fizessem pouco mais do que babarem-se perante essa beldade nortenha, retirando-se após, a caminho de Lisboa, com a saca dos impostos que nunca tiveram a compensação que a Viana distrito era devida. Despertá-la para a vida, para o progresso, riqueza e bem-estar dos seus cerca de 300000 habitantes, isso nunca foi coisa que preocupasse demasiado os donos deste país.

Daí que, de uma terra condenada a sobreviver penosamente à custa exclusiva de uma agricultura de minifúndio, fabricada, em vastas zonas, nos socalcos pendurados das encostas da serra e apoiada em processos os mais primitivos, os homens válidos para a labuta e que não se resignaram à ideia de ver os seus filhos na miséria houvessem arrancado, em êxodos maciços e em rasgos de audácia, a caminho do mundo, para venderem na estranja a sua força e a sua capacidade a quem lhes proporcionasse a casa e o pão que a sua própria pátria lhes negou.

Mas, se ontem ora pobre a agricultura e essa pobreza afugentou os homens de braços hercúleos, deixando quase ermadas certas zonas, o povo teme hoje que mais pobre ainda se haja de tornar face aos factos que se enumeram: a) ausência de um crédito agrícola comportável nos seus encargos; b) ausência de um seguro agrícola tranquilizante; c) falta de uma política de fixação de preços justos ao produtor; d) falta de mecanismos de comercialização que assegurem a colocação dos produtos; e) ausência de apoio técnico efectivo, e f) o recente agravamento de custo dos fertilizantes, sementes e transportes, atitude incrível por asfixiante das iniciativas do homem dos campos do Norte, um dos mais esforçados e diligentes trabalhadores deste país, sem horários nem semanas inglesas, sem férias pagas ou mesmo gratuitas, sem 13.º mês, a não ser o que lhes é pago em títulos de pobreza, sem previdência nem reformas de velhice, sem assistência médica e medicamentosa, ao menos em pé de igualdade com os autodenominados "trabalhadores" dias privilegiadas cinturas industriais, aqueles para quem os objectivos da revolução de Abril parecem esgotar-se no círculo do seu egoísmo.

Tudo isto será ainda mais grave, na medida em que o sacrifício, o suor e as lágrimas desses homens que trabalham nos campos do Norte venham a ser abocanhados pelos parasitas profissionais de manifestações, de plenários permanentes nas horas de trabalho e fora delas, ou "bocanhantes" de rua e esganiçados de ocasião, que mais não são do que inconscientes bonecos articulados por conhecidas forças alérgicas à democracia.

Como mandatário de um campesinato pobre que me elegeu e de que tenho a honra de ser filho, é meu dever - e nunca o declinarei - ser aqui o seu corpo e a sua voz. Voz que neste momento se ergue para protestar contra a situação de flagrante injustiça social a que sempre foi e continua votada aquela terra onde Portugal começa e onde Portugal recusará a morte.

Vozes do PSD:- Muito bem!

O Sr. Jaime Gama (PS): - Bravo!

O Orador:- Quero aqui proclamar em voz bem alta, bem clara e sem eufemismos que, se a tragédia económica um dia se consumar, não haverá, para os responsáveis, arrependimento que lhes baste. E não se veja nisto uma ameaça ou incentivo a populismos fáceis - que repudio- , mas tão-somente o eco da voz de um povo que, sacrificado no trabalho e paciente no esperar, nem por isso deixará de se erguer resoluto e forte contra quem, demagogicamente, ousou enganá-lo.

De promessas está o povo' farto; de sentimentalismos face aos seus problemas, também; de excursões governamentais eleitoralistas, não menos. O que exige, isso não à regionalização!, são realizações efectivas, concretas, ao menos naquilo que, sendo básico para a sua sobrevivência, é, por isso mesmo, de prioridade absoluta.

Verifica-se no distrito de Viana do Castelo e na sua área económica uma assimetria que importa corrigir, se não integralmente, procurando, ao menos, aproximar do centro do quadrante aferidor o fiel cinquenta e uma freguesias alcandoradas, quase todas, pela serra, tem de vencer dezenas de quilómetros através da montanha, sem caminho nem carreiro para atingir o consultório de um médico na sede do concelho, onde também não há um hospital digno deste nome.

Ao concelho de Melgaço valem os médicos e hospitais de Espanha. É por asso, e pelo ostracismo a que tem sido votada, que a população do mais nortenho concelho do País ergue a sua voz a protestar contra a notícia recentemente posta a correr, e, ao