O Sr. António Macedo (PS): - É o cúmulo da ordinariçe. Nunca ouvi coisa mais ordinária.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Macedo, peço a V. Ex.ª o obséquio de deixar o orador proceder à leitura do seu discurso. V. Ex.ª terá oportunidade, depois, de fazer os comentários que entender ou de fazer os protestos que julgar pertinentes, mas o orador tem o direito de se fazer ouvir.

O Sr. António Macedo (PS): -Mas não tem o direito de ser ordinário.

Protestos do PSD.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Macedo, chamo mais uma vez a sua atenção para a necessidade de deixar ouvir o orador, porque ele testa a exercer um direito e V. Ex.ª não se lhe pode dirigir nos termos em que o fez.

Queira continuar, Sr. Deputado Gabriel da Frada.

O Sr. António Macedo (PS): - Tenho a consciência do que digo.

O Orador: - Esta actuação governamental em relação aos órgãos de comunicação social estatizados, além de violentar profundamente a democracia, está a afundar o País num mar de desconfiança e de pessimismo.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Que se pretende afinal? Salvar o Governo? Salvar o Partido Socialista?

Não se salva o Governo. Nem o mistério nem as subtilezas permitem o surto do entusiasmo colectivo necessário às transformações que se impõem. Mal vai um Governo quando, para resolver problemas inesperados, se julga no direito de controlar a informação, directa ou indirectamente...

Vozes do PS: - É falso!

O Orador: - ..., de não aceitar o diálogo...

Vozes do PS: - É falso!

O Orador:. - ..., porque está a privar-se dos getimes de evolução que são naturais e necessários. O Governo salva-se se, revelando os obstáculos e dificuldades, conseguir a adesão de todos os portugueses. As dificuldades são sadias para os governos competentes e verdadeiramente postos ao serviço do povo, porque, quando se vencem, se desagua no futuro. Ficar no mito da união, propagandeado por uma informação de cunho partidário, só convém aos poderes indecisos, como álibi para a sua impotência em criar o futuro da colectividade.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. António Macedo (PS): - Batam palmas! Palminhas!

O Orador: - Não se salva o Partido Qualquer sociólogo político, analisando os resultados eleitorais, chega facilmente à conclusão de que a principal força eleitoral do Partido Socialista está na classe média dos grandes centros urbanos.

Risos do PS.

Como revelam diversas investigações, as classes médias são classes novas, sem tradição e sem inserção definida. São por isso as classes mais permeáveis à influência dos órgãos de comunicação social.

Risos do PS.

Essa influência será tanto maior quanto maior a unanimidade na informação, quanto maior a convicção de que pertencem a um numeroso e poderoso grupo. Mas se é a necessidade de manter este eleitorado unido como força de apoio ao Partido Socialista que leva o Governo a adoptar esta política de informação, esta também falha e não salva o Partido Socialista.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, queira concluir porque já esgotou o seu tempo.

O Sr. António Macedo (PS): - Deixe-o falar, Sr. Presidente. Deixe-o dizer asneiras, pois ele está todo feliz.

O Orador: - Só mais uns minutos, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Então tenha a bondade Sr. Deputado.

O Orador: - Esquece-se ou ignora-se uma outra característica importante da classe média: a sua instabilidade. Ë uma massa que se deixa envolver facilmente por ideias totalitárias quando é ameaçada pela miséria e proletarização. E a nossa classe média, graças às dificuldades económicas sobejamente conhecidas, está seriamente ameaçada. A doença totalitária só é possível ser tratada preparando cidadãos responsáveis e não autómatos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Gomes Carneiro (PS): - Vai falar à Barricada.

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É justo saudar aqui todos os trabalhadores da comunicação social e são muitos que têm lutado pela dignificação da sua profissão e têm resistido à tentação de, para obter benesses, se transformarem em repetidores dos «fadinhos choradinhos» cantados ou assobiados pelos detentores do Poder.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Termino...

Vozes do PS: - Já?!

O Orador: - ... com as palavras de Saint-Exupéry: «Não quero mal aos que preferem as canções ordinárias dos restaurantes baratos. Eles não conhecem