Em que consiste então o voto de confiança que vos solicito? Em dois pontos apenas e muito simples:

1.º Deve ou não manter-se o Governo de que sou Primeiro-Ministro? (Notem: o que está em causa não é o Governo na sua actual composição, visto que a continuar seria reestruturado, mas a fórmula utilizada e o seu principal responsável).

O Sr. Costa Moreira (PS): - Muito bem!

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Não solicitou os votos de ninguém. Não realizou acordos secretos com nenhum partido. Os Srs. Deputados votarão em consciência...

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - ... e a vossa decisão será acatada por nós, com serenidade e confiança, qualquer que seja. Acreditamos no povo português e nas virtualidades da nossa jovem democracia. Acima de tudo, é a democracia que interessa preservar para bem de Portugal.

Aplausos do PS e dos membros do Governo.

O Sr. Presidente: - Srs. Membros do Governo e Srs. Deputados, a Mesa aguarda inscrições para a formulação de pedidos de esclarecimento ao Sr. Primeiro-Ministro. Como sabem, podem pedir a palavra para qualquer efeito, quer para intervenções de fundo quer para solicitar esclarecimentos ou explicações. O tempo atribuído aos partidos foi-o de uma forma global: a Mesa apenas irá informando, de quando em vez, qual o tempo de que ainda dispõem. Inscreveu-se até este momento o Sr. Deputado Magalhães Mota. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Magalhães Mota (PSD): - É para um prottesto, Sr. Presidente.

Risos do PS.

O Sr. Presidente: - Queira fazê-lo, Sr. Deputado.

O Sr. Magalhães Mota (PSD): - Neste debate está em causa uma moção de confiança, todos o sabemos, mas talvez seja importante principiar por sublinhá-lo, na medida em que a moção de confiança significa que é o Governo, exclusivamente o Governo, quem vem sujeitar-se ao voto desta Assembleia. Quer dizer que é o comportamento do Governo e só ele, que está em causa. É o Governo quem é apreciado por esta Assembleia, não é o Governo quem tem de apreciar o trabalho desta Assembleia.

O Sr. Salgado Zenha (PS): - Era o que faltava!...

O Orador: - Não é o Governo quem tem de apreciar a acção de cada um dos partidos que a compõem, nem é o Governo quem tem de vir aqui acusar qualquer comportamento partidário.

Aplausos do PSD.

O Governo, diga-se o que se disser, também ele chegou à conclusão de que essa confiança era necessária. Isso quer dizer que o Governo sentiu a consciência de que é minoritário e de que precisa, de uma por todas, de o esclarecer. Mas, se assim é, é importante que nesse esclarecimento se não confundam falsas questões, é importante que sejam apenas as questões que fundamentam essa confiança que estejam em causa. E é importante, acima de tudo que o debate decorra, sempre, desde o primeiro momento, com aquele respeito pelo futuro que a confiança implica, que parte e passa pelo respeito próprio e pelo respeito pelos outros.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Herculano Pires (PS): - É óbvio!

O Orador: - Mais do que um protesto, este é também um apelo que, e acima de tudo, é também uma experiência.

Aqui o disse, no Parlamento português, José Estêvão. Porque a tolerância não se pede, exige-se.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Porque a democracia passa pelo respeito pelos outros, porque a democracia é, acima de tudo, o assumir responsabilidades próprias, em vez