de lhe perguntar se sabe que a descrença não existiu depois do 25 de Abril, mas sim antes, lembrando-lhe até que os lavradores deixaram de entregar os seus produtos ao Cachão por que o Cachão não pagava.
O Sr. Presidente: - Pode responder, se assim o desejar, Sr. Deputado Rui Marrana.
O Sr. Rui Marrana (CDS): - Com muito gosto, Sr. Presidente.
Sr. Deputado Francisco Martins, quanto à questão que me pôs sobre o lagar de azeite, tenho a dizer-lhe que afirmei na minha intervenção que, para a época,
era um lagar sofisticado. Evidentemente que tudo quanto é equipamento vai evoluindo, até o equipa mento agrícola também evoluiu, porque, se não evoluísse, hoje não utilizaríamos tractores e ainda continuaríamos com os arados fenícios ou romanos.
Quanto à sua observação sobre a dívida do Engenheiro Camilo de Mendonça, eu gostaria que o Sr. Deputado me dissesse qual era ela. Eu sei perfeitamente que o Sr. Engenheiro Camilo de Mendonça, além de ter dado ao Cachão todo o seu esforço e todo o seu entusiasmo, nunca recebeu ordenado do Cachão, ao contrário do que se passa com as actuais comissões administrativas, que, ao que consta e sei,
recebem hoje 5% do chiffre d'affaires do Cachão. É com isto que se paga essa comissão administrativa após o 25 de Abril, o que faz uma diferença bastante
Quanto ao problema da exportação, o Sr. Deputado citou talvez todos os seus defeitos. Sobre isso tenho a dizer que numa obra industrial há muito que aprender, há muito que errar para se acertar, e se o Sr. Deputado nunca errou dou-lhe os meus parabéns, porque tenho a impressão de que todos os que aqui
estamos devemos ter errado, principalmente em experiências industriais desconhecidas em Portugal, sobre tudo na transformação de produtos agrícolas, onde - se ouviu com atenção, deve ter notado -, como eu disse, a tecnologia foi bastante difícil de se conseguir. Precisamente aí deve ter havido erros.
Mas o Sr. Deputado citou uma única coisa: a castanha que apodreceu. Efectivamente, desconhecia que tivesse apodrecido castanha, mas se em nossa casa, numa época de austeridade, também apodrecem batatas...
O Sr. Francisco Martins (PS): - Dá-me ]licença que o mt«rompa, Sr Deputado?
O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Francisco Martins (PS): - É que não foi só a castanha que apodreceu, Sr. Deputado. Esse foi também o caso da azeitona, que, como toda a gente alí da zona e de todo o Nordeste sabe, se deixou estragar nas barricas.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Rui Marrana, peço-lhe que acabe de responder ao pedido de esclarecimento sintetizando a resposta o mais que puder.
O Sr. Rui Marrana (CDS): - Com certeza, Sr. Presidente.
Sr. Deputado, como lhe estava a dizer, é muito provável que tenha havido desperdícios, até porque eu disse mesmo que em nossas casas também os há. Além disso, até já houve um Ministro deste Governo que nos aconselhou a guardar os restos das refeições para não haver desperdícios. Ora isso é sinal de que o próprio Governo socialista admite que há desperdícios em nossas casas. Portanto, numa instalação industrial deverá haver bastantes mais desperdícios.
Sobre a questão da exportação, lembro ao Sr. Deputado que se fez bastante exportação, nomeadamente de cereja. Se o Sr. Deputado é da região - o que acontece -, é de certo conhecedor do complexo agro-industrial do Cachão e também deve saber perfeitamente que a exportação de cereja em Portugal nunca se tinha feito e que se começou a fazer a partir do empreendimento do Cachão. Essa cereja foi em quantidades tais que motivou a plantação do maior pomar de cereja dest e país, que hoje preenche 70 hectares, e esses 70 hectares, só por si são razão para uma instalação industrial de transformação de cereja.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, peço-lhe o favor de concluir as suas considerações.
O Orador: - Estou quase a fazê-lo, Sr. Presidente.
Quanto à descrença no complexo do Cachão, diz o Sr. Deputado que ela existia antes do 25 de Abril e que deixou de existir depois do 25 de Abril. Sobre isso digo-lhe que, se antes do 25 de Abril não pagaram aos lavradores, depois do 25 de Abril isso muito menos se faz.
O Sr. Presidente: - Vamos passar ao período da ordem do dia.
O Sr. Deputado Santos Barros está presente?
Pausa
É porque se encontra na Mesa um pedido de autorização para que o Sr. Deputado deponha como testemunha no 4.º Juízo de Instrução Criminal.