isso, haverá resistência às medidas tornadas, que obrigam ao sacrifício esclarecido e consciente, e então elas não teriam êxito, comprometendo a democracia e o bem-estar, presente ou futuro, dos Portugueses. O problema da política económica é hoje, mais do que nunca, o problema número um da nossa democracia.

Num país que longos anos viveu de mitos monetários e financeiros, o modo como foi apresentado o problema da desvalorização parece-nos pouco feliz. Ao pronunciar-nos pela desvalorização sempre tivemos em conta que não era patriótico, na situação portuguesa, pôr em dúvida a confiança externa na moeda nacional. Sabemos que a desvalorização há pouco feita é causa de grandes sacrifícios para os Portugueses e foi imposta rala acomodação a uma catastrófica situação de desequilíbrio do comércio externo. Mas, se partilhamos algumas das dúvidas que muitas vezes o Governo teve quanto à conveniência e oportunidade dessa medida e se entendemos que a passagem da desvalorização deslisante para uma desvalorização brusca, porventura de maior montante, melhor poderia ter ocorrido no passado (talvez em Agosto) com algumas outras das medidas agora tomadas, aceitamos o reajustamento agora feito da paridade do escudo. Outro remédio não havia neste momento, face à deterioração cambial, ao agravamento do défice da balança de pagamentos e à especulação. Por isso mesmo, e porque se criou em Portugal, tanto sob a ditadura de direita como em períodos conturbados da Revolução, a ideia de que a desvalorização seria como que um atentado contra a moeda nacional, entendemos que cumpre desdramatizá-la. Ora, a forma como o Governo conduziu todo o assunto ajudou afinal a manter o culto idolátrico da moeda forte e a não considerar aquilo que nem mais nem menos a desvalorização é: uma, como as outras medidas de restrição importante mais pelo encarecimento de preços que provoca e pela situação de' que deriva do que pelo sacrílego atentado à ortodoxia monetária que representaria. A desvalorização é um dos aspectos de um programa de austeridade e uma consequência do desequilíbrio externo da economia. Só isso e nada mais. Interessa-os mais o conjunto de medidas em que o problema se insere, para avaliarmos em que consiste, e se é errado ou está certo.

Temos confiança em que o reajustamento da paridade do escudo e o novo sistema de fixação das cotações garantirão de futuro a estabilidade que no caso do escudo é bem de desejar. Mas gostaríamos de saber se para isso o Governo considerou suficiente o presente ajustamento, ou se reduziu o montante da desvalorização necessária para defender o poder de compra dos consumidores e competitividade das indústrias que laboram com matérias-primas de origem estrangeira (sem falar agora da energia importada); como gostaríamos de conhecer as medidas complementares que o Governo tomou para lutar contra a especulação cambial.

O conjunto de medidas agora tomado visa mais, em nosso entender, a austeridade do que o relançamento ou a recuperação da economia. De novo, como sucede um pouco por todo o mundo, se nos anuncia um programa de austeridade, de cuja necessidade ninguém de recta intenção duvidará na crise económica em que nos encontramos. O nosso apoio de princípio às medidas de austeridade e seus critérios ficou expresso, por exemplo, na declaração que eu próprio aqui fiz em Dezembro: «Somos pela austeridade, mas rejeitá-la-emos sempre que agravar as injustiças, quando não se enquadrar num planeamento global e coerente tendente a vencer a crise, se for tomada como um fim em si mesma ou quando for apenas uma maneira de expandir o consumo público à custa do consumo privado.»

Vozes do PSID: - Muito bem!

portuguesa tal como é, ou uma economia sonhada, optimista, desejada, quase lunar? Vemos nisto apenas a confirmação das nossas críticas à inadequação do Plano para 1977 e a justificação dos motivos por que rejeitámos o seu conteúdo. Mas como explica, o Governo que aderindo afinal hoje à tese, que nós então propusemos, de um programa de emergência, e aderindo à análise, que chamou pessimista, que fazíamos da nossa economia, venha fazer o contrário do que encarava, com excessivo optimismo, em Dezembro, e se veja forçado a caracterizar a situação económica ao invés do que então disse? Mudou tanto Portugal nestes dois meses?

Passemos, porém, adiante. A situação é esta, e é grave, como sempre temos dito. Não culparemos só