Por esta política de acalmia e cooperação o CDS nada recebeu em troca: nenhuma actuação parlamentar comum, nenhuma cooperação legislativa, nenhuma colaboração específica nas autarquias locais.

Problemas concretos que pusemos ao Governo, como, por exemplo, a situação de alguns militantes do CDS irregularmente saneados, apenas por motivos da sua filiação partidária, não obtiveram qualquer solução. E quando, no mesmo período, a propósito de leis fundamentais em discussão nesta Assembleia, como a lei de delimitação dos sectores público e privado, o CDS apelou uma, duas e três vezes junto do Governo, não para que nos desse razão, não para que chegasse connosco a acordo, mas simplesmente para que ouvisse a exposição de alguns pontos de vista nossos, tudo quanto o CDS encontrou da parte do Governo foi um muro de indiferença, de passividade e de silêncio.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - As esperanças postas na possibilidade de uma cooperação bilateral frutuosa com o Governo morreram. E como se deu o caso de os meses de Março e Abril serem caracterizados por uma escassísima acção governativa, por uma descontrolada alta do custo da vida e por um assustador aumento da criminalidade, o CDS subiu de tom, endureceu a sua linha de actuação e não poupou o Governo a críticas, aliás fundadas.

O descontentamento popular aumentou muito. Dele se fez eco o próprio Presidente da República, no discurso que em 25 de Abril veio proferir a S. Bento. Aqui lançou um apelo para que fosse procurada entre os partidos uma plataforma programática, capaz de permitir alcançar uma ampla base social e parlamentar de apoio às tarefas da reconstrução nacional. O CDS respondeu positivamente e, em 5 de Maio, propôs mesmo encontros entre os partidos democráticos para dar efectivação à ideia presidencial. O PSD reagiu do mesmo modo. O Governo e o PS, porém, recusaram.

suspenso.

Ao CDS afigurou-se que era chegado o momento de promover uma clarificação definitiva da vida política portuguesa; que era necessário saber ao certo se o Governo aceitava, ou não a ideia duma plataforma; e que não era possível protelar indefinidamente a resolução da situação económica e financeira, em deterioração constante e acentuada. E foi assim que, reunida em Viana do Castelo em 25 de Setembro, a nossa comissão política tomou as seguintes importantes deliberações:

O CDS continua partidário de um governo da maioria presidencial; atendendo, porém, a que o PS mantém a sua recusa de entrar em coligações, o CDS está disposto a encarar a hipótese de conceder apoio a um Governo PS com independentes, desde que se verifiquem as seguintes condições:

Celebração de uma plataforma programática entre PS, PSD e CDS;

Constituição de um novo governo (o II Governo Constitucional), com novo programa;

Adopção de uma nova política económica e financeira;

Assinatura de um pacto social entre o Governo e os partidos políticos;

As negociações deverão ser feitos e ficar concluídas no prazo de dois meses e se até fins de Novembro não houver expectativas sérias de acordo tripartido, o CDS apresentaria uma moção de censura ao Governo, a menos que este solicite, ele mesmo, um voto de confiança.

De novo, como se vê, o CDS deu uma prova evidente de boa vontade; de novo se dispôs a contribuir para uma solução razoável da crise; de novo sacrificou

legítimos direitos próprios para criar condições de acordo viável com os demais.