pensamento e a apresentar, como seria lógico, uma moção de rejeição a este Governo.

Aplausos do PS.

Falou a seguir o Dr. Álvaro Cunhal de liberdade, falou da preocupação do seu partido nas liberdades. E a verdade é que o povo português que o ouviu hoje através das câmaras da Televisão, que não tem, contrariamente, ao que ele supõe, memória curta, ...

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - ... deve ter sorrido, na sua própria consciência, no fundo de si próprio, quando ouviu um partido que arriscou conscientemente a liberdade em Portugal, que pôs em causa durante, um ano ou mais de um ano as nossas liberdades, como toda a gente sabe ...

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: -... deve ter sorrido com ironia ou com outro sentimento, que eu não desejo classificar, ao ouvi-lo fazer nesta altura o cântico da liberdade. Nós, sim, socialistas, que nos batemos no passado em favor da liberdade, ...

Vozes do PCP: - E nós não?

O Orador: -... que nos batemos depois, durante o gonçalvismo, em favor dessa mesma liberdade, temos que dizer ao Sr. Deputado Álvaro Cunhal que não aceitamos lições nessa matéria de liberdades

Vozes do PS: - Muito bem!

Prolongados aplausos do PS.

O Sr. Álvaro Cunhal (PCP): - Demos no passado, damos no presente e daremos no futuro lições ao Partido Socialista em matéria de liberdades.

Aplausos do PCP.

O Sr. Primeiro-Ministro: - Referiu-se também ...

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Isso é uma provocação!

Estabelece-se grande agitação na Assembleia e nas galerias, com violenta troca de palavras entre Deputados comunistas e Deputados socialistas.

díscolos isolados.

Pode continuar, Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: - Nós certamente não competiremos com ninguém em matéria de arruaça.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: -Dei aqui um exemplo, ao ouvir tudo e não protestar nenhuma vez nem interromper nenhum dos oradores que falou, que me criticou ou mesmo invectivou.

Vozes do PS: - Muito bem!

Aplausos do PS.

O Orador: -Espero ter, pelo menos, o mesmo direito que têm os outros Deputados.