93.º da Constituição diz que cabe à Assembleia definir as grandes opções, eu queria saber como é que o Sr. Deputado concilia as afirmações que fez com a leitura da Constituição.

O segundo ponto que eu queria esclarecer é o seguinte: o Sr. Deputado diz que traduz uma óptica seguidista o facto de o Governo ir repor em execução e incluir no Plano projectos em curso. Eu pergunto se o Sr. Deputado acha que os planos são criticáveis e falíveis só pelo simples facto de serem projectos já em curso.

O terceiro pedido de esclarecimento e relativo à contribuição industrial, que o Sr. Deputado disse, e bem. que passava de 4 milhões de contos e que corresponderia a um aumento de 100%. Queria perguntar ao Sr. Deputado de desconhece que os 4 milhões de contos que estão inscritos como previsão para imposto - e que efectivamente representam, em relação à estimativa da cobrança de 1976, um aumento de 100% - representam a soma das cobranças relativas aos lucros formados em 1975 adiadas para o próximo ano e da primeira parcela das cobranças respeitantes ao lucro de 1976, para além de um adicional -que tem um carácter (transitório, como tinha dito o Sr. Ministro das Finanças - de 10% que recai sobre a contribuição industrial.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Sousa Marques, também para pedir esclarecimentos.

O Sr. Bento Gonçalves (PSD): - Não era mau!

O Orador: - No entanto, gostava de lhe dizer, Sr. Deputado, que esses preconceitos contra as cinturas industriais são eles próprios desmentidos pelos relatórios oficiais, inclusivamente do MIT, do qual lhe posso fornecer algumas cópias.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Ângelo Correia para responder, se assim o entender.

O Sr. Angelo Correia (PSD): - Eu começaria, se os Deputados do Partido Socialista não me levam a mal, de trás para a frente. Começaria, portanto, pelo Sr. Deputado do Partido Comunista Português e por lhe dizer que o Sr. Deputado está ligeiramente equivocado. É que nós não somos contra o industrialismo: somos e contra a ideia de cintura, o que é um pouco diferente.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Especialmente quando se trata de apertar o cinto ao capital!...

O Orador: - Bem, entenda-se a cintura no sentido em que o Sr. Deputado Sousa Marques a empregou.

Quando o Sr. Deputado referiu a questão de a siderurgia poder ser como que uma alternativa na ilha do Pico ou no Marão, registo com alguma perplexidade que o Sr. Deputado se concentrou em zonas montanhosas e não vejo como é que isso joga em termos marxistas.

Vejo, pelo contrário, que o Sr. Deputado não conseguiu separar duas coisas completamente diferentes: uma é o investimento concreto que é o plano siderúrgico e a outra é uma política global que integra siderurgias mas integra outras indústrias também.

Quando referi o plano siderúrgico, em termos de citação, fi-lo nos precisos termos em que o Governo o apresentou, isto é, como alternativa localizada na margem sul do Tejo. Essa alternativa, para nós, e relativamente indiscutível, pois concordamos que tecnicamente, sob o ponto de vista de viabilidade, seja lá. Simplesmente, referir só a siderurgia e esquecer todo um conjunto de investimentos industriais, isso é fazer aquilo com que o Sr. Deputado há pouco criticou um Deputado do Partido Socialista, que é, no fundo, tomar uma parte pelo todo. E o que nós queremos discutir é uma política global e industrial, e não uma política de siderurgia nacional.

Em relação aos Deputados do Partido Socialista e começando pelo Sr. Deputado António Guterres, eu não vou qualificar a sua intervenção inicial, já que me parece, acima de tudo, descabida numa altura em que estamos a discutir problemas extremamente graves e difíceis.

Quero apenas referir o seguinte: eu referi e disse, não que o Governo do Partido Socialista estava a ser quente ou frio, mas apenas que o Governo tinha de optar por uma ou outra posição. E quando eu o fiz, em termos pictóricos, significa que o Governo tem de optar por uma posição que aponte ou por uma integração europeia, com as situações decorrentes dessa integração europeia, ou então provoca um modelo socialista no sentido colectivista. Ora a verdade é que. optando o Governo, neste momento, por uma política que não é uma coisa nem outra, mas antes se pretende original por possuir elementos de uma ou de outra, a verdade é que não chegamos a lado nenhum - nem o Governo nem os Portugueses.