O Orador: - Eu disse isto, repeti-o e, portanto, acreditando profundamente na honestidade da sua pergunta...
Risos do Sr. Deputado Vital Moreira.
...não se ria, Sr. Deputado. Fica muito engraçado a rir-se, mas não se ria.
Risos gerais.
O Sr. Presidente: - Agora entramos no capítulo dos piropos!...
O Orador: - É que o Sr. Deputado ainda não conseguiu perceber uma coisa: nós recusamo-nos - mas recusamo-nos terminantemente, e meta isto bem na sua cabeça- a acreditar que haja pessoas, ou que haja partidos, ou que haja classes detentoras da justiça, do direito e da verdade em todas as circunstâncias. Isto não acontece. Sr. Deputado. Abra os olhos, enquanto é tempo!
Risos gerais.
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Sr. Deputado Nuno Abecassis: Se nessa bancada onde está sentado estivesse sozinho, eu acreditaria que haveria o risco de ser acreditado.
O Sr. Macedo Pereira (CDS): - Essa é muito boa!
O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Isso é uma provocação!
O Orador:-Sr. Deputado, eu não vou mandar calar os «meninos» do CDS...
O Sr. Presidente: - Isto afinal não é um Parlamento, isto é um infantário!
Risos gerais.
Mas é uma boa altura de tomarmos isto um pouco mais a sério.
O Sr. Vital Moreira (PCP): - O Sr. Deputado Nuno Abecassis dá-me licença?
O Sr. Nuno Abecassis (CDS): - Faz favor, Sr. Deputado, com todo o prazer.
O Sr. Vital Moreira (PCP):-Sr. Deputado, há bocado, quando pedi para o interromper, era apenas para lhe dizer o seguinte: o Sr. Deputado sentiu-se na necessidade óbvia, é evidente, de provar, perante a Assembleia, aquilo que seria difícil de acreditar, isto é, que era trabalhador. Felizmente, os Deputados do PCP não precisam de provar isso, por alguma razão.
De qualquer modo, sabe o Sr. Deputado que outra das características do discurso secular e universal do capital é de falar sempre em nome dos trabalhadores.
O Sr. Nuno Abecassis (CDS): -Sr. Presidente: Penso que estou ainda no uso da palavra, visto ter sido uma interrupção.
O Sr. Presidente: - Com certeza!
O Sr. Nuno Abecassis (CDS): - Sr. Deputado Vital Moreira: Eu devo dizer-lhe uma coisa, e tenho muito prazer em dizer isto, pela primeira vez nesta Assembleia embora esteja convencido de que todos os Deputados que aqui estão o conhecem suficientemente: eu entrei uma vez por engano num partido; e quando constatei que estava enganado eu saí desse partido partindo a louça toda. Esse partido chamava-se Partido da Democracia Cristã.
Mas o que pode ter a certeza é que eu sei aprender com os erros que faço.
O Sr. Carlos Brito (PCP): - Esperamos que assim seja!
O Orador - E quando saí desse partido e entrei noutro, pode ter a certeza de que no dia em que eu verificasse que as minhas ideias não coincidiam com as ideias do partido em que estou eu também não sairia sem partir a louça toda.
Uma voz do PCP: - Olhe que pode estar enganado na porta!
O Orador: - Os meus colegas, nesta bancada, sabem-no bem. E penso que a atenção que dão àquilo que eu digo e o apoio que me dão, como o apoio que eu lhes dou, é uma garantia suficiente de que não pode haver essa dissociação entre o Deputado Nuno Abecassis e o partido em que ele está.
Eu não sei se o Sr. Deputado Vital Moreira poderá dizer a mesma coisa no seu partido, mas aqui pode ter a certeza de que não há.
O Sr. Basílio Horta (CDS): -No PCP talvez haja! O Sr. Vital Moreira (PCP):-Não há, não!
O Orador: - Eu não sei se me tinha feito qualquer outra pergunta.
O Sr. Presidente: - Não fez, não, Sr. Deputado. O Orador: - Então muito obrigado.
O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, foi-me lembrada - e faço-o com gosto, embora com melancolia- a romagem do próximo domingo, pelas 15 horas e 30 minutos, no Cemitério dos Prazeres, ao túmulo do general Humberto Delgado porque faz anos que foi assassinado.
A nossa ordem de trabalhos para a próxima sessão é a continuação deste debate, sendo a segunda parte constituída pelo problema da ratificação do decreto-lei sobre o Instituto de António Sérgio.
Está encerrada a sessão.
Eram 18 horas e 15 minutos.