O Sr. Vital Moreira (PCP): - Solidariedade de classe, e não da burguesia.
O Orador: - Quanto ao aparte do Sr. Deputado Vital Moreira sobre burguesia, temos de conversar das novas classes burguesas e burocráticas que assaltam o aparelho do Estado. Sabe disso melhor do que eu.
Aplausos do PS e do PSD.
O Sr. Manuel Gusmão(PCP): - Foi à China aprender isso?
O Orador: - Terceira e última pergunta: o Sr. Deputado José Luís Nunes parece cair no risco, que eu apontei mais uma vez, de ser detentor da verdade. É ou não real que acaba de afirmar na tribuna, em resposta a um aparte, que admitia o engano, mas não o erro? O Sr. Deputado José Luís Nunes é quem determina no ,mundo o que é certo e o que é errado? Isto é ou não puro maniqueísmo? Não sabe que quem julga deter a verdade absoluta está a um passo de a querer impor e, esse sim, tem em si as sementes do totalitarismo?
O Sr. Presidente: - Pode responder, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Nunes (PS): - Eu sou um conhe-
cedor das doutrinas maurrasianas, ou proeuro sê-lo,
por dois motivos. O pormenor, como o Sr. Deputado
sabe e esta Câmara não ignora, é que até aos 19 anos
eu era conservador e monárquico. É um facto que
toda a gente conhece e eu não tenho dúvidas nenhu
mas em dizê-lo. Portanto, as insinuações que se po
dem fazer sobre isso são perfeitamente descabidas e
disparatadas, qualificando quem as faz.
Vozes do PS: - Muito bem!
O Orador: - Simplesmente, como o Sr. - Deputado
Pedro Roseta sabe, dos 19 aos 35 anos fui antifascista militante, tomando parte em todos os movimentos clandestinos que houve.
Vozes do PS: - Muito bem!
O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Há o direito de duvidar.
O Orador: - Se quiserem fazer insinuações desse tipo podem faze-las, que me é indiferente, porque eu não as faço.
O Sr. Medro Roseta (PSD): - Já fez!
O Orador: - O segundo ponto da questão é saber se descentralização é sinónimo de corporativismo.
Evidentemente que descentralização não é sinónimo
de corporativismo. Mas aquilo que o Sr. Deputado Pedro Roseta julga que é descentralização é que é efectivamente, quer queira, quer não, de raiz corporativa.
Eu não critiquei a descentralização, critiquei as suas ideias e as de outros, mas especialmente as suas, que me pareceram um exemplo de corporativismo mais estruturado e acabado do que aquilo que afirmei.
O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Isso é processo de intenção.
O Orador: - Ouça, Sr. Deputado, a crítica é livre, eu tenho todo o direito de ler não só aquilo que o senhor escreve e aquilo que o senhor diz, mas sobretudo aquilo que o senhor não diz e que devia ter dito.
Risos do PSD.
Depois temos aqui uma coisa que, desculpem, eu não disse dessa forma, mas, como o Sr. Deputado resolveu picar-me, eu considero-a pura e simplesmente um disparate, e que é isto: se para mim a democracia é só centralismo democrático. A expressão «centralismo democrático», como sabe, é uma expressão historicamente situada e diz respeito a uma forma de organização dos partidos marxistas - leninistas, que pretendem que os órgãos do partido sejam todos eleitos de baixo para cima, mas que as instruções e as decisões sejam aplicadas de cima para baixo. É só isto, muito simplesmente, e sem uma série de nuances que eu não digo nem vou aqui explicar, para não cansar.
Falar em centralismo democrático em relação a um país é pura e simplesmente não saber do que se está a falar. Não existem países centralistas - democráticos em parte nenhuma.
Risos do PS.
Depois, parece ter perguntado se eu não gosto da solidariedade e se ignoro que a solidariedade faz parte dos programas sociais-democratas. Ora, eu gosto da solidariedade; simplesmente, em relação à solidariedade, há duas espécies a considerar: ou integrada em todo o espírito desses programas e como elemento essencial deles, ou fazer como faz o Sr. Deputado Pedro Roseta, que faz o discurso da solidariedade com o mesmo nível intelectual da «redacção da Guidinha».
Risos do PS e PCP.
O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Mas que nível! Isto é uma resposta?
O Sr. Pedra Roseto (PSD): - Quem é que esqueceu?
O Orador. - Quando não nos referimos a eles e estão tão recônditos na consciência que as pessoas se esquecem deles ou não os tomam habitualmente como ponto de referência ...