A Casa Bancária Mendes Godinho e Filhos, fundada em 1917 ou 1918 - está aí, no PS, um representante da Casa Mendes Godinho que talvez me pudesse ajudar- e canalizadora das poupanças regionais e dos depósitos dos emigrantes da região, foi extinta e integrada num banco comercial. Enfim! ...

A emigração roubou e continua a roubar milhares de braços que não encontram resposta no mercado de trabalho local.

As aldeias vizinhas estão despovoadas, as casas em ruínas, os caminhos desertos. Dos 90 000 contos ...

Vozes do PS: - Ei! ...

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Creio que essa manifestação não é oportuna. Permito-me lembrar-lhes o decoro devido à Assembleia e ao nosso colega que está no uso da palavra.

O Orador: - Sr. Presidente: Eu teria imenso prazer em responder.

O Sr. Presidente:- Não responde, Sr,. Deputado. V. Ex.ª deve continuar a proferir o seu discurso.

O Orador:- Na verdade, as gargalhadas, já outro dia me referi a elas, são o sintoma deste país, que gargalha muito, mas que pensa pouco, como dizia há tempos o Dr. Basílio Horta.

O Sr. Andrade Neves (PS): - Bom mestre!

O Orador: - Dos 90 000 contos arrecadados anualmente pelo Fisco n.º concelho de Tomar só 5 % são aplicados directamente nesta região, revertendo o resto em favor da rebaldaria política com sede em Lisboa, e onde os Srs. Deputados continuam a rir, o que é muito grave.

Uma voz do PS: - Ah! ah! ah!

O Orador:- Ria, Sr. Deputado, que irá longe.

Esta é bem a imagem do regionalismo possível em Portugal e da descentralização: mandem-nos o vosso dinheiro e resolvam vocês os vossos problemas, é e foi sempre esta a palavra de ordem do Governo de Lisboa.

Descentraliza-se para resolver as questões, mas não se deixa descentralizar quando toca a receber.

A iniciativa viu anular por completo as suas possibilidades de actuação, especialmente coarctadas por um conjunto de funcionários públicos incapaz de responder numa linha comercial que já não é sua.

Infelizmente, esta perda não foi só de Tomar, mas de todo o País. E é triste constatar que o homem português desconhece ainda hoje a região em que vive, desconhece os costumes que nela se praticam, desconhece as riquezas artísticas e culturais que tem muitas vezes a dois passos da casa onde mora.

O Sr. Lino Lima (PCP): - Gostam de turismo! ...

O Orador: - Tem razão. Os turistas que procuravam a região aos milhares debandaram como por encanto nos dois últimos anos.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: O espírito regionalista e descentralizador é incompatível com a pilhagem e com o reflexo das asneiras e da incompetência que descaradamente se passeiam por esta Lisboa.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado: Desculpe interrompê-lo. É para lhe lembrar que falta um minuto.

O Orador:- Sr. Presidente: Terminarei, com todo o prazer, dentro de três segundos.

Não basta dizer que Lisboa governa! É preciso governar de facto! Tratando a província em pé de igualdade e respeitando e amparando os seus valores humanos, artísticos e culturais!

Tenho dito.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Borges Nunes.

O Sr. Borges Nunes (PS): - St. Presidente, Srs. Deputados: Quem faz o que pode faz o que deve. Com esta expressão do grande poeta português Miguel Torga uso da palavra, pela primeira vez, na Assembleia da República Portuguesa, onde me encontro no cumprimento de mandato resultante do voto expresso e livre que aos Portugueses foi facultado, pelo movimento dos capitães de Abril de 1974.

A Revolução de Abril, porém, esteve à beira de se perverter, não fora a acção esclarecida dos militares que, em Novembro do ano passado, a repuseram, permitindo a conclusão do estatuto fundamental da Nação e, consequentemente, a nossa presença nesta Câmara como representantes do povo que somos e queremos continuar a ser.

Ilhéu, sou socialista, quero o socialismo em liberdade, o socialismo para que inequivocamente aponta a nossa Constituição.

Eleito pelo círculo eleitoral de Angra do Heroísmo, centro geográfico do arquipélago dos Açores. Da terra duas vezes capital do País e onde te, sem subterfúgios, o problema real que neste momento os Açores são.

Por mais que isso pese a alguém, não parece estar a acontecer.